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Um lapso momentâneo da razão ...
" Como é possivel explicar-te a minha vida? Onde posso assentar arraiais e deixar fluir a dor da admissão? Onde tudo se resume a procurar um fim, acertando contas com tudo?
Mas deixa que divague por outros caminhos que não os teus. Que sejam os meus assuntos a interessar, origem de todos os meus sonhos. Mesmo sabendo, intímamente, que não entendes. Que não aceitas esta minha estranha fixação. Demonologia privada, já o chamaram.
Nunca me senti garantido de nada. Nunca senti o privilégio de poder assumir amor incondicional. A sensação intíma de ser eu mesmo. Nasce de uma negação, da falta de compromisso. Tantas vezes me foi repetido. Tantas vezes rasgado em pedaços pela realidade.
Se calhar até é tudo isto. Se calhar. Ou então sou apenas um mero caso de perdido e achado. Quase dá vontade de rir e chorar, não? Isto acaba por ser o mais velho truque do livro desta merda de vida. Correr e respirar, acreditar! Manter a luz acesa. E no fim? Nada. Igual a outros dias.
Muito me espanta a capacidade de deduzir em vez de agirem. Tanto se pensa e acha que conhece. E no entanto, recomendo-te que voltes a olhar para esse caixão. Verifica e volta a fazê-lo. Se calhar, quem tu pensas lá estar afinal ainda não morreu.
Os medos que te atormentam não são os meus. E depois, quando abres os olhos, é dia. A luz do sol tem essa têndencia: afastar a frustração e as palavras transformadas em punhos de raiva.
Mas como te sentirás se te disser que não és nada? Se te mostrar que as tuas razões e a tua fé não interessam? Que não existe diferença no que me dizes. Que tudo se cria e destrói num corte. Os sussurros de esperança são tão incapazes de me provocar um esboço de sorriso, sequer.
Um coração de pedra, dirás. Seja, o que quiseres. Mas o meu fogo nunca será o teu. Porque não o sei controlar e são mais as vezes que me queimo do que as que me aqueço.
O sofrimento é isto. É a negação e a incompreenção. Passa por ansiar pelos acordes silenciosos da noite, enquanto a maioria suspira pelo dia.
Talvez a dôr me seja demasiado familiar. Pelo menos a física. Mas a doença da alma nunca será aceite. Mesmo sabendo-me pôdre, sabendo que estou doente, jamais aceitarei a vida como a pintas e desejas."