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Eu acredito que o destino da raça humana reside nas estrelas. Quero acreditar que, ainda que a humanidade não tenha salvação , ainda seja possivel pertencer ao pó cósmico de um negro universo.
Eu acredito que o açúcar era bem mais doce quando eu era criança e acreditava que as vespas pertenciam a um outro planeta e que o seu voar, impossivelmente aerodinamico, fazia parte de um plano de conquista.
Eu acredito num Deus impessoal que num dos seus dias de terrivel enfado, decidiu criar o universo, depois vestiu o casaco e saiu com as suas namoradas para se embebedar até ao coma. Um Deus que não faz a mínima ideia se estou vivo ou não.
Eu acredito num universo impiedoso, vazio e tiranicamente governado pelo caos, afogado em barulho e sorte cega.
Eu acredito que existir, respirar e sofrer não passa de uma piada de mau gosto. Acredito que a vida é uma cruel piada, dissimulada por sorrisos e falsas noções de luz salvadora. Mas tambem acredito que a vida acontece enquanto vivo e existo e que portanto, mais vale deitar-me, colocar as mãos atrás da nuca e sorver todos os poucos momentos bons que ela me dá.
Pessoalmente, fascina-me e aceito a finitude que traz a morte. Não consigo absorver muito mais do que essa finitude. Não entendo como se possa sequer sonhar ou imaginar algo para além deste fim.
Vejo-me igual a outros milhões, uma imensa colecção de moléculas e água. Nada mais simples e nada mais complexo. Nem percebo porque se pretende engendrar a vida eterna. Quem terá sido o psicopata que, num qualquer dia de aborrecimento existêncial, inventou a eternidade. Um supremo sádico, que decidiu prolongar para sempre a sua triste caminhada.
Sou matéria orgânica a quem foi dado um nome. Sou um acumular de células que tem tanto de complicado como imperfeito. Um borrão no universo. Os outros são como eu. Matéria imperfeita. Nada mais.
E parece-me que existe uma imensa maioria que acha este facto redutor da dignidade humana. Não! Temos de ser algo mais. Maior. Não estamos neste mundo apenas para viver alguns lapsos de tempo. Temos de durar mais. Eternamente!
Para mim é um consolo o prémio final: o previlégio da evolução celular, por mais difusa e subtil que seja, e no final, como poeira, poder juntar-me à escuridão das estrelas.
O caminho feito em plena noite de chuva. Ainda assim, por baixo de um silêncio imenso. Imenso.
Se fosse por minha vontade, o mundo terminaria assim. Ali. Debaixo dos passos das minhas botas. Sem raios ou luzes de juízo final. Faria com que se apagassem as estrelas e a terra parasse de girar. Nesse fim, onde o silenciar do mundo seria o meu desejo, apenas precisaria da música feita pelo teu coração que bate. E pela leveza do teu respirar ao meus ouvidos, manteria acesa uma vela para ti.
... Continuarias a viver. E a encantar.
Pensamentos ao acaso ...
Perdão, foram precisos anos para compreender um facto indesmentível, mas que permanecera escondido. Sempre olhei para a atitude de perdoar como algo pessoal, longe de um qualquer conceito religioso. Longe de um fardo a que o meu orgulho teria de ceder. Achei que pela minha forma de ser, agir e pensar, seria mais eu a ter de ser perdoado do que a perdoar. Anos a persistir nesta noção, quase me destruiram por completo. Até perceber, até entender que era exactamente o contrário. Nada tem de arrogância ou pretensão. Muito menos qualquer visão excêntrica de um louco, mas finalmente descobri que eram mais as coisas a que eu tinha de perdoar do que as que tinha a ser perdoado.
Máscaras, odeio pessoas que se revestem de noções falsas. Escondem-se atrás de miseráveis argumentos e fraqueza rastejante. Que todos usamos máscaras, é real. Não acredito na sinceridade absoluta, até porque o dia-a-dia comanda. Temos de nos disfarçar. Mas fazê-lo porque não o são e querem ser, é lastimoso. Nojento.
Falhas, sou o que técnicamente se chama "um fracasso social". O meu contributo para a sociedade baseia-se no egoísmo. Limito, propositadamente, o meu respeito e paixão a um número restrito de pessoas. Falho em entender porque insistem as pessoas, em amar tudo o que se move ou respira. Porque insistem em passar férias sistemáticamente nos mesmos sítios. Porque regressam sempre da mesma côr, confundindo-se entre todo o resto. Não consigo sentir onde está o valor de gostar das mesmas coisas ou sensações. Mas a minha maior falha é abominar quem diz abrir os seus braços ao mundo! Sentir o mundo. Quando basta olhar com atenção para ver que esse mundo a que abrem os braços, até no rir se tornou igual. Falso e sem prazer.
Redenção, deixem que vos fale sobre ela. A minha redenção.
