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Desafio de " TenTonPredator" para o caderno dos Lamentos...  lamentavelmente, tarde e a péssimas horas!

( 1 )

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" Creio que o pior defeito da raça humana não é o orgulho. Poderia ficar semanas seguidas perdido nas noções do orgulho, enquanto pensava na nossa mesquinha capacidade para a idiotice mais copiosa, onde tudo o que fazemos se revela uma abundante merda - insensata e perfeitamente inútil. Desnecessária.

 

Meu caro, nada é mais revelador da nossa condição mentecapta do que o lamento e chamamento da auto piedade, com toda a sinceridade! Pouco consegue ser mais pausadamente revelador do que este banhar intenso na comiseração mais critica; na capacidade ignorante de destruir atmosferas e sonhos, pela mera faculdade de possuir suficiente penúria intelectual e usar a lástima como suporte vital.

 

Saberás ao que venho. Claro.

 

E mesmo assim apenas reservo para mim a insignificância dos meus instrumentos de corte; servem apenas para riscar a superfície sempre tão sistematicamente polida deste lamentar: Mesmo adivinhando que este é um defeito de tudo e de todos, que se torna insustentável a narrativa de quem muito simplesmente se recusa a afastar o véu e escolher outra táctica, não consigo deixar de pensar naquele cego a quem nunca ouvi uma miserável palavra que fosse sobre a puta da sua sorte; nem mesmo quando  esfrega as canelas por mais uma pancada no sacana do móvel da esquina. 

 

Poderia citar-te outros tantos defeitos que tenho em mim, meu caro. Mas a abundância de ódio que tenho desta arte de piedade mesquinha e tortura que é para mim esta banalidade onde tudo serve para lamentar a triste condição pessoal, cega-me! Tudo serve para cimentar esta fraqueza. Tudo. Desde a nossa condição política, na nossa incapacidade de seguir um labirinto que não seja uma imitação de outros labirintos desenhados por outros, até ao jejum imbecil da criatura que se acha a mais desgraçada do Universo. Tudo!

 

Meu caro, nem sequer se trata dos que se lamentam - eu lamento-me todos os santos dias como uma segunda natureza. Não. O lugar está reservado ao mártir que respira na ilusão de quem carrega o fardo da auto piedade. Não o do orgulho.

 

Esse néctar dos Deuses." 

 

 

 

 

(999)

 

 

De todas as pequenas coisas que tornam este mundo vencedor, a que mais ajuda a desopilar os meus frágeis centros nervosos, habita prazenteira, na repetição sistemática dos dias natalícios. Algo se altera em mim. Em abnegação e impregnado de espírito curioso, visto-me na doce curiosidade racional do velho Sir David Attenborough e caminho estóico entre os pequenos flocos de neve destes dias.

 

Porque sou membro permanente das cortes de Azazel, zagal nas artes de odiar e ser principescamente odiado por tantos, lastimo esta minha tendência para divagar entre tamanhas preciosidades. São tantas e tão comuns, mas o meu cobiçar mais ternamente polido vai para uma variedade de quem tudo daria para receber amor e solidariedade; que mesmo criaturas como eu o merecem.

 

Tudo consegue indignar a criatura que pensa. Não se consegue discordar com algo que é maioritariamente aceite como correcto e certo. É nesta sonolência onde tudo é igual a tudo nos mesmos dias do ano que a vista treinada antecipa os movimentos lacrimejantes da santa alma do Purgatório. Essa diáfana santidade de pés descalços. Esse cenotáfio solitário aos da sua espécie.

 

 

Não merecendo nenhuma dádiva de amor fraterno e sempre cúmplice que inunda por estes santos dias o coração da santa alma do Purgatório, mesmo assim lastimo. Sei bem que estou condenado. Sou maldito. Como poderia eu sequer almejar um seu raio de luz se o meu coração negro se inclina dedicado para a luxuria nada santa? Espiralada com gotas devassas por sábia feiticeira. Como? Sei que apenas recebo o que merece um filho de dita cuja que sistematizou a fina arte da filha de putice. Mereço!

