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Eu sou ...
quando conhecido, venenoso de intenções
visível, monstro, criatura de escarpas
solidão, sempre, para sempre
sinto-me invisível, transparente
Escuta-me, estou aqui ... eu,
caminho, sempre, horrivel
oposto à tua beleza, só
afastado, sem destino
... mas em espera?
E afogo-me, sem esperança
afundo-me, só
em vagas espessas, cadáver
pequena condição, transparência
... morto
Por vezes é preciso gritar! Esborrachar todas as matrizes que temos, sobre modos e desvios de comportamento pessoal. Reconhecer as emoções. Saber quando se sangra. Sentir-lhe o odor. O sabor. Já alguém sentiu, realmente o sabor e odor do sangue? Duvido. Muito. Porque quando o sentimos, mudamos. Nada dessa santa idiotice vampiresca! Mas sim, um prolongamento da nossa raiva. Do nosso ódio! E a quem? Importa?! Não. E não! E quando sentimos o sabor, o cheiro, sabemos da nossa implacável condição: reles animais. Não iguais aos que povoam a nossa terra. Piores. Inferiores. Odiamos tudo. E nós mesmos concedemos a vaidade de achar que somos superiores. Tralha! Nada mais.
As minhas emoções são o que são. Sou frio? Milhares de vezes. Arrogânte! Besta! E sangro. Esmago tudo em que acredito, para voltar a reerguer. Sou assim. Niilista. Para mim, apenas interessa a vontade final. A minha. A total incapacidade de sentir!! Impossivel, não é? Infelizmente, ainda não descobri o método. Para romper com tudo. Só pela morte.
Não me refugio em assuntos vazios. Sou idealista. Muito. Sei que muito do que penso é mera utopia. Mas não preciso de santos ou demónios, para me castigarem. Eu sou o meu carrasco. Ninguém mais!
Caçador de luzes angelicais? Eu?? Não. Senão não faria do meu mundo um patamar para o desconhecimento. Só atingido pela paz da escuridão.
E odeio! Odeio-me. Mas, e depois? Bem-vindos à minha fuga ao marasmo. À minha imundíce!
Hoje acordei assim. Com vontade de abandonar tudo. Já não é a primeira vez que me sinto desta forma. Tal é a forma como misturo emoções. Nem sei porque devo manifestar estas palavras. Gostaria de variar um pouco. De preferência, escrever sobre emoções mais alegres. Mesmo sabendo que são poucas e preciosas, gostaria de poder descreve-las. Mas não me é fácil. Quase acredito que nem sequer me é permitido. Quando começo a escrever sobre algo que me sossega, que me faz sentir mais "normal", resvalo sempre para um lado mais obscuro. Cada vez mais profundo.
Este "buraco" tem consumido reservas preciosas da minha energia. E quem ler isto, irá pensar de duas maneiras: Ou estou apenas a criar uma fachada, simulando o que não sou. Ou, se calhar, serei mesmo desiquilibrado. A precisar de descanso urgente.
Também reconheço, que se tem tornado um alvo preferencial para quem gosta de partilhar sentimentos, como os meus. Para alguns, até se tornou local de alguma "descompressão". Eis uma palavra interessante... Também tem provocado tristeza nas pessoas. Eis outra palavra interessante. Enfim: sinto-me esgotado. Sei que se continuar, o que escrevo vai ficar ainda mais negro. Deprimente. Tenho de decidir o que fazer ...
Nunca houve uma amanhã. Onde eu pudesse desejar o fim deste vazio. Em austera demência, a verdade me banhou. Onde florescia a fé e a ternura, espinhos cravados na carne, são agora a minha única luz.
Este infindável vazio, sem salvação, não escuta o que digo. Nem o que grito. Apenas o que escrevo. Prova de insanidade. Palidez devassa.
Escolhi a solitude dos meus anos. Cada palavra, uma dor. Em cada gemido, uma certeza. Por águas turvas, o amanhã não voltará. A mim. Nem por um grito, o fará. Resta-me permanecer. Ardendo, em agonia. Pelo que poderia ter sido.
