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Chega a ser absurda a necessidade de preencher os dias de solidão com coisas e pessoas. Em vez de aceitarem estar sós como uma suprema necessidade que, em vez de significar rejeição ao mundo, seja antes uma forma de abstracção como qualquer outra, deixam que se instale o pânico na consciência. E como tremem de medo! Perante a solidão, a falta dos outros.
Eu não sei como explicar esta minha capacidade, sinceramente. Esta propriedade que tenho para limitar os horizontes a quem me rodeia. E ainda assim, deixar que poucos entrem no meu mundo. Os poucos? Os verdadeiros amigos; criaturas como eu.
Para os outros, trata-se de um defeito. De uma "disfunção social", como tão a gosto gostam de designar. Mas sei melhor, muito melhor. Aprendo constantemente e cada dia que passa se torna mais óbvio: não sirvo para prácticamente nada para o qual me designaram. Por isso necessito de fazer o meu próprio caminho.
Aqui se encerra um acto de amor pessoal. Por muito que trema perante o mero olhar a este pensamento, eu tenho necessidade de amar-me como sou. Ter a noção do quanto sou destoado com a maioria das necessidades dos outros, incapaz de justificar a ânsia que me percorre quando procuro solidão e não encontro, implica que sinta amor. Afinal, se não começar por mim próprio, como posso amar outros?
No entanto, parece que é sempre preciso que justifique e demonstre o meu amor por outras pessoas. Vejo como ficam espantados quando descobrem que vejo qualidades e beleza nelas. Será que não reparam que somos todos iguais? Todos!
E acabo por me cansar. Fico exausto de pensar sequer em justificar amor. De tentar explicar porque acho que amar é egoísmo e fraqueza. Mas também grandeza de sonhos e força de espírito.
A solidão, a vontade de isolamento, pode ser partilhada como se num acto de amor. Não tenho necessidade gritar aos sete ventos o meu amor.