 

Mas a santinha alma do Purgatório deverá ser tudo o que eu nunca serei. Só isso justifica a minha pena e tortura. Observar em espanto o mesmo de todos os outros anos. Ano após ano. Dezembro em Dezembro. Feliz  natal aos queridos. Doces em receitas de sempre; para sempre a repetição do que outros repetem. Fulgor natalício onde sempre, sempre, habita um ridículo gordo de barba branca e hábito vermelho. Velha carcaça de óculos que se revela na viscosidade do esquecimento - o Cristo já não tem importância.

 

O Purgatório das santas almas queima durante todo o resto do ano. Sábias são as artes das pequenas toupeiras de um ano em indulgente esquecimento que a salvação chegará um dia. Em Dezembro. As santas almas do Purgatório assim o sabem pela ladainha das ofertas, árvores e suas bolas, entre beijos e afagos: nos meses antes não importa tudo o que foi feito e assim não deveria ter sido. Por uns dias de santa ignorância e ilusão confinam-se os ímpios onde Thanatos habita que esse nunca será o seu lugar!

 

Morro de ciúme e frustração. Condenado.

 

 

 

 

 

 

 

Pinturas de sangue humano, Maxime Taccardi 

 

 

Nunca consegui entender a falta de capacidade que tanta gente possui para entender a solidão e o desespero. Não porque me considere especialmente versado nestas duas formas de diálogo intimo - embora não me sinta estranho a eles. Talvez porque se assustam com a serenidade que brota perante o irremediável de certas solidões e desesperos. Só assim encontro justificação para a mágoa que fica. Quando apenas permanece a ideia de eternidade silenciosa. A ideia de que a solidão e o desespero nunca irão terminar.

 

Mas detesto a apatia das pessoas perante a sua falta de entendimento. A sua preferência por um refugio quase sagrado na indiferença do amanhã poder vir a ser melhor. Mesmo que saibam do crescimento daquele grão que germinou, ainda que contra a vontade alheia, e se recusem a aceitar solidão e desespero como ferramentas de ruína. Porque se olham para as pessoas como casas em construção e se esquece do que ficará no fim: telhas partidas, pó no ar, ervas e soalho podre.

 

 

Depressão seletiva na procura da felicidade ...

 

 

O erro primordial reside na procura de felicidade onde esta não germina. Na obsessão estéril vestida de raquitismo sonhado gigante. Não é virtude tentar furar o impenetrável. Pouca glória tem; menos gloriosa do que as tentativas sistemáticas do louco que se atira contra a parede almofadada com o firme propósito de desfazer o crânio.

 

Manter um esforço primário de sorrir diante tudo e perante qualquer vicissitude da existência, por mais negativa que seja, sempre com aquele bizarro orgulho de persistir na ideia proselitista de que tudo se resolverá por bem, é digno de figurar em qualquer catecismo de salvação. É falso, claro. Como qualquer efeito supostamente edificante e terapêutico do riso forçado. Traiçoeiro e um desperdício.

 

O ódio sincero não é resposta para tudo. Sei. Se muito, confirma apenas a inexistência de absolutos.  Não gostar e não aceitar o riso como santo remédio para uma harmonia que não existe é um ópio apenas sentido por quem não se envergonha de odiar. Mesmo assim está envolto numa pureza assustadora. Como assustador é olhar o abismo.

 

Mas nada existe de puro no desplante do rir forçado. É sinistra a vocação de quem se balança nas cordas imaginárias do mentor venerável do riso. Quem se reúne, como entre um rebanho de tantos outros infelizes, e se dedica a imaginar curas extraordinárias na gargalhada forçada. Começa um e todos o seguem a rir alto. Basta olhar com atenção para observar que se os lábios se alargam os olhos escurecem e nunca sorriem. Só por uma fragilidade tão tacanha se consegue transformar uma emoção rara e que deveria permanecer em estado puro, num simbolismo absurdo e tribal. Um abrir de fronteiras que deveria ser vibrante e catártico torna-se na arbitrariedade caprichosa do placebo espurco.

 

E por experiência pessoal sei que a autenticidade do riso é rara e deve ser como a intimidade entre sombras: esparso mas tão intimista que se torna um privilégio.

