Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Quanto mais observo e escuto o que se passa à minha volta, mais me convenço ser verdade algo que há poucas semanas me foi dito cara a cara, olhos nos olhos - tu se calhar, estás mais próximo da verdadeira liberdade do que qualquer outra pessoa que conheça.

Sempre pensei exactamente o contrário. Sempre achei que era muito mais prisioneiro de paixões e sonhos do que própriamente em liberdade para o que fosse. Nada se consegue comparar quando nos colocam na posição de secundário em relação a animais de estimação, porque somos incapazes de, mesmo que por segundos, agir ou reagir como pretendem que assim seja.

 

Mas, se calhar em alguma volta mais escarpada, perdi a noção dessa liberdade. E para isso, se calhar alguém será necessário para me alertar  deste facto. Talvez eu seja realmente livre; não totalmente, porque essa canção de absoluta libertação só pela morte chega. Mas o mais livre possivel. E porque não? Se desde muito cedo deixei de acreditar em profetas ou em livros de profecias. Pode ser que a libertação seja o meu ardor por ganhar dinheiro e gasta-lo em expêriências, como nadar junto aos golfinhos, olhar o lobo mais negro que possa imaginar nos olhos e sentir-lhe o arfar quente no rosto.

Creio que a liberdade pessoal é algo bem mais precisoso do que muitos imaginam. Dói e faz sofrer, tanto fisica como mentalmente. Raramente é aceite e muito menos compreendido pelos que me rodeiam. Vive-se com uma extrema intensidade. Essa intensidade assusta os que não aceitam, mas para mim é viciante. É poder dizer que eu não sou apenas uma parte do todo. Que é verdade, só eu próprio me posso libertar.

Tool,

 

Em espera por 2014 ...

 

Não chega ser meramente humano. Não chega respirar e ver, apenas. Não. É preciso sentir-me vivo. E por vezes, nem sequer isso é o suficiente. Há uma necessidade urgente de destruir, matar anjos e ilusões. Por fim, descobrir numa espécie de parábola confrangedora o que sempre ali esteve. Objectivamente, em 99% das vezes, a vida roda à volta de um mesmo sentido. Inútil e urgentemente tirano.

 

Gostaria de recomeçar do princípio, quando era inocentemente imbecil e francamente desprovido de cinismo cego. Bem mais fácil se tornava voltar a acreditar em perdão e talvez seguir outros caminhos para encontrar o centro de certas almas.

Mas então, tudo se trata de condição humana. Para os crentes em promessas de fidelidade e resoluto companheirismo, talvez fosse melhor procurar consolo nas estranhas preces da fortuna, porque nada é permanente. Apenas a morte justifica essa eternidade do que é permanente. E é isso que nos deixa num estado de anormais de feira, aberrações de circo. Pela estranha e bizarra vontade de não admitir a sobriedade da solidão. Quantas vezes será necessária a viagem que acaba sempre na mesma paragem? Nascemos sózinhos e morremos sós.

Não teria a mínima importância verter uma lágrima que fosse pelos que se sujeitam à crença de que ainda é possivel viver neste mundo rodeado de magia astral. Se nem sequer existe magia pessoal onde já nem sequer é possivel observar as estrelas durante a noite porque o céu está permanentemente coberto de fumo.

Não acredito em redenção ou que perdoar possa reparar o que seja. Acredito que somos verdadeiros quando é necessário e porque nos convém. Mais depressa acredito no olhar arrogante e distante do gato do que nas lamúrias de quem pensa já ter visto tudo e não passa de um pobre de espirito.

Por isso não consigo perceber porque razão tanta gente tem necessidade de encontrar um anjo em cada esquina e com ele alguma magia, por mais podre que seja. Eu não vejo magia apenas o dano que causei. E que me foi causado.

 

Se conseguir permanecer vivo e mentalmente sóbrio com o passar das horas e dos dias, será o que mais se aproxima do odor da magia.

Ainda assim, podre.

Aprender a viver entre outras pessoas, agir de acordo com as normas essênciais da sociedade. Isto é ensinado e impresso na mente desde cedo - muitas vezes dentro do próprio útero materno. Não é díficil simular que estamos de acordo com isto, por vezes basta acenar e sorrir ao que para tantos parece ser uma certeza.

O que me parece punitivo e por vezes quase impossivel é viver como um fantasma para quem nos rodeia. É aqui que tudo se esbate e é por isto que o dia-a-dia se torna uma batalha. Porque se continua a achar que se torna necessária a companhia dos outros? Que a caridade alheia é tão importante como respirar?

Sei, porque muitas vezes me é afirmado e repetido, que não tenho qualquer necessidade de pensar assim, que viver em permanente negação não leva a boas colheitas e que existem muitas mais pessoas que me amam do que as que penso. Mas preciso desta noção estranha de sanidade pessoal: esforçar-me para passar adiante e despercebido. Invísivel e se possivel, sem muita dôr.

Pelos dias em que olho o espelho e sinto que algo me escapou por entre brechas que sempre me parecem fechadas ...

 

Os olhos tornam-se assentes e duros e deixo que os traços se cravem na minha face, mesmo que seja cedo para surgirem e mesmo que ainda não tenha chegado a idade das marcas de sabedoria. Mas não serve de consolo, porque sempre achei ter mais idade do que a que realmente disponho por estes dias. É coisa de ser precoce mental, mas sinto-me próximo dos 100 anos, tal é a deslocação em relação ao que me rodeia. Por alguma razão que desconheço nunca temi a velhice e sempre afirmei ser muito mais velho do que realmente sou. E sempre preferi os verdadeiramente velhos aos próximos da minha idade. Um fruto duro e velho numa casca serenamente fresca, pensamentos de veterano num corpo que não acompanha.

