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** O martírio ... é a única maneira de ganhar fama sem ter competência. **, Bernard Shaw
O fascínio que sinto na observação da inoperância humana, só consegue mesmo ser ultrapassada pela leitura das suas manobras para fugir de uma fatalidade. Creio que a mera presunção de muita gente na ideia que a vida lhes deve algo, que em algum espaço desta existência haverá direito a uma compensação que console, no mínimo, uma desilusão por anos de decisões erradas, leva ao desespero de tentarem vestir uma pele de lobo. Esforço em vão. Porque os lobos não se vestem. São.
Como quem mendiga na vida a sua sorte maldita e sempre ignorando que esta não existe, porque não é parte da causa e efeito. Os erros de uma vida inteira a cometer banalidades pessoais são inevitavelmente pagos por um fim de existência medíocre e em desespero; enquanto se tentam truques de luz para encher aquele poço de nulidade tão carinhosamente escavado durante anos, sempre com a mesma triste noção de necessidade e amor ao próximo.
Existem danças que eu não compreendo. Nem sequer pretendo que assim seja. Quem se deseja dançarino nesta vida porque anseia sentir os ventos e o perfume glorioso de um caminho que nunca será o seu causa-me riso. Como se pode dançar na constância maquinal e acanhada de uma vida em martírio, onde todas as opções decididas conduziram a um beco de absoluto nada, intriga-me.
Resta-me uma pequena reserva de riso sábio no final de certos dias, quando tantas vezes se desligam máquinas e teclas, quando se esfregam olhos cansados; principalmente quando se giram os olhos em volta de si mesmos e assenta a realidade pura de nada se haver construido: tudo permanece no mesmo nada.
Não existe realmente êxtase neste sonhar com o que nunca será seu.