 

Também já testemunhei risos mais autênticos no ódio do que na face dos que todos os dias forçam o otimismo insalubre e tentam encontrar a felicidade onde não existe.

 

Tem sido para mim uma lição de vida.

 

Era uma vez uma piedosa criatura que vivia na ilusão obsessiva de astúcia. Tudo o que pintava a sua existência diária se devia a uma suposta sagacidade que sempre parecia estar alguns passos à frente dos outros.

 

Um dia, daqueles em que a pasmaceira me envolveu, deixei que esta criatura de crenças astutas e mirabolantes se aproximasse da minha sombra. Como sempre afirmo e nunca me cansarei de o fazer, se o arrependimento matasse eu já não estaria por estes lados. Sinceramente. 

 

O que inicialmente se tratava de algo cordial e bem humorado depressa, mesmo muito depressa, deu lugar a uma estranha obsessão por parte da tonta criatura. E depressa também se iniciou o seu, agora famigerado, jogo de simulações que abrangeram uma vasta gama de recursos. Criação de buracos para comentar exclusivamente o que eu escrevia, mensagens declarando intenções que quando não eram correspondidas se convertiam em insultos e ameaças que inevitavelmente terminavam como ainda terminam hoje, fechando o pardieiro e sossegando por uns tempos. Para voltar a adicionar outros buracos ao meu blog com nomes diferentes e comentários de elogio e bom fim de semana e beijos aos meus.

 

Creio que sou culpado por ter deixado que tal se arrastasse. Até porque não sendo muito paciente e com pouco tempo disponível, preferia deixar que a criatura se cansasse. Uma vez mais, crasso erro! Quando a minha atenção voltou a despertar para a gorda sebosa, já tudo estava minado. Algumas pessoas que me adicionaram desapareciam sem rasto. Sem uma palavra que antes havia sido cordial e interessante. Nada. E o que piora a situação, se eu respondesse a um comentário em qualquer outro local, essa pessoa era massacrada com insultos anónimos. Se eu respondesse a um comentário de alguém que supostamente me adicionara depressa recebia uma mensagem troçando de mim e observando com aquele escárnio típico de um saco de lixo, que eu fora enganado! Afinal, dissera que nunca mais falaria com semelhante esterco e lá estava eu a ser enganado. Era ela! 

 

Algo me fez cansar deste jogo. De facto uma razão: uma das visadas por esta aberração andante. Não interessa quem. Muito menos para esta coxa de alto gabarito, mas a vida pessoal desta mulher quase, por muito pouco, ia sendo destroçada por boatos de amantes e traições. Tudo coisa mesquinha que pessoalmente não me afetou porque jamais disse algo que fosse minimamente pessoal a esta criatura ou a quem quer que seja. E mais do que o citado, o que cimentou um ódio profundo, intenso e irracional pela gorda incapaz, reside no facto de a pedido desta senhora termos estado frente a frente olhos nos olhos e eu, EU!, ter de me justificar a ela e ao seu marido por algo que não fiz!! Bastou mostrar mensagens e comentários e confrontar com que a senhora recebeu. Resolvido. Simples. Hoje será uma das poucas amigas que retenho neste pais. Sim beata, teve o efeito contrário.

 

Mas sou rancoroso e prometi a esta pessoa que ainda havíamos de rir muito. 

 

Um daqueles dias, enquanto falava com um colega de faculdade que se encontrava a terminar a sua tese sobre comportamento social mostrei alguma da merda escrita pela criatura enquanto me exasperava pelo facto de justificar o injustificável. E este génio disse-me com a maior das naturalidades , " e porque é que não lhe damos a experimentar um pouco do seu veneno?". Exatamente isto. Reside aqui a verdadeira pérola que justifica tudo. A absoluta e indesmentível certeza do grau de estupidez que percorre aquele cérebro.

 

Duas, repito duas pessoas passaram a agir neste blog durante largas semanas. Eis o dilema da idade que martiriza a gorda cara de sapo, resolvido. O meu colega respondia muitas vezes às mensagens da gorda. Dizia ter quarenta e cinco anos e um filho. Esta pedia desculpa por que era mais velha e casada. Não interessam muito mais pormenores porque a farsa durou enquanto eu quis. Terminou porque o meu colega provou algo na sua teoria de comportamento social e eu cansei-me da sua ingénua estupidez.

