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Cada vez me sinto mais e mais compelido a não tentar perceber porque razão a maioria das pessoas receia a Morte. Corro o risco de ser mal interpretado, diga-se. Eu respeito a vida. A nossa necessidade de procriar e dar continuídade aos genes. Mesmo que observe para onde caminhamos. Mas o que posso fazer? Se não consigo evitar esta minha visão soturna da vida? Se aos meus ouvidos ela não soa maravilhosa?
Se calhar porque me tornei neste ser, furiosamente objectivo. Não me interessa deslindar os mistérios do universo. Mas porque não admitimos o óbvio: pensamos ser especiais. Únicos. Eis-nos egocêntricos! Somos os melhores e mais racionais!
Mas, até nem se trata de retratar a vida como apenas desilusão e dor. Nem sequer lamentar a vida em si. Para mim isso não interessa porque é tão subjectivo afirma-lo. Depende da forma como se olha para ela. A vida. O que para mim é uma poço de água estagnada, para outros é o contrário. Por isso, cada indíviduo cultiva a vida como quer. Diferente de mim, que tantas as vezes a acho provisória e vazia.
Quem possa estar a ler as minha aberrações, que não esqueça, que esta é a minha visão pessoal. Não me interessa generalizar. Por isso odeio as mentalidades de rebanho, que tudo generalizam e vivem em alegria!
Mas não consigo deixar de odiar a precaridade desta vida. A incapacidade de reter um sorriso genuíno. Uma memória que nos torne maiores. Em vez de nos humilhar e debilitar. Na juventude e na velhice, o que é que vivemos, de facto? Trivialidades! Mascaradas de sonhos, para nós e para os outros. Enfadados e a tentar fugir e nós mesmos.
Confesso, acho que viver nem merece muito empenho. Dir-se-ia um aborrecido passatempo. E qual a explicação para que nos agarremos a ela com tanta força. Não acho que exista alguma. Pelo menos racional e puramente objectiva.
Na Morte, tão temida e infame, onde reside o mistério? E, já agora, a mística? Porque deverei tentar explica-la? A não ser para alimentar tristes cultos e esperanças idiotas.
A meu ver, a Morte é o final do ciclo da vida. Tão só. Nascemos, crescemos, procriamos, morremos. Animais. Nada mais.
Nesse ciclo, temos a opção de fazer o que queiramos da nossa existência. Até chegar a Morte. O fim.
Temer esta inevitabilidade é recusar o descanso definitivo. O Omega da desilusão. Assim, se calhar deveríamos antes, temer a vida e as suas incertezas.
Montaigne, dizia algo como isto, se bem me recordo: " Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir; nenhum mal atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é um mal; saber morrer nos exime de toda sujeição e coação."
Termino com uma citação de alguém que muito admiro, André Díspore Cancian:
" Enfim, devemos acreditar em hipóteses que, atualmente, não podem reivindicar para si qualquer respaldo da realidade conhecida, que fazem de nós mesmos o que não somos — mas gostaríamos de ser —, apenas porque isso conforta? Ou devemos encarar a realidade e a natureza humana com honestidade, tais quais se apresentam a nós? A escolha é de cada um, pois ninguém tem a obrigação de ser ateu, cético, materialista, livre-pensador, niilista, racional, científico ou mesmo coerente. Mas, pessoalmente, fico com a segunda opção, pois meu desejo nunca foi simplesmente acreditar, mas saber, ainda que, para mim, isso signifique admitir-me ignorante, possuidor de um conhecimento que é sempre provisório. Mesmo assim, sempre preferirei a honestidade da dúvida; é ela que insiste em pôr em questão tudo aquilo que já foi solucionado; é esse o tipo de consciência que considero de primeira importância para que haja progresso em qualquer tipo de conhecimento."
Possa isto servir para a minha morte ...