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Vejo em ti toda a beleza da demolição que consome estes meus dias de má direcção. Apenas pelo simples facto de pensar nisso faz-me apertar  as mãos com uma força possessa; e os meus  dedos tornam-se pálidos  de morte.

Eu não preciso de ter um deus - porque tenho o sorriso dos teus lábios, as tuas mãos que me amparam e a realidade das tuas unhas cravadas em mim e  não deixam cicatrizes. O sabor da tua  saliva e a  tua respiração no meu pescoço dorido. Creio que posso afirmar-te convicto que a  escuridão é nossa, na noite e nos segredos guardados. Só nós e apenas tu e eu, podemos compreender e deixar para trás tudo e todos.
A paixão é dolorosa, bem o sei. Mas somos animais que brilham. Os teus olhos, longe de juras patéticas de amor, são jóias de absoluta devoção. Senão, como explicar este tormento que é sentir o meu coração a atirar-se contra a prisão das costelas? A forma como assassino os minutos em espera. Quando chegas tudo explode e se torna cinza escura. És o meu desastre mais do que natural, tudo o que vejo e apenas o que realmente me importa.

 

 

 

 

Creio que o Nazareno, na sua infinita sabedoria, se esqueceu de nos avisar o quanto inútil se torna antecipar o paraíso ou o inferno. Talvez por preguiça ou por mero desprezo pela humanidade, o paraíso ou o inferno são apenas um e único local.

São a mesma morada para todos nós, mas o maior sarcasmo divino reside nisto mesmo; no paraíso é onde encontras tudo o que sempre quiseste, onde podes beijar e abraçar a mãe e o pai há muito mortos. É onde celebras com os teus amigos queridos, onde abraças e beijas calorosamente. Podes até, escutar as harpas nas nuvens brancas.

E o inferno é exactamente no mesmo local! Sem fogo eterno ou ranger de dentes. A suprema diferença é que todos passam por ti sem te ver. Nada. Nenhum reconhecimento. E tu agitas os braços chamando pelo pai e pela mãe, sem ser visto. Transparente. Estás, como os outros, numa nuvem branca e com uma harpa. Apenas não és escutado e não és visto por ninguém.

Talvez o Nazareno afinal, não quisesse que a verdade fosse realmente conhecida.

Sinceramente, nunca prestei muita atenção ao conceito de solidão. Tenho estado só durante muito tempo em salas cheias de gente, sem realmente saber o que fazer. Pelos momentos em que senti necessidade de terminar com a existência, onde percebi que a depressão não é um beco escuro e húmido, antes se trata de respirar desespero vermelho e sufocar lentamente, percebi que a solidão não se evoca, explica ou exige.

No entanto, em todos os  momentos em que me senti grotesco - muito além de grotesco, inútil - nunca vi qualquer salvação ou fuga na grande maioria das pessoas que entravam nas salas atulhadas de gente. Creio que pouco podem fazer para me curar da solidão. Porque sempre esteve comigo, este formigueiro de anticipação para o momento de solidão e silêncio.

Pouco ajuda ver um sorriso nas pessoas, um gesto de afago ou um cumprimento solene. Eu nunca fui pessoa para antecipar a sexta-feira à noite e correr para os bares e ouvir a música alto. Prefiro esconder-me noutros lugares. Ficar quieto e aceitar que não existe nada do outro lado. Apenas gente estúpida misturada com mais gente. Pouco me importou e pouco importa agora.

Talvez devesse lamentar, mas não o faço. A minha solidão acaba sempre por fazer-me companhia. E eu acabo por gostar de mim próprio, de uma maneira ou outra.

 

 

 

Sempre fui uma pessoa tímida, retida para si própria e muitas vezes incapaz de exprimir sentimentos de alegria extrema. Creio que é mais fácil dissolver a raiva e a frustração que corrói. Mas sei que isso tem vindo a mudar. Não de forma avassaladora ou realmente notória para a maioria das pessoas, sequer. Mas, pouco a pouco sei que tenho progredido. Uma causa reside no teu sentido de humor e nesta minha fixação pelo teu sorriso. Quero ver-te sempre a rir porque te pertence. Porque o teu rir é um som de paz e abrigo.

Todos os dias penso em lugares para te levar. Penso nos pequenos e obscuros locais onde já estivemos. Juntos. Aqui e ali. Viagens que nos pertencem porque foram nossas e nunca se apagarão. Onde comemos e dançamos, após os sentidos consumidos pelo vinho doce. Braços abertos, pernas traçadas, estranha dança turvada pelo ópio do cachimbo de vidro. Por entre sons e verbos em árabe.

Quero repetir contigo o deserto, o lenço que cobria os cabelos e o nariz e os óculos escuros, contra a areia ardente que açoita o corpo. Correr pela areia descalço e contigo sobre as minhas costas. E o teu riso a soar aos meus ouvidos como o que realmente é: salvação de mim mesmo.

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Tantas são as vezes em que me deixo levar pela raiva e assassino os meus mais profundos sentimentos. E não estranho a dor de cabeça que me consome, quando leio palavras escritas por punhos inocentemente desconhecedores da mestria das suas linhas. Porque as sei reconhecer como minhas, espelhos claros.

Sei, por defeito meu e incapacidade de reagir de outra maneira, que quando alguém se torna subitamente silencioso e solitário, assume uma cruel honestidade pessoal. Com o que pensa dos outros e, muito mais desesperante, como se assume a si mesmo. Como criatura que respira, nem sempre se encara como realmente digno de habitar esta merda de planeta.

Um número tão imensamente reduzido de pessoas ensina-me algo todos os dias. Senão pelas suas acções , pelas suas palavras. Quando alguém se silencia e se torna friamente honesto consigo próprio, torna as verdades cruelmente profundas e marcantes.




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