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Talvez te seja estranho, quando falo sobre escuridão. Deveria antes, mostrar-te a luz. Mesmo assim, deixa que te afirme que existe claridade onde me arrasto. Não é uma prisão de barras. Apenas se respiram as cinzas da desilusão. Mas divago. Abstraio-me ...

Para quem vive de sonhos e pensamentos altruístas é complicado aceita-lo. É tão ingrato sentir como se escapa a verdade entre os nossos dedos ... Mas nada dura para sempre. E esta escuridão é muito, mas muito diferente do que alguma vez imaginaste. Não estou louco, pelo menos assim penso. Aposto que para ti, escuridão equivale a demónio. A pragas e fantasmas. A bruxas e a perdição. Querida, não poderias estar mais equivocada! Todos nós temos esta ânsia de deixar de pensar como todos os outros. Ir contra os desejos dos que nos querem ver iguais. Apenas, como deves saber, a maioria prefere morrer sem nunca ter absorvido a escuridão. Não, não é escuridão da noite, que dessa falarei noutra ocasião. É a escuridão sem deuses e onde apenas reina o homem. Esse mesmo. O homem. Capaz do pior e do melhor. Cara dama, deseja saber onde se encontra o demónio de que tanto foge? Dentro de si! Dá vontade de rir, não é? Tentar fugir do que está dentro de si: nos seus instintos e na sua mente.

 

Mas neste coração bate fundo o amor. Sou capaz de amar. Nem sequer pretendo que vejas pelos meus olhos. Que existe felicidade neste breu de alma. Porque vou contra tudo o que julgam correcto e amável. Nos excessos da alma é fácil encontrar a escuridão. E vejo tão profusamente claro! Não imaginas o que nos pode causar o discurso da alma. Quando é tão diferente e negro. Tão oposto ás canções que te entoam os teus pais, os teus amantes e as tuas amigas de peito. Beber um trago que seja, desta noção embriaga. Vicia. Transforma. Dá vida.

Escuridão que não chama por deuses. Feita de cinzas  de alma. Desilusão e poder de vontade.

 

Não sei porque te falo de tal noção. Tão imensa é a vontade de mudar a minha pele. Expurgar a solidão que provoca a minha instabilidade.

Escuridão é afastamento. Reconhecimento da minha imperfeição e incapacidade de viver uma vida de cabeça curva.

Escuridão é a minha recusa a viver em amorfa entrega. Cristalizado por um brilho que abomino. O brilho de quem aceita que não existem saídas.

 

Dias transformados em escuridão. Vivendo cada momento numa procura insana. Pregador do fim. Do Nada. Miserável condição.

Deixa que reine o  breu imenso. Encontrando a salvação na lama, na imundice onde só a morte reina.

Sobrevivente das cinzas, caminhando entre a ruína e a desolação, ainda aspiras à ascenção. Mesmo que seja subindo pelo esgoto da tua condição.

Já desapareceu a chama que iluminava esta escarpa desolada. Nas tuas mãos, resta apenas gelo e destroços de uma cruel escolha. Lembra-te do caminho, lado a lado com Azazel, apenas para antecipar o que já há muito  sabias. Longe do céu. Sem deus.

 

Crente, orando para as cinzas cinzentas. Olhando o caos, caminhando por ruas dementes, em direcção ao fundo. Resoluto.

Não existe sorriso nos teus lábios, quando vês os pilares e raízes do que julgavas verdade desvanecendo-se. Andando em terra queimada, tão só. Como te invejo! Vais ao encontro da perdição. Por fim, serás livre. Ruína e glória ao alcance da tua mão.

 

Os dias de hoje são de charada. Afinal, a verdade não me deveria espantar: somos forjados de incapacidades. Tudo se torna relativo, perante este olhar sardónico. Reduzir a existência a uma esperança. Migalha deitada a um cão. Diz o poeta que deve ser sina. Criaturas de duas patas, forçadas a coexistir. Beber da mesma água.  Maldita imperfeição!

 

Mas, por vezes, consigo ver outros. Que ainda acreditam. Que ainda lutam por coisas tão simples como carinho. Simples? Puro engano! Nada mais complicado. Não sou eu. Não sou igual. O que acredito está há muito incendiado por desliusão e ácida incapacidade céptica. No entanto, é absolutamente deslumbrante ver a inocência, a capacidade de descernimento, cruel e mesmo assim visceral, que  certas pessoas têm de se expor. Um baixar de escudos e espadas. Oferecer o peito, numa situação de confessa  demonstração do que se é. Sem rodeios.

Há esperança, portanto. Para mim, bastardo cínico e desconfiado, esta palavra vale mais do que qualquer outro sentimento. Esperança.

Talvez dentro de alguns anos se tornem diferentes. Creio que será inevitável, a perda de ideais. A capacidade  de colocar dúvidas cínicas vai surgindo silenciosamente. Este cinismo, dúvida, é uma casca de protecção. Ou seremos delapidados num planeta de predadores. Talvez deixem  de olhar de forma tão espantada para a vida. Pelo menos, isso tem acontecido comigo. Por vezes sinto-me velhinho. Com 200 anos. Mas sei admirar estas gemas. Criaturas fascinantes, que me recordam que ainda existe espaço para sonhar. E desejar coisas tão únicas como esperança em algo melhor. Se não para mim, incorrígivel bípede, pelo menos para elas próprias.

 

Hail ...

