Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]



 

Acredito no conceito de Caos. Acredito que toda a nossa existência, desde o nascimento até ao momento da morte é estritamente governada pelo Caos. Não se trata de um deus ou de de um destino premeditado. Não creio. Antes a desordem absoluta e onde muito simplesmente pouco importa o que pensamos. Ou a injustiça de nos desprezar. Creio até, que tudo é regido por esta lei subversiva e implacável sem respeito por normas, pensamentos ou acções.

 

É por este Caos que nascemos e é por ele que morremos, mas é durante a fase que atravessa em passos largos o nascimento e a morte que realmente se mede quem e como se batalha no meio deste tirano. Simplesmente tudo, absolutamente tudo, se destrói e volta a construir em nome do Caos. Esta é uma directiva que abala a ciência. Não é uma postura religiosa. É um facto e causa. 

 

Todos sem excepção vivem nesta lei. Todos são os que sofrem destruição dia a dia. Seja por morte de quem se ama, pelo fim de um amor que se pensa eterno, seja pela demolição sistemática de tudo o que levou anos a construir. E todos são os que se voltam a erguer e a reconstruir teimosamente tudo. De novo. Porque este é o verdadeiro sobrevivente do Caos: eis a morte do ente mais querido, do bem  mais precioso; eis a punição por anos de esperança. No entanto, eis a vontade de voltar a reconstruir ainda melhor. Portanto, a mais potente forma de tentar combater o Caos que reina. Mesmo que seja até ao último suspiro, construir o que foi destruído serve para evitar o fim. E quantas vezes não se destrói para melhor construir? Os que desistem de voltar a construir, muitas vezes apenas foram destruidores, não devem ser apontados como fracos. São os que desistem e colocam fim à existência. Seja!

 

A minha convivência diária com este Caos, que tantos pomposamente gostam chamar realidade e natureza das coisas, espelha-se na menina de seis anos, que como muitas outras, sai de mais uma sessão de radiação para superar mais um obstáculo que este pai tirano lhe oferece. É uma construtora que sistematicamente tenta repor o que o Caos lhe tira. Sempre! Mesmo quando a levanto e deixo que apoie a cabeça trémula no meu ombro. Mesmo quando sinto que aquele corpo magro e fragmentado está demasiado quente e os olhos amarelos pela radiação tentam brilhar em triunfo. Consegue. Por muito pouco.

 

Bebo dessa resistência em construir. Partilho o chocolate de noz com ela mesmo odiando nozes. Adormeço muitas vezes ao lado dela quando soluça pela perda do cabelo. Por mim já deixei de verter uma lágrima por este Caos. Antes, a humidade avançava pelos meus olhos sem qualquer consentimento meu. Pura e simplesmente desobedecia. Agora não. Estou seco. Sequei perante os anúncios de mais uma e um que se foram. 

 

Este Caos existe. Uns batalham mais duramente para construir o destruído. Outros perante tal decidem destruir para regressarem mais fortes. Falham muitas vezes. Também conseguem regressar. Nunca iguais. Mas o que realmente me interessa é o caminho percorrido e a forma como é feito. 

 

E todos os miseráveis dias tenho a noção precisa do que custa tentar reconstruir o que é tirado. E que deveria ser nosso por direito.


1 comentário

Sem imagem de perfil

Bruno 31.10.2016

Muita força, meu querido.
Com o tempo, habituamo-nos a tudo... Acredita.

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.





Arquivo

  1. 2024
  2. JAN
  3. FEV
  4. MAR
  5. ABR
  6. MAI
  7. JUN
  8. JUL
  9. AGO
  10. SET
  11. OUT
  12. NOV
  13. DEZ
  14. 2023
  15. JAN
  16. FEV
  17. MAR
  18. ABR
  19. MAI
  20. JUN
  21. JUL
  22. AGO
  23. SET
  24. OUT
  25. NOV
  26. DEZ
  27. 2022
  28. JAN
  29. FEV
  30. MAR
  31. ABR
  32. MAI
  33. JUN
  34. JUL
  35. AGO
  36. SET
  37. OUT
  38. NOV
  39. DEZ
  40. 2021
  41. JAN
  42. FEV
  43. MAR
  44. ABR
  45. MAI
  46. JUN
  47. JUL
  48. AGO
  49. SET
  50. OUT
  51. NOV
  52. DEZ
  53. 2020
  54. JAN
  55. FEV
  56. MAR
  57. ABR
  58. MAI
  59. JUN
  60. JUL
  61. AGO
  62. SET
  63. OUT
  64. NOV
  65. DEZ
  66. 2019
  67. JAN
  68. FEV
  69. MAR
  70. ABR
  71. MAI
  72. JUN
  73. JUL
  74. AGO
  75. SET
  76. OUT
  77. NOV
  78. DEZ
  79. 2018
  80. JAN
  81. FEV
  82. MAR
  83. ABR
  84. MAI
  85. JUN
  86. JUL
  87. AGO
  88. SET
  89. OUT
  90. NOV
  91. DEZ
  92. 2017
  93. JAN
  94. FEV
  95. MAR
  96. ABR
  97. MAI
  98. JUN
  99. JUL
  100. AGO
  101. SET
  102. OUT
  103. NOV
  104. DEZ
  105. 2016
  106. JAN
  107. FEV
  108. MAR
  109. ABR
  110. MAI
  111. JUN
  112. JUL
  113. AGO
  114. SET
  115. OUT
  116. NOV
  117. DEZ
  118. 2015
  119. JAN
  120. FEV
  121. MAR
  122. ABR
  123. MAI
  124. JUN
  125. JUL
  126. AGO
  127. SET
  128. OUT
  129. NOV
  130. DEZ
  131. 2014
  132. JAN
  133. FEV
  134. MAR
  135. ABR
  136. MAI
  137. JUN
  138. JUL
  139. AGO
  140. SET
  141. OUT
  142. NOV
  143. DEZ
  144. 2013
  145. JAN
  146. FEV
  147. MAR
  148. ABR
  149. MAI
  150. JUN
  151. JUL
  152. AGO
  153. SET
  154. OUT
  155. NOV
  156. DEZ
  157. 2012
  158. JAN
  159. FEV
  160. MAR
  161. ABR
  162. MAI
  163. JUN
  164. JUL
  165. AGO
  166. SET
  167. OUT
  168. NOV
  169. DEZ
  170. 2011
  171. JAN
  172. FEV
  173. MAR
  174. ABR
  175. MAI
  176. JUN
  177. JUL
  178. AGO
  179. SET
  180. OUT
  181. NOV
  182. DEZ


topo | Blogs

Layout - Gaffe