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O truque é achar que estou vivo. Que sinto e que não vejo no olhar o deserto que morre de sede. Acho que consigo, creio eu. Que consigo buscar companhia e estar sempre a vislumbrar o fim do dia. Observar a escuridão que poisa sobre as pessoas. E já faz tempo que me aborrecem certas coisas. Como por exemplo, a incapacidade de encontrar esperança em tudo o que nos ilude. Pois, eu gosto de pensar que sou um caçador de sonhos absurdos de felicidade. Porque este tempo em que vivo me odeia e eu, ainda menos o tolero. Só assim me sinto vivo. Longe de tudo, entre aquela tribo que conheci, onde por uma cruel partida da vida os meus olhos incrédulos e ateus, mergulharam no xamanismo daquele velho negro e enrrugado que me deu de beber a "mistela dos deuses". Sabia a veneno e por dois minutos, transformou as minhas entranhas. Depois, despido e deitado na terra quente, durante toda a noite que restou vi-o dançar e falar. Creio que, finalmente, soube o que era ter paz e descanso. Creio que possa ser isso a morte. Sem luzes ao fim. Apenas escuridão. Sem medos.