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Caro senhor,

 

permita-me a insolência de lhe dirigir estas palavras. Sei que deve estar ocupado, cansado. Exausto, por tantos afazeres. Não lhe tomarei muito tempo. Até porque sei que não lerá estas palavras. Ainda assim, necessito de me purgar. Preciso de me libertar destas palavras.

 

Quero dar-lhe sinceros parabéns! Embora note que está a enfrentar uma crescente resistencia no seu caminho, direi antes cruzada, para uma obstinada manutenção do catolicismo e dos seus milhões de aderentes nos pergaminhos do século XVI, a sua teimosia e visão são estonteantes!

Tenho notado que grandes nações e alguns líderes,  expressaram a sua discordância, após as suas afirmações de que os preservativos, além  de ineficazes para protecção contra a SIDA, são,  de facto, uma ajuda para que este vírus se propague! Note, caro senhor, que tais afirmações, vão contra a constatação científica - provada, caro senhor, por evidências reais- de que o latex é uma barreira eficaz e muito segura contra tal vírus!

Mas creio que o senhor se mantém insolícito a quaisquer provas ou informações que o possam contrariar. Admirável.

O caro papa parece também cego ao que se passa em África, onde cerca de 22 milhões de criaturas estão infectadas com esta praga. Calcula-se que cerca de um milhão e seiscentas mil pessoas morrerão em breve, por causa deste mal. A desinformação é a grande responsável por todos os males, incluindo  este. Tornou-se pandémico por não haver informação. Porque o uso do preservativo é muito reduzido, o direito da mulher a escolher um parceiro é praticamente nulo e, acima  de tudo, porque os ensinamentos cristãos são cegamente seguidos! O próprio arcebispo de Moçambique bastas vezes proclama que os preservativos são intencionalmennte infectados com o vírus, por estrangeiros. Deverão assim, ser evitados. Tudo isto, enquanto o seu povo caminha mais  depressa para a morte.

 

Mas acho que não devemos criticá-lo, caro senhor. Acho muito injusto acusa-lo ou  censurar a sua conduta e a sua crença, bom pastor. O senhor apenas está a fazer o seu trabalho. Será que não percebem? O papado foi criado para preservar o dogma religioso. Não para arrastar a igreja para caminhos progressistas! Mesmo que a sua conduta provoque a acelaração de uma das mais  temíveis pragas. Arruinando economia e matando às centenas. Destruindo e arrassando aldeias inteiras. Senhor, se a sua igreja já demonstrou alguma coisa, foi a indiferença total em relação a deus e a imobilidade dos seus ensinamentos. Acredite, se eu fosse esse  deus, estaria muito irritado com quem me representava! Mas se calhar, não. Talvez o senhor caro papa, e deus, tenham um vicioso sentido  de humor. Quem sabe?

 

Sabe, já me chamaram pregador  da queda. Porque acho que o  senhor prefere que morram a contrariar a doutrina católica. Prometer uma teórica  salvação em troca da prática de sexo desprotegido é desumano. É insensato e maquiavélico.

A ciência está a procurar soluções. A tentar explicar como aparecemos. A filosofia tenta explicar a mente, a imperfeição de um mundo imperfeito. O que é que dá a sua doutrina, caro senhor? A verdade. Mas uma verdade onde não são postas questões. Não se pretende nada novo. Aceitam-se as  divagações de criaturas velhas. Nascidas muito antes do entendimento de que a terra não era plana. E que o sol não girava à volta da terra.

 

Caro senhor, peço desculpa pela maçada. Peço perdão pela insolência. Creio que o deveriam deixar em paz. A si e à sua religião. A sério. Já  deixou de importar, realmente, à  raça humana na sua procura de compreenção e significado. Tornou-se numa absurda trivialidade. Mas a grande piada é que muitos ainda não perceberem! Tentar dialogar consigo ou com qualquer outra religião, é impossivel. Porque certas mentes se tornaram fósseis, lunáticas. Uma parede.

Mas  saiba, existe uma guerra de ideias a ser travada. E todos dias ganhamos terreno. Estamos quase lá: a rasgar-lhe a  carne do calcanhar, caro senhor. Passo a passo. Centímetro a centímetro. É assim que nos aproximamos. De si e  de todas as outras religiões. Contra os que preferem esquecer factos a favor da fé.

 

Durma bem caro senhor, bem o merece.

 

 

 

Queres que te fale sobre luz, neste mundo de escuridão. Parecem rendidos a um estranh brilho. Ilumina-vos a vossa fé, vejo. Nem me atrevo a perturbar tamanha veneração divina! Pequenos cordeiros de deus.

Eu nãote trago boas novas. Trago-te estes parágrafos, banhados por sangue negro. Não trago boa ventura, neste momento. Persisto em te chicotear a consciência. Embora saiba que nunca esqueces o teu deus. Embora escondas e procures omitir o que te vai na alma. És o que és!  Hipócrita. Alimentando-te em festa. Trocando chocolates, vendendo a  alma. E já agora, a do criador que adoras. Por um punhado de doces!

 

Não venho por nada. Não por mim. Nem sequer por vós. Venho apenas para vos recordar as lágrimas que a vossa religião e o vosso crer já desperdiçou.

Não me interessa onde julgam estar a virtude. Já estou demasiado cansado pela vossa cegueira. Quero apenas deixar-vos um sabor desta melancolia. Desta desilusão. Não existe sol que consiga aquecer o que sinto. Nem ressurreição que me faça acreditar. No homem.

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