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Com os anos, torna-se difícil manter amizades. É fácil afastar-me das pessoas. Na maior parte das vezes não faço parte das suas ambições, crenças religiosas ou visões de futuro. Por isso, é relativamente simples descartar e ser descartado. O que realmente exige de mim maior empenho é tentar manter uma amizade. Principalmente quando sei que aqueles sim, são amigos e amigas. Normalmente porque são em tão exígua quantidade e acima de tudo, porque me aceitaram sempre. Nas minhas fraquezas. Nas mais sombrias horas e na necessidade de distância. 

Esta amizade difere da paixão amante. Uma é intimidade para um mesmo caminho, como uma alcateia viaja junta e ainda assim, mantendo distâncias. A outra é companhia inabalável. Partilha de sensações pessoais e entrega de corpo e alma. Esta apenas se reflecte a uma e apenas uma pessoa. Também amiga mas porque é amante, companhia quando tudo o resto falha. Aqui não existem latitudes possíveis. Nem sequer consigo comparar isto a uma amizade. Por mais intensa que seja. Seria falhar onde me recuso falhar. Mas existe um laço comum. Uma intensa partilha de emoções tão marcante que só poderíamos ser poucos. Não se consegue sentir desta forma em multidão.

 

... E afinal,

 

não ansiamos nós por conhecer o verdadeiro demónio, fogo primário que habita em nós? ...

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Eu nunca parei. 

A minha mãe desde cedo me confirmou uma certa estranheza pelo facto do seu filho não ter feito o percurso normal do récem - nascido: gatinhar e depois andar. Disse-me que me limitei a erguer-me, agarrado a paredes e recusei o gatinhar. E eu nunca deixei de andar. Marchar. Caminhar sempre para mais longe. Por isso sou um viajante. Desloco-me por espaços físicos com a mente sempre aberta ás distâncias a percorrer. E são imensas! Nunca acabam. Morrerei com o conceito atravessado  no meu corpo. Nunca conseguirei viajar o suficiente. Caminhar o necessário e desaparecer entre as neves por onde tanto me pacifico enterrando as botas no manto branco.

 

 

Conheço aquele sentimento que engana. Afirma que tudo estará bem. No futuro. E sei perfeitamente que não estará. Não agora. Basta olhar o espelho de frente que a questão surge. Creio que até já deixou de ser relevante. Já deixou de o ser. Marcado a ferros e de forma ironicamente permanente, a certeza de que sem outra pessoa não consigo subsistir. E a confirmação ( por estes dias, confirmar parece ser um alimento podre ...) de que cada vez mais não existe companhia na presença de outros. A falta de paciência já se tornou numa soturna companhia, pouco dada a mais necessidades que não sejam as de fazer com que o tempo se esvaia sempre mais depressa. E por cada minuto que me sinto acompanhado, tantas vezes densamente emersos em escuridão, depressa se confirma ( sim, confirmar, uma vez mais ...) que o resto dos dias serão aquele calvário antecipado, do choque traumático de quem se forçou a conviver com a solidão déspota e mesmo assim sempre soube que encontraria salvação em outros braços.

 

 

 

Todas as decisões que tenho tomado e que me levam aos lugares e destinos em que me encontro, sinceramente nunca as considerei como certas ou erradas. Antes urgentes. Tão urgentes como os pés que me carregam e este coração bate. Isto sempre foi o meu ritmo. A minha toada e compasso de marcha. Por isso, não me faz diferença que termine o verão ou o inverno seja a morte das cores e do sol. Não me interessam as folhas caídas nos passeios e os agasalhos da alma que requerem o calor da expressão e do gesto firme.

 

A minha casa, ainda não totalmente encontrada, o meu caminho, ainda incompleto, são a plena aceitação do que tantas vezes me foi dito. Os que tanto esperam e desejam morrem invariavelmente no desapontamento. Por isso, talvez seja por isto que nada espero. Realmente. Renunciar para sacrificar?  Acima de tudo, a plena noção ( por isso assustadora!) de que nada é capaz realmente de me demover. 

 

Hoje, as distâncias são do tamanho de oceanos. As separações, terra de ninguém. Alcançar a outra margem, sistematicamente fustigado pelas ondas, muitas vezes acaba com a consciência. Muito por minha culpa. Infelizmente ainda não consigo respirar com os pulmões cheios de água. O que me devora é que se chame casa ao que eu chamo isolamento. Que se chame amor a uma prisão de espelhos. Onde o que  se acha ser a segurança eu ache apenas um atraso temporário que apenas me afasta do que quero.




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