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Parece que, afinal, tudo correu bem. Nada apontava para o facto. Tudo previa desastre. Não por nós, diga-se. Antes pelos outros. Sempre os outros, não é?
Com o convite feito, em cima da hora e mesmo com todas as minhas dúvidas e previsões, não te foi possivel recusar. Tínhamos de aparecer, mesmo não estando preparados.
Mas, afinal, tudo correu bem. Mesmo sentindo como estavamos diferentes e distantes de tudo o que nos rodeava. E de facto, seria impossivel passarmos despercebidos no meio dos copos e do brilho das luzes. Entre o "vestir bem" e o perfume francês, senti os olhos cravados em mim. Como não? Barba de quatro dias, cabelo rapado e a pele já escurecida pelo sol que pouco deixo tocar-me. Os olhos viajaram pela minha camisola preta e sem desenhos, pelos meus calções de bolsos e principalmente, porque as pessoas tendem a não saber aceita-lo, pelas tatuagens nas minhas pernas... tudo entre sorrisos embaraçados e pouco tolerantes.
Tu, cabelo apanhado atrás da cabeça de forma descuidada e natural, envolveste o teu braço no meu. O rosto que aprendi a conhecer, firme. Os olhos maliciosos, seguros. O queixo levantado e o caminhar sereno. Pouco te importou que olhassem as tuas botas pretas ou o teus calções curtos. Perante o teu riso, senti que poderia absorver tudo, mas tudo, nesta merda de mundo. Só pela tua mão sairia da escuridão para entrar num mundo que nunca será meu. Porque não o quero e porque me mataria mais rápido.
Não precisava de mais provas, claro. Mas tu assim o fizeste. Onde outros teriam abandonado o incoveniente, tu acompanhaste. Seria bem mais fácil negar o convite, afinal tinha chegado em cima da hora. Mas eu não esperava outra coisa de ti. Nunca foste mulher de gostar de coisas ou pessoas fáceis.
Correu bem. Mesmo bem. Nem que seja pelas tuas gargalhadas de prazer incontido.
Mais uma bofetada tua num mundo de ovelhas.