Acontece todos os dias, desde que me lembro. Muitas vezes tem de ser cuspida. Tem de ser expulsa do interior. Numa estranha forma. Na forma de uma canção de emancipação. Pelo menos para mim e não temo escrever-vos, que é muitas vezes o que tenho de realmente meu.
Redimir-me significa matar todos os meus profetas. Crenças, medos e impaciências. Porque muitas vezes custa, ficar apenas a ver. Sem nada poder fazer. Tal é o preço da redenção. Matar para encaixar. Muitas vezes deixar de sentir, em nome de uma redenção que tarda.
É impiedoso chegar à conclusão de que tudo o que nos ensinaram na escola é mentira. Não somos livres. Nunca somos realmente livres de senhores. Mesmo quando a nossa mão não treme e achamos ser senhores dos nossos actos.
E se alguém afirmou que para a redenção total temos de cumprir os designios do Livro, então onde fico eu? Sem profetas ou deuses?
Sei que a vida é díficil. Principalmente porque vem repleta de questões. Porquê isto? Porquê aquilo? E isto e depois? Mas, eis a ironia maligna, praticamente nada disto tem resposta! E quando se consegue uma mísera consolação, numa mísera resposta, depressa nos afogamos em mais perguntas. Ninguém sabe nada. Não existem soluções. É um caos, sem grande significado. Miserável turbilhão. Nada.
Conheço quem compare a nossa existência a um jogo. Uma matriz, onde não passamos de peças. Juntinhas, para efeito e causa. Se é um jogo, existimos, portanto, durante um certo tempo. Um dia estamos cá, noutro termina. Será, então, melhor gozar enquanto posso. Mas tendo sempre a noção do fim. Verdade absoluta. Se morrer de repente, por triste que seja, faz parte do jogo, não é? Afinal somos criaturas como as outras: com prazo de validade genético. E se alguém morre aos 80 ou 90 anos, muitos parabéns! Teve muita sorte. Mas eis a grande novidade: o universo não o ama! Sabia? Pior ainda, nem sequer o odeia! Não sente nada por si; é apenas mais um. Simplesmente existimos. Realmente, nada mais.
Avisem-me,
quando puder acordar e sorrir por um novo dia
Avisem-me,
quando os meus dias se tornarem na viagem que anseio
Avisem-me,
quando aos meus ouvidos chegarem boas novas, que não as de um milagre de apocalipse
Avisem-me,
quando as vossas promessas se cumprirem, posso assim descansar
Avisem-me,
para que acorde dos meus sonhos e vos ceda a minha sede de caminhar em frente
Avisem-me,
quando o vosso paraiso se tornar quente e acolhedor, à minha desventura descrente
Avisem-me,
se não escutam o vosso grito, saberei não estar só
Avisem-me,
no caminho para o fim, estaremos juntos
Avisem-me,
quando conseguirem amar-me, conseguirei finalmente, iluminar a minha escuridão
Avisem-me,
se na visão do que vos enoja, me sentirem, lá estarei. Para vos saudar.
Nada. Fim.
Renascimento. Rotina.
Voltar. Esmorecer.
Trémulo. Fraco.
Todo. Nenhum.
Desilusão. Perda.
Amor. Solidão.
Decomposição. Vazios.
Amigo. Vão.
Tu. Eu.
Motivo. Fome.
Deus. Utopia.
Morte. Fim.
Mão. Calor.
Tristeza. Encontro.
Braço. Corte.
Sangue. Rubro.
Questão. Procura.
Fútil. Viver.
Noite. Minha.
Verde. Olhar.
Cinza. Sorriso.
Finalidade. Sonhar.
Voz. Palavra.
Meu. Silêncio.
Ao fita-lo, em voo rasante sobre a minha cabeça, voltei a tomar a consciência do que já sei, mas por vezes esqueço: a minha condição humana.
A noção clara e muito cruel, de que todos os meus esforços de superação são inúteis. E olha-lo, sabendo que me ignora, serve de suprema ironia! De que serve caminhar? Ter tudo. E nada possuir. A não ser a minha consciência, também essa muitas vezes, senhora de si. Sem que possa impedi-la. E ficar pasmado. Aterrado e de boca aberta. De olhos semicerrados, como que cego por luz extrema. É isto, a que chamo vergar. Ao fita-lo lá em cima, senti toda a minha impotência. Todo o meu peso ridículo sobre esta gravidade. Esta imunda terra! Solo que me prende!
O vazio que se instala em mim, é tão pungente, tão medonho, que nessa hora, num acesso de loucura, poderia findar os meus dias. Ali.
Mas, porque sou grotesco e sem respeito por mim próprio, baixei a cabeça. Envergonhado. Descaí os ombros, e continuei. Mesmo sem o ver, desvanecido no céu nocturno, consegui senti-lo. E, raro e bizarro, uma lágrima colou-se aos meus lábios...