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É a mais estranha das soberanias, essa rapidez de destruição. Para voltar a reconstruir.
O consumir, uma irmandade que sangra e sofre, obtendo disso, o prazer. E torna-se imparável. Provoca os sentidos ... (esses) quase mortos. Agora despertos.
Não existe harmonia em mim. Nunca entendi a pacificação interior de que falam os poetas do armísticio amoroso. Não me invoca qualquer paz interior se não fôr amar e ser amado em demente posse. Mas é um anseio meu, esta procura de um canal de ligação entre a corrente e a lua. Vem de muito antes, como exlamava o filósofo - " vem do útero até à sepultura!"
Alguém já tentou sangrar sem dor? Creio que se torna passivel de loucura. Um estágio que pavimenta o caminho para a mais intensa observação. A verdadeira beleza reside nisto: na dor. Que nos torna realmente humanos. Não o amar algo. É o sofrimento.
Até a melancolia se torna numa espécie de fogo aceso no céu. Uma reverência feita em nome de algo que considero precioso nestes dias, onde cada vez menos existem preciosidades.
É bom que me sinta assim, brutalmente crú. Consigo vislumbrar uma beleza que muitas vezes permanece oculta.
Temos esta estranha capacidade para sofrer. Em qualquer acto nosso de criação é possivel ver esta nossa "vocação para o sofrimento". Caminhamos em duas pernas, orgulhosos do facto e da certeza de sermos superiores, quando nada mais fizemos do que nos tornarmos frágeis. Sem apoio. Todos os dias me é possivel testemunhar as minhas falhas, que são minhas e no entanto iguais às dos outros. A fraqueza de espirito, a anemia dos conceitos que me foi passada por outras gerações, provém da culpa e da incapacidade de quem me criou. Quem me fez nascer e crescer num mundo descartável. Para mim, reles criatura que ainda consegue respirar, este foi um património que não pedi. E contra o qual não consigo lutar - mesmo que este ódio cresça todos os dias. Mesmo que saiba que outros também carregam esta peste. Não quero saber. Não me interessam as canções do mundo nem o seu amor destoado. Nunca quis este fardo. E porque é que não termino, desde logo, com a minha existência? Porque me sei perfeitamente capaz de o fazer. E porque me falta esse último passo.
Não consigo encontrar, nesta nova realidade, um modelo a seguir. Um único ser humano com quem possa sentir a total proximidade. Mesmo os que se acham mais longe e melhores, rastejam. São como eu: vermes pálidos com medo da escuridão.
Tudo, mas tudo o que desejo é descabido e sem aceitação por parte dos outros. E afinal, são da mesma estirpe! Ainda que se proclamem diferentes. Ainda que se achem acima.
Um passeio pelo Silêncio ...
Insisto em manter este silêncio. Recuso-me a deixar que outras palavras, que não sejam as mais míseras migalhas de consolo, perturbem esta calma. Que melhor caminho poderia encontrar? Senão passear por memórias gratas ao meu espirito. Recusando-me a deixa-las também morrer.
Abrir a mente ao que passou tão recentemente, a sombras que ainda aqui se encontram. É como abrir uma porta para um local que já antes foi palmilhado.
Mas ignoro os avisos e as práticas quotidianas de sobrevivência. Antes me vale permanecer em correntes. Porque o desejo. Quero manter as recordações. Porque quero. Não por desespero ou solidão - esses são companhia minha de todos os dias. Nada benignos, nada sensatos. Meus, sem os querer.
É minha única intenção deixar que o desgosto me visite. Mas não o vergar ás lágrimas; existem outros muito mais capazes de chorar. E chorar em silêncio nunca foi de mim. Se me calo e assim desejo ficar é apenas porque temo que qualquer som, acção ou desejo modifique o exacto local destas memórias. Temo que se assim for já as não consiga vislumbrar. É que nestes últimos dias a escuridão tornou-se numa madrasta implacável.
Seja qual for posição que ocupemos neste planeta. Seja qual for o nosso estatuto hierárquico ou riqueza acumulada, pressinto que a nossa existência seria bem mais proveitosa, se tivessemos menos tralha subjectiva com que nos preocupar. Sinceramente.
Conheço tantos homens que amam tantas mulheres diferentes, que lhes dão filhos tão diferentes. E conheço mulheres que tudo amam e tudo querem para si. Todos se fixam nas mesmas coisas. Possuem uma nota para tudo: para o carro, para a casa, para o barco ou para o próximo LCD. Tanta tralha inútil.
E depois habitam em empregos que odeiam, porque são forçados a faze-lo. Senão, não conseguirão sustentar os brinquedos que os escravizam. Há um imenso vazio apenas preenchido por mais tralha. Mais exigências.