 

Mas as conclusões são no mínimo brilhantes. Terei sido algo maquiavélico e cínico, mas joguei o seu próprio jogo de simulação e obstrução caseira. A criatura beata, pomposa e arrogante que se gabava de estar sempre em frente, que insultava e difamava, que fechava e abria buracos como quem respira, derrotada no seu próprio terreno. 

 

O que mais me espanta que ainda hoje, velha e supostamente mais experiente, ainda não tenha entendido rigorosamente nada! Não estranhou, durante umas semanas, uma alteração no meu discurso, já que propositadamente haviam duas escritas diferentes? Deveria suspeitar que a minha escrita não era aquela. Uma alteração na agressividade e até uma certa bonomia a fluir? Não se melindrou com o facto de perante a sua gabarolice nacional proclamando que o nome do meu blog aparecia muitas vezes nas suas estatísticas, eu tivesse escrito que havia alguém que acedia ao seu blog daqueles tempos e que ISSO IRIA DEIXAR DE ACONTECER? Jesus Cristo a cantar o natal, a criatura é lenta e muito estúpida!! Pensei que tivesse entendido.

 

Portanto, foi um boneco porque gosta de fazer o mesmo aos outros. Nunca suspeitou porque acusa os outros de arrogância e presunção mas acha que nada a pode enganar. Imagina-se uma fera que tudo destroça e nada lhe escapa e não passa de uma solitária forçada. Frágil até ao tutano em necessidade de fuga a uma realidade pessoal que a transforma numa adolescente aos saltos sempre que um homem lhe dirige uma palavra. Tudo isto e mais. Muito mais!

 

Odeio-a não só pelo que é e provoca aos outros que não lhe aparam o jogo. Não apenas porque existe quem ainda brinque com este cadeirão destroçado, ainda que com uma classe que eu não tenho. Lamento, sou mais bárbaro. Odeio-a ainda porque mesmo os vermes parasitas que cria odeiam a sua hospedeira e não conseguem nem de perto nem de longe ser pior. Nunca lhe darei razão ou penitência. Mesmo que esteja rodeada por cães em processo de alimento. Voltaria a cara para outro lado e se calhar ainda aproveitaria a sua carcaça para fabricar um belo candeeiro e vender por um belo preço numa loja de aberrações.

 

Continuará não saber quantos anos tenho, velha tonta! Assim como não saberá quem era quem. Mas tranquilize-se, agora sou eu. Apenas o seu adorado Fleuma.

 

Por fim, atente ao que lhe diz o mestre:

 

Posso ser um filho da puta, mas prefiro se-lo a seu amigo. Já antes lhe disse! Prefiro ser um real filho da puta do que ser vitima sua. Filho da puta sem ter de aceitar o seu bom fim de semana, o seu beijo asqueroso e a sua feliz semana e feliz natal! E veja por este ponto sua estúpida ignorante se eu sou filho da puta você não será filha. Você é! E pior: rejeitada.

 

 

Todos os dias é o mesmo. Sempre que me retiro para aquela casa onde os dias se passam lentamente. 

 

Gosto de me levantar cedo. Antes do amanhecer, quando começa a clarear, naquela orla temporal em que a noite escura como breu se afasta e a manhã, que sei irá ser fria e cinzenta, regressa. Sento-me no alpendre na cadeira que baloiça. Ponho os pés em cima do suporte mesmo em frente. Na mesa ao lado a chávena de café negro a escaldar. Em espera.

 

Mesmo em frente a mim, do outro lado da rua, abre-se a porta de entrada da casa amarela. O muro que rodeia esta habitação é baixo e é possível observar com clareza o que se passa. O frio cortante como navalhas e o cinzento do dia são um postal surreal. E sou compelido a olhar enquanto vou lentamente enterrando o queixo na gola do meu grosso casaco.

