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Todos os dias são iguais. Em todas as horas pressinto-te desesperado. Aparentemente, tudo parece correr como sempre quiseste. Tu sempre achaste que controlavas os riscos. Mal ou bem tu quase sempre aparentas normalidade.
Posso discordar? Adianto sequer, recordar-te que essa estranha traquilidade não te assenta bem?
Por vezes, vacilas. Insistes em ligar para o seu número de telemóvel. Já não existe. Ou está vedado a sonhadores como tu. Nada sei. Apenas que as tuas mensagens de partilha de desespero e amor nunca parecem chegar a ela.
Mas sei o que te deixa os olhos brilhantes: o desejo de ouvir a sua voz. De novo. Nem que seja por escassos instantes.
E tenho notado que desde de alguns meses para cá, tens mais dinheiro. Até pretendes comprar um carro novo! Dizem que amadureceste. Eu não creio em falsas aparências. Quando entro pelo teu apartamento fora, o que sinto é vazio. Mesmo que esteja impecávelmente limpo e arranjado. Mesmo com o topo de gama preso na parede ( onde se encontrava o seu retrato ...), a zonas escuras são cada vez mais presentes. Quase se torna física, a tua saudade. Tão fortemente dolorosa.
Substituir o calor humano, o cheiro da paixão por um majestoso ar-condicionado, permitiu controlar o clima e afastar as tempestades? Poder dominar a televisão a teu bel-prazer e dormir no sofá porque receias a lembrança quando te deitas na cama do quarto, foi um preço justo de troca?
Então, a dignidade que aparenta traquilidade e bem estar é apenas um estranho chorar sem lágrimas. Todos os dias são igualmente os mesmos. Passados a viver em desespero pelo que perdeste?