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Testemunho vital de vida é o sangue. Não pretendo explicar porque me fixo no sangue. Porque me fascina essa cor púrpura. É vida, dizem. Uma redundância, para mim. É muito mais do que isso. Não seria por acaso que os antigos guerreiros bebiam o sangue fervido dos seus inimigos. Talvez venha daí o desejo vampiro. Talvez seja isso. Beber sangue, ter vida.
Para mim é diferente. O sangue é a mais pura e verdadeira aproximação à vida e à morte. Um mero fio deste líquido pastoso, que escorra por tempo em demasia, condena a uma morte lenta e dolorosa. Ou então, um fio desta nata viva entrando no corpo, pode salvar uma existência.
Vejo-o muitas vezes como dôr. Bem-vinda. Um pouco à imagem de uma tatuagem. Já vou na quarta marcação física, acabadinha de terminar. Por entre o véu de transpiração e dôr, fascina-me o tom tinto do meu sangue. E depois de limpo com um pano húmido, a revelação da obra esculpida na minha carne transforma-me no que realmente quero ser.
Cada marca é uma recordação, para mim. Não se trata de uma moda ou mera tolice infantil. É parte de mim. Sou assim. Eu. Não brutalizo a minha carne apenas por que quero parecer cool. O sangue que escorreu durante esta obra de arte vai ficar como recordação de algo mais profundo e marcante. Ainda mais nítido do que as marcas que sulcam os meu braços.
E, coisa estranha e quase transcendental, ao ver-me completamente nú ao espelho, quando me virei de costas e abri os braços para me ver, sem remorsos ou obstáculos, senti que sou capaz de conquistar o mundo! Que afinal não sou tão grotesco como penso.