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Mataria pelo pequeno pedaço de ilusão que só a ti pertence. E que tu, tão benigna, me ofereces. Um pouco disso, por pouco que seja. Quero-o.

Não sou viciado nisso, nessa oferta. Porque nunca tive nada disso. Eis porque te devoro. E porque engulo, em vez de saborear. E vê, linda criatura! E pasma, bela serenata de sol! Como me alimentam as tuas esperanças. Como minhocas em anzol de pesca. Comida para um amante egoísta, dizem.

 

Eh, não disseste que querias um pouco? Exprimentar esta faculdade, estranha percepção? Começa pela dôr. Começa pela glicerina que te cobre a alma. Que essa está bem tratada, aninhada em conforto e sorrisos. Rasga-a! Retira-a e saberás, pelo menos um pouco mais ...

Não importa, não interessa. Agora que aqui estás deixa de mentir. Roubaste algo de ti. Deixa passar os dias, que não te será mais fácil.

 

Mosca gulosa? Está bem, a sério. Esse pode ser um dos meus muitos nomes. Não és do meu género. Mas esqueces depressa. Eu nunca estou realmente só. Mas estou sempre sozinho, consegues compreender? Tu que tens tão belo gosto e trajar, manjar dos deuses. Pessoalmente, queres que te diga o que me vai na alma? Vontades, muitas. Uma delas, a de te morder.

... Diz-me, conseguirias fugir?

 

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"A imagem que guardo nunca fez muito sentido. Mas sei que me faz sentir bem. E eu creio que deste vazio algo de realmente bom irá surgir. Mas a paciência já falta. As dores tornaram-se suportáveis. Quem diria? Deixei de tentar mudar as coisas imutáveis. Deixei de as apreciar ou sentir.

A pergunta surge, vezes sem conta. " Se tivesses de matar alguém, que farias?" Quase dá vontade de rir! Como? se a maior parte das pessoas que conheço estão mortas? Limitam-se a respirar em agonia por uma migalha. Se pudesse, teria capacidade de alivio e acabaria com elas? Não. Deixaria que respirassem, com muito tempo para viverem. Mortas."

 

"Mesmo na mais profunda escuridão posso ver. Deixei de temer a solidão. Passei a sonhar com os campos cobertos de morangos. E com o  sabor dos dias que passam e que tento desesperadamente  não sejam os mesmos. 

Por vezes incapaz de beijar, apaixono-me. Poderia ser mais fácil. Poderia dar o coração de peito aberto. Era mais fácil rasgar. Mas nunca fui fácil. Sou incapaz de me maravilhar para além desta lâmina. Mas podia ser mais fácil."

 

" O desespero é vermelho. Quem é que afirmou que é negro? Ou cinzento. É vermelho."

 

Contráriamente a ti ...

 

eu não quero saber das cores do mundo. Pouco me importam as alegrias da vida.

 

Contráriamente a ti ...

 

eu nunca abandonei o passado. Antes pelo contrário, revisito-o sempre.

 

Contráriamente a ti ...

 

eu não vejo que Jesus Cristo alguma vez aqui estivesse. Não vi onde estão as suas preces.

 

Contráriamente a ti ...

 

choro mais pela raiva do que pela paixão. Mesmo sabendo que existem sempre outras saídas.

 

Contráriamente a ti ...

 

não consigo evitar certas dores. Sabes como rasgam, afiadas.

 

Contráriamente a ti ...

 

eu sou cego a muito do que brilha à minha volta. Estou cego pelo teu. Tão só isso.

 

Contráriamente a ti ...

 

eu não acho que o teu sofrimento seja natural. Antes o acho uma abominação.

 

Contráriamente a ti ...

 

eu não sinto o peso da culpa. Nem o remorso de que apenas sejas tu a presença no meu olhar.

 

 

 

Por isso tu és o resto de mim. O sorriso. A minha esperança.

 

 

 

 

 

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"A alma é algo de disforme e maleável. Com o nosso corpo podemos brincar, transformá-lo. Mas de forma limitada. Finita. Com a alma não se conhecem limites de concepção. Qualquer tratamento estético, qualquer crença ou ligação são passageiros.

Almas há que julgam conhecer, porque se acham em sofrimento. Também existem criaturas que pensam ser bondosas de alma, apenas querendo satisfazer e amar. Mas, quantas almas existem de facto, que já se aventuraram na verdadeira escuridão? Um estado catártico revelador do que realmente somos? Uma terrivel e inevitável conclusão do verdadeiro estado da nossa essência interior. Almas disformes como barro. Prontas a ser trabalhadas. Assumindo a forma que mais se deseja, mas permanecendo num fundo de escuridão. No instinto e na negação."

 

"Nunca invejei os que se sentem iluminados pela vida. Algures, por entre a miséria humana existe um lugar para os que são como eu. Os que nunca querem dar a outra face. Perante nada. A não ser pelo seu desejo egoísta de proteger os que lhe são queridos."

