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Desde cedo que percebi a noção de perda. Não uma perda relativa a objectos. Isso acontece todos os dias e eu deixei de me importar. Refiro-me claramente, a perder alguém. Refiro-me a escolhas e decisões que nos afastam dos outros.
A noção de perda, a real impressão de que o mundo caí debaixo dos nossos pés, é uma das mais intensas viagens ao inferno que alguma vez fiz. E já tenho algumas dessas viagens cravadas em mim.
Mais é quando perco que mais vivo me consigo sentir. Porque tudo clareia. Subitamente, tudo se torna lúcido. E aí vejo que que realmente perdi e o que de facto, quero. Para o dia de amanhã.
Desde cedo entendi que para sabermos o que são realmente as coisas, as pessoas e o que nos rodeia, temos de perder. Temos de exprimentar esse vazio e essa agonia. A partir daí torna-se fácil. Ou antes, arranjamos imunidade. Não a cura. Imunidade.
Só percebo se amei, se tiver perdido. Só entendo como amadureço se me arrastar para fora do poço. É como só conseguir ter uma fiel noção do que é a luz após conhecer a escuridão. Quando o ódio surge advem da noção de respeito. Desejar o silêncio e a penumbra da casa após o turbilhão da estrada.
Quem deseja o frio do inverno tem de, necessáriamente, já ter saboreado o calor do verão.
Não existe outra forma. Perder para ganhar.