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Na obscuridade dos nossos pensamentos é onde encontramos a vontade e o poder de matar. Em revelações de livros de conduta e adoração, matamos os nossos filhos, escorraçamos os inimigos e consolamos o festim e o desejo de obedecer e submissão.
E não vemos ou ouvimos nada mais. Tudo o que nos rodeia é secundário e perfeitamente alcançável pela mão de quem prega as palavras e postula os nossos gestos criminosos como necessários. Como um mal necessário.
Porque razão sou forçado a aceitar isto revela-se numa triste conclusão: sou peça de engrenagem. Mesmo lutando e recusando-me todos os dias, desde o momento em que abro os olhos até ao sono, temo não ser diferente. Temo não conseguir produzir resultados.
Lembro-me das nossas conversas, sempre tão vastas e regadas com aquele álcool que aquece e alimenta o brilho das noções. As horas debaixo do fumo de cigarros e a música de Bach - que ambos amamos desalmadamente. As palavras tentam exemplificar como somos diferentes e tão aparentados, tanto na loucura das ideias como na postura de exímios palhaços que riem - de si e dos outros.
Por vezes revelamos os nossos ódios e as nossas vontades de aniquilar. Os seres humanos são criaturas mesquinhas e cruéis. Todos padecemos de inglória de desejar matar e não poder. Todos somos atraídos pela escuridão que resvala na alma.
Nunca chegamos a qualquer conclusão válida, pelo menos que nós realmente sintamos como aceitável. Dois ateus confessos, duas moléculas num mundo de crenças fúteis, de palavras escritas que não se transformam em carne humana. Antes se tornam velhas e caducas, para dois vagabundos como nós.
Respeito.