Eu poderia apenas agarrar em duas pessoas, realmente essênciais há minha sobrevivência, e partir para longe. Tudo o que deixaria para trás, seria muito pouco. Ninguém sentiria a minha falta ou ausência. Mas eu nada ficaria a dever a ninguem. Nada.
Mantenho um ritual desde que vivo por minha conta: ter dinheiro numa conta bancária. Mas não para bens materiais. Sim para "comprar" experiências.
Para onde quer que possamos ir, não podemos levar o nosso lindo quarto. Tão bem decorado! Nem sequer levar o nosso LCD gigante. Tralha. A única coisa que seguramente podemos levar são as nossas memórias. A recordação daquela viagem à tundra escandinava, onde o branco era tão imenso, que tirar os óculos escuros poderia levar à cegueira; ou aquele mergulho no meio dos golfinhos onde o conceito de liberdade se torna realmente opressivo. Porque tão palpável.
Confuso, procurei em mim a ternura de um nevoeiro que me tragasse,
Encontrei então, um estranho fogo
E chamei-lhe Fogo de Marte!
Tornei-o só meu, envenenando o poço da minha existência,
Deixei que crescesse, consumindo razão e certezas
Que mestres de luz posso encontrar?
Se nesta sonolência me entrego,
Se por breves momentos, este fogo se acalma
Para de novo se erguer, irado e imenso
Consumindo, em mil pragas de chamas
Diz-me, afortunada criatura
Se na Guerra existem sempre perdas
Tu, que navegas por nuvens brandas,
E auguras o amanhecer,
Porque deixo eu crescer este Fogo de Marte?
E, apesar de tudo, é dele que me alimento ...
vê,
como fácil é, tornar esta existência num estranho patíbulo de dor
onde,
cada gota de sangue se esvai, em promíscua adoração
uma raíz,
que sufoca, retraí e alimenta
porque,
já não poderia viver, mas resiste
maldita!
aqui,
mora a minha avidez, árida fronteira
no chão,
um habitar sem paz, impulsivo monstro
a sul,
fala-se do paraíso,
por aqui,
o sangue perde-se, frio
eu oiço-te,
estranho bater de asas, aos ouvidos agarrado
confrontar,
seguir por caminhos de remorso,
num,
estranho incesto de glória e desilusão.
Porque morro de saudades e antcipação...
Porque sei que a viagem será para breve ...
Até lá, recordo ....
Faço inimigos de nada, da minha razão
do meu pensar,
de promessas que jamais proferi, que nunca jurei
das questões que a mim ponho, recebo-as ocas
... impossiveis
E como te sentes, quando te encontras
perante nada?
para onde vais, para onde correrás,
quando, por mais uma vez
nada encontras, nada recebes?
Por onde te vejo e desejo,
só não encontro a chave, vagabundo
retenho o meu sentido, a minha alma
mesmo num mundo de visões
... e desilusões
E porque crio eu, este sentido de promessa?
esse sentido de propósito, num bizarro latejar
que me deixa perplexo, sempre em dúvida
sem saber o que devo olhar, apenas olhar
Ofendo, porque pergunto
desiludo, porque duvido
permaneço, nesta saliência do pensamento
e, para salvar a tua graça
devo manter em correntes, a besta que me consome?
Chamo-me, nada
Para este buraco ermo e escuro, me arrastei
Foi aqui que os meus sonhos terminaram,
Onde a minha alma, testemunhei, se soltou
Para onde arrastei as minhas ilusões
E as deitei, para que morressem
Foi aqui, que Vi, sem esperança
Que todo o significado que na minha existência coloquei,
Finalmente se revelou, como Nada
Que todo o significado que em mim puseram,
Finalmente se revelou, em Nada!
Todo o choro ou uivo,
Que de mim possa ter saido,
Ecoou neste vazio, meu buraco
E que ninguém os tenha escutado,
Porque amaldiçoado será, em noites de glória
Por mim reveladas, antítese da minha raiva
Pois as minhas palavras, rasgam a carne
Como adagas em chamas!
Reza a Deus,
Não te ouvirá,
Porque são vazias, as orações
Apenas restará a sujidade, no teu sangue
Apenas restará a sujidade, na minha dor,
E não devo descansar sob esta sepultura mutilada?
Porque devo eu prosseguir, assim, sem uma revelação
Verdade emancipada? Que hei-de inventar, agora?
Para voltar a caminhar hirto,
Voltar à senda que se esvaí, em fumo?
Maior triunfo que este? Questão posta, por insalúbre mente,
Me faça prosseguir, mais leve de mim,
Não voltar a olhar para o fundo negro, onde resido, inerte
Voltar a olhar para cima, mesmo de costas quebradas,
E sentir o vento, tocando-me no rosto,
Sentir que voltar a respirar, também é meu direito...