E não lamentar essa vontade. Sentir apenas que essa será a vida. Os traços na cama, vazia. Ainda se respira o teu perfume. Por entre malhas de conhecimento, tudo me ensinaste. Deste-me tudo. E por minhas amargas mãos, te mostrei os meus pensamentos. Como são rápidos! Em direcção ás nuvens. Tão negras. Porque em mim entraste. Bebeste onde pernoito. Embriagada, cantaste comigo. Embevecida. Deslumbrada. Subiste à minha consciência. Ensinei-te a correr. Morder. Olhar a tempestade.
O vidro da tua alma, partido. Tudo o que és. O que serás. Ali. Partido. Distorcida visão. Ainda assim, sublime! Cativando-me. Sorrio. E não te lamento. Porque permaneces, atenta. Olhando-me.
Vestimos a mesma roupa. Perseguimos a mesma aurora. E o mesmo riso. Por baixo do céu, rodopiamos. Conhecendo o caminho. Feito de espirais.
Primeiro, um golpe. Um corte.
Depois, um fio de sangue. A alma, esvaí-se.
Uma lágrima, rosto abaixo. Apenas uma.
Um grito. Mudo. Desmontando o universo.
Semicírculo agreste. Lenho rompido. Decifrado.
O coração, cruel mestre, acelera.
Um leve desejar. Que não viva. Nunca mais.
Por lamentos e segredos, o vermelho instala-se.
Puro. Intangível. Tinto, de agonia.
Tão plena é a vida. E tão fugaz, é a minha vontade.
Plácidas carícias. Percebo o que me submete. O mundo.
Em sangue. Braços que se abrem. Pingas rubras.
Os olhos em pó. Já secos, por desvirtuadas visões.
E só pela noite me transcendo. Impossivel e grostesca visão.
Flores. Ao canto. Antes brancas. Eis que se tornam vermelhas.
Como o desespero. Que não escurece. Apenas desespera, tinto.
O que dizer, desta gente bonita
Que de mim se afasta?
Estas belas e virtuosas pessoas
Onde se instala a dúvida,
Serei animal encurralado?
Estarei pronto a envergonhar-vos
Com as cores que me açoitam?
Preenchendo os vossos dias, a negro,
Porque a gente bela, não traí
O amor e a amizade!
Só os feios o fazem,
Animais, apeados da virtude!
Gente bela, esta
Que não grita. Não precisa.
Pois tudo lhes pertence.
O mundo. Os carinhos.
Eu, monstro, grotesco e orgulhoso, me confesso! Que a luz do sol não me aquece. Que apenas consigo olhar-te através da escuridão. Que a minha esperança, se tornou apenas suposição. Morta. Por minhas próprias mãos!
Confesso! Que nada resta. Onde haviam sorrisos e gargalhadas, mora agora o meu grito. O eco da minha desilusão. Do meu despudor.
Eu, que me orgulho, de me ter sido trancada a porta, porque te sou uma ameaça, porque de deixarei sem vida, apenas te juro, implacável verdade. Para me libertar.
Olho-te. De onde estou. Finalmente, te posso olhar. E nada temer. Porque os teus gritos não furam esta negra certeza. E não morras! Não agora. Quero que me vejas pular o muro. Correr para a liberdade. Gravando no peito, a quietude do meu amargar. Perseguindo, a paz do esquecimento.
Hoje chegara, de mansinho. Uma raiva surda. Quase debilitante. Um ladaínha de uma certa, e persistente existência. Por vezes, o que chamo dança da morte. Pelo menos, para os meus sentidos. Mas, em vez de se propagar como é habitual, quase derrotando tudo o que quero, algo alterou esta estranha dança. Tu.
Quase não te vi chegar ao meu lado. Animalidade que em mim habita. Que me torna pouco dado a olhar ao redor, quando mergulho nesta raiva. Nem sequer ouvi a música, que na penumbra da casa, soava. Como eu a amo: Dura. Rápida. Feia. Como eu.
Sendo eu dado à primazia dos instintos, sempre tão atento, deveria ter ouvido os teus passos. Ou se calhar, não. Porque quando queres, caminhas como a brisa.
E tão só, estendeste as mãos. Irrecusáveis mãos! Ergui-me, por ti. Subitamente, ferozmente consciente dos meus sentidos. Abraçaste-me. Envolvido nos teus braços, no cheiro do teu cabelo e na sofreguidão do momento, esquecido da maligna dança da morte, entreguei-me. Como só tu o consegues. E, dançámos.