 

Uma figura alta e esguia sai da casa amarela. O olhar fixo por cima de um grosso bigode branco e um porte estranhamente firme são as únicas evidências de vida nesta estranha pessoa. Não olha em volta e se acha estar ser observado nada o confirma. Percorre os poucos metros até à pequena estufa envidraçada e enquanto esfrega os pés no tapete de entrada abre a porta. Os reflexos prateados da manhã de chumbo cobrem os vidros e quando entra apenas consigo vislumbrar o seu deslocar entre canteiros de flores e sei perfeitamente para onde se dirige.

 

Apuro o olhar e o esforço de atenção provoca-me dores cabeça. O homem pára em frente às rosas. Durante alguns segundos parece rezar como se estivesse diante de uma sepultura. Depois, com uma estranha agilidade, coloca um joelho no chão e baixa a cabeça num sinal de absorto respeito e devoção. Durante longos minutos apenas vejo as suas costas e a sua cabeça inclinada para a frente enquanto ajoelhado. 

 

Por fim ergue-se de novo. Mesmo de costas e ainda que os brilhos matinais rasguem os vidros da estufa, sei exatamente o que sucederá a seguir. E atento, como se estivesse num estranho e cinzento mundo, ao que faz esta criatura de hábitos surreais. Quando está novamente de pé, sempre voltado para as rosas, levanta a gola do casaco comprido e enquanto executa esta manobra vai girando a cabeça para um lado e para outro como se fosse um parafuso a enroscar. Segundos depois, que a mim se assemelham a eternidade, estica as costas e parece tornar-se maior. Um aceno para as rosas final e sai da estufa. 

 

Chega ao portão de saída para a estrada. Vira para a sua direita e enterra as mãos nos bolsos do casaco enquanto baixa a cabeça contra o frio. Parece agora mais pequeno e desinteressado do que o rodeia. 

 

Um destes dias vou levantar-me da cadeira de baloiço e deixar a chávena de café que fica sempre frio. Gostaria de caminhar ao lado deste homem. Mesmo que fosse em silêncio sepulcral. Mas se tiver o privilégio de ostentar algumas palavras vou perguntar sobre a veracidade do que penso quando entra naquela estufa. Calarei no entanto a fuga do seu gato de dez anos para nunca mais ser visto quando foi confirmada a morte da dona.

Isto sou eu. Apenas a minha perspetiva pessoal. E sou o que sou.

 

É certo que outras pessoas se tornam necessárias para poder viver. Mas não consigo adaptar a ideia que é essencial estar acompanhado para poder ultrapassar certos obstáculos. Por muito que tente. A incapacidade de encarar uma solução para o que se apresenta sem ter ajuda de outras pessoas sempre me pareceu algo estranho. Sinceramente.

 

A ideia do lobo solitário que tudo enfrenta longe do mundo é uma estupidez. Não sou uma ilha e nem sequer imagino que seja. Mas a reação imediata perante coisas e atos que me são atirados é normalmente traduzida no pensamento solitário. Em vez de procurar ajuda de outras pessoas encaro isso como um desafio pessoal. E como? Porque odeio a palavra motivação. Esta tola palavra tão usada por tanta gente que sinceramente não compreende muito bem o que é uma batalha constante, tornou-se num preceito que tudo parece desculpar.

 

Para mim não se trata de motivação. Antes disciplina. Sempre achei as soluções de todos o meus erros e decisões acertadas na disciplina. Mesmo quando o panorama é negro e as notícias não são as melhores. Por isto tenho extrema dificuldade em aceitar lideranças. Pior ainda no que se refere a mim. Sei que muitas são as vezes em que tenho de aceitar o que outros dizem e decidem. No entanto, também sei que no final do dia a responsabilidade é minha e só minha. Se isso significa levantar-me mais cedo, trabalhar mais horas, será seguramente feito. Executado sem pestanejar.

 

Mesmo perante supostas inevitabilidades, apresentadas com o celeuma de quem acha ter o definitivo na mão e assim esfregar na minha cara. Não preciso realmente de quem comande. Não necessito de uma presença física de liderança. Embora saiba e conviva com isso todos os dias. Não sou um dos que segue cegamente e acata sem questões. E depois, são raras as pessoas que pensam como eu. E vice-versa. Conheço quem se aproxime, esteja quase lá. Mas não é possível. Até porque tudo se revelaria uma perda de tempo. Perda de vida.