O cigarro aceso não ajuda nada. E a promessa de uma garrafa de Jack Daniels não serve de conforto perante a falta de riso. Por isso agarro-te pela mão e saio para a rua, vestido do mais negro que possa e usando as botas mais escuras e pesadas que tenha.

Acontece, quando me sinto quase demente, deixar que o vento da estrada me acorde desta velhice prematura. E não raras as vezes, acompanho-te naquele estalar de dedos e suave murmurar musical. Sempre com um cigarro aceso nos lábios e a soltar fumo branco.

 

Nos dias em que sinto que algo me escapou, onde pressinto que não deveria pertencer a estes tempos e a mente se transforma numa velha relíquia, gosto de termirar a minha caminhada naquele bar. Ficar sentado em frente a ti e escutar o piano e a voz rouca do pianista de serviço - um velho e cansado grisalho que entoa o velho Frank Sinatra. Talvez um dia, seja possivel pedir desculpa ao meu corpo pela velhice da mente ...

Tenho aprendido, da maneira mais árdua e estupidamente complicada, que por pior que as coisas me pareçam hoje, por mais que os acontecimentos se sucedam, a vida contínua. E tento sempre pensar que amanhã tudo poderá ser melhor. Aprendi como é possivel conhecer outras pessoas pela forma como lidam com os dias chuvosos, como arrumam as suas bagagens existênciais e como plácidamente transformam os natais em festas de falso companheirismo. Aprendi que por muito que possa ser doloroso, muitas pessoas confiam e voltam a apaixonar-se e a definhar pela mais intensa saudade.

Por muito estranho que pareça, aprendi a distinguir os que acham ter uma segunda oportunidade na vida e que acham que tudo lhes sorri, esquençendo-se que também devem devolver algo. Aprendi que na maior parte das vezes, decidir de coração aberto é um erro trágico e de consequências amargas. Mas apesar das dores e da raiva, nunca perdi o hábito de estender as mãos e tentar alcançar outros. Nunca me interessou o abraço fraterno ou a palmada nas costas. Antes o vislumbre do sorriso de  quem me aceita como sou.




Arquivo

  1. 2024
  2. JAN
  3. FEV
  4. MAR
  5. ABR
  6. MAI
  7. JUN
  8. JUL
  9. AGO
  10. SET
  11. OUT
  12. NOV
  13. DEZ
  14. 2023
  15. JAN
  16. FEV
  17. MAR
  18. ABR
  19. MAI
  20. JUN
  21. JUL
  22. AGO
  23. SET
  24. OUT
  25. NOV
  26. DEZ
  27. 2022
  28. JAN
  29. FEV
  30. MAR
  31. ABR
  32. MAI
  33. JUN
  34. JUL
  35. AGO
  36. SET
  37. OUT
  38. NOV
  39. DEZ
  40. 2021
  41. JAN
  42. FEV
  43. MAR
  44. ABR
  45. MAI
  46. JUN
  47. JUL
  48. AGO
  49. SET
  50. OUT
  51. NOV
  52. DEZ
  53. 2020
  54. JAN
  55. FEV
  56. MAR
  57. ABR
  58. MAI
  59. JUN
  60. JUL
  61. AGO
  62. SET
  63. OUT
  64. NOV
  65. DEZ
  66. 2019
  67. JAN
  68. FEV
  69. MAR
  70. ABR
  71. MAI
  72. JUN
  73. JUL
  74. AGO
  75. SET
  76. OUT
  77. NOV
  78. DEZ
  79. 2018
  80. JAN
  81. FEV
  82. MAR
  83. ABR
  84. MAI
  85. JUN
  86. JUL
  87. AGO
  88. SET
  89. OUT
  90. NOV
  91. DEZ
  92. 2017
  93. JAN
  94. FEV
  95. MAR
  96. ABR
  97. MAI
  98. JUN
  99. JUL
  100. AGO
  101. SET
  102. OUT
  103. NOV
  104. DEZ
  105. 2016
  106. JAN
  107. FEV
  108. MAR
  109. ABR
  110. MAI
  111. JUN
  112. JUL
  113. AGO
  114. SET
  115. OUT
  116. NOV
  117. DEZ
  118. 2015
  119. JAN
  120. FEV
  121. MAR
  122. ABR
  123. MAI
  124. JUN
  125. JUL
  126. AGO
  127. SET
  128. OUT
  129. NOV
  130. DEZ
  131. 2014
  132. JAN
  133. FEV
  134. MAR
  135. ABR
  136. MAI
  137. JUN
  138. JUL
  139. AGO
  140. SET
  141. OUT
  142. NOV
  143. DEZ
  144. 2013
  145. JAN
  146. FEV
  147. MAR
  148. ABR
  149. MAI
  150. JUN
  151. JUL
  152. AGO
  153. SET
  154. OUT
  155. NOV
  156. DEZ
  157. 2012
  158. JAN
  159. FEV
  160. MAR
  161. ABR
  162. MAI
  163. JUN
  164. JUL
  165. AGO
  166. SET
  167. OUT
  168. NOV
  169. DEZ
  170. 2011
  171. JAN
  172. FEV
  173. MAR
  174. ABR
  175. MAI
  176. JUN
  177. JUL
  178. AGO
  179. SET
  180. OUT
  181. NOV
  182. DEZ


topo | Blogs

Layout - Gaffe