 

Deixou de haver heróis. O que acredito ser grandeza não se mede por medalhas, dinheiro e muito menos opinião pública. Imagino a grandeza como felicidade e liberdade. Simples e complexo. Muito. Tento espremer todas a inutilidades que me rodeiam. Todo o barulho e todas as noções inúteis. Corrói e mata lentamente. Sei de quem pura e simplesmente não consegue lidar com esta realidade. Não censuro nem lamento por esses.

 

A mim sempre me intrigou o que ruminará na cabeça de uma criatura bem pensante quando decide deixar que uma fotografia lhe seja tirada assumindo para isso uma postura que desde logo me aparece como sinistra. Ou antes direi: com uma certa e desesperante languidez. Coisas minhas, creio.

 

Mas pior que languidez, roçando o exasperante, é o jeito  angelical trapaceiro. O forçar do sorriso e logo acima um olhar falsamente encantado, porque os lábios simulam o riso mas os olhos revelam a mentira e a falta de humor. Isto é tão falsamente imposto para a fotografia que roça aquele grotesco embaraçoso e descarado.

 

A própria descontração com que certos seres olham em frente para uma câmara, descaindo o corpo, como que cansadas por labutas inenarráveis que apenas a sua própria essência entende, é profundamente revelador do impossível que é aceitar certas imagens. Por muito campestre e gracioso que se pretenda, é apenas revelador de que outra postura não é conhecida. Apenas a de encantamento. Repetida. Sempre repetida.

 

Mas o que realmente concentra a minha atenção, quando tal sucede, são as mãos. As mãos dizem-me muito sobre outra criatura que respira. E quando parecem clamar por preces, rodeadas por um corpo vestido com trejeitos de um conservadorismo irritante, ainda mais. As mãos juntas, enroscadas uma na outra, perante um sorriso artificial simulam uma criatura distorcidamente angelical, mais parecendo vitima de uma pulsátil dose de opiáceos. São os simulacros de falso humor. As falsas poses de harmonia interior que se revelam inúteis aos olhos de quem atenta nestes pormenores. Até porque a verdadeira paz interior, que inúmeras criaturas iguais, pretendem espalhar não existe. É apenas mais uma queda livre.

 

Intriga-me claro. Que se exiba tamanha incapacidade de olhar o mais do que óbvio. Não engana. Não desafia e muito menos cativa. E então quando essa imagem corresponde ao meu pensamento, isso é ainda mais triste.

 

Existe uma linha fina e tão dolorosamente ténue entre a força real de carácter e a simples ilusão de força interna. Antes interior porque a física, movida por ossos e tendões é para a maioria um dado adquirido. Esta fina linha que atravessa a potência mental revela-se não por gabarolice barata, mas por atitudes e posições. Não pela ameaça inútil e monótona de quem, por razões mais do que notáveis, se sabe possuir apenas o mais básico para subsistir neste planeta. Quem tem a potência interna calibrada para levantar o queixo todos os dias não necessita de o proferir em destemperadas vénias. É a diferença entre o Alfa e o Ómega. Para os gabarolas baratos a força está no começo de tudo. Na ilusão de que são lideres e exemplificam a força. Mas realmente é no fim que se constata quem a natureza na sua essência mais fascista e insensível, escolheu para sobreviver para além da pilhéria que é fingir fugir à destruição.

 

Alfa e Ómega muito acima da falsa vitimização. Não me iludo, há os que são vitimas reais e estes são os que respeito. Não escolheram ser. Lutam para não o ser. Oposto aos que todos os dias de uma vivência revelada em todo o seu esplendor, demasiado triste e cadavérica para satisfazer o seu dia a dia, gritam e proclamam a sua vitimização. Não reconhecendo que são caça porque escolheram ser. Porque são minuciosos neste clamar de perseguição e arrastar de correntes sempre com um olho estrábico a tentar ver o caminho e ao mesmo tempo morder os outros.




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