 

"Reparo que cada vez mais sinto que preciso de sair deste local. Procurar o frio. A escuridão polar. Sinto necessidade de revisitar aqueles amanheceres repletos de luzes de aurora.

Lidar com a minha própria tristeza é muito fácil. Mas tentar sequer, compreender as lágrimas que te percorrem o rosto, é uma virtude que não tenho. Em vez disso, vou odiando por ti. Desejando incendiar quem te magoou. E vê-la arder. Lentamente. Mataria sem a mínima dúvida. Sem um remorso. Se isso servisse para limpar essa dôr."

 

Pensamentos ao acaso ...

 

 

Perdão, foram precisos anos para compreender um facto indesmentível, mas que permanecera escondido. Sempre olhei para a atitude de perdoar como algo pessoal, longe de um qualquer conceito religioso. Longe de um fardo a que o meu orgulho teria de ceder. Achei que pela minha forma de ser, agir e pensar, seria mais eu a ter de ser perdoado do que a perdoar. Anos a persistir nesta noção, quase me destruiram por completo. Até perceber, até entender que era exactamente o contrário. Nada tem de arrogância ou pretensão. Muito menos qualquer visão  excêntrica de um louco, mas finalmente descobri que eram mais as coisas a que eu tinha de perdoar do que as que tinha a ser perdoado.

 

Máscaras, odeio pessoas que se revestem de noções falsas. Escondem-se atrás de miseráveis argumentos e fraqueza rastejante. Que todos usamos máscaras, é real. Não acredito na sinceridade absoluta, até porque o dia-a-dia comanda. Temos de nos disfarçar. Mas fazê-lo porque não o são e querem ser, é lastimoso. Nojento.

 

Falhas, sou o que técnicamente se chama "um fracasso social". O meu contributo para a sociedade baseia-se no egoísmo. Limito, propositadamente, o meu respeito e paixão a um número restrito de pessoas. Falho em entender porque insistem as pessoas, em amar tudo o que se move ou respira. Porque insistem em passar férias sistemáticamente nos mesmos sítios. Porque regressam sempre da mesma côr, confundindo-se entre todo o resto. Não consigo sentir onde está o valor de gostar das mesmas coisas ou sensações. Mas a minha maior falha é abominar quem diz abrir os seus braços ao mundo! Sentir o mundo. Quando basta olhar com atenção para ver que esse mundo a que abrem os braços, até no rir se tornou igual. Falso e sem prazer.

 

"Deveria assombrar-me, creio. Deveria estar absolutamente radiante! Há mais de uma semana que não sinto quaisquer dores físicas! Nada.

E quando a esmola é demais o pobre deveria desconfiar? Muito. Até porque sendo momentos raros, de incálculavel valor, pretendo guardá-los em mim. A lucidez e a paz de sensações deixam-me profundamente assustado. Por vezes, não pareço capaz de lidar com este lado da minha vida. Algo que parece tão óbvio e comum a muita gente, para mim torna-se uma tarefa imensa"

 

"Até que ponto encontrarei respostas em mim, é uma questão que nunca consigo responder. Não porque não o queira. Apenas se afigura impossivel. Se a minha confiança noutros é reduzida e a solidão anticipadamente esperada, só posso depender de uma outra pessoa. Para no mínimo, manter a sanidade. Sei que não sou o único responsável por estes momentos de sossego. Disso estou penosamente consciente. Mas até que ponto sou responsável e onde acaba essa responsabilidade para esta paz, bem como onde começa a de outra pessoa, sabê-lo, seria a solução definitiva para mim."

 

"Pouco importam os motivos. Vou sorver estes momentos, vou deixar-me ir. Mesmo sabendo que amanhã tudo pode mudar."

 

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Façam um favor a vós mesmos: fiquem em vossas casas! Na segurança do vosso lar. Quente e complacente. Para vosso próprio bem, sejam submissos e deixem que outros decidam por vocês. Saiu há bem poucos dias o último modelo da Nokia - é tão belo! Foi mesmo feito para os dedos delicados das senhoras. Não é melhor passar os dias a teclar nessa maravilha? A estudar as imensas possibilidades da tecnologia?  Vamos lá a ver; andar pelas ruas a provocar desordem é coisa de arruaceiros. A policia que trate do caso. Por mim,  desde que haja dinheiro está tudo bem. Se passam fome, se exigem melhores condições, se querem mais justiça, que o exijam com ordem. Infelizes.

 

 

Deveria lembrar-vos que tudo está à vossa disposição? Deverei mostrar-vos o caminho? Canais com música 24 horas por dia, ditam a moda. A submissão. E não chega? Uma seringa, um inspirar do pó dos anjos, uma nova ilusão, chega? Já agora mais um crédito, vai?

Tudo o que quiserem para ficarem em casa. Deixem as ruas para os vadios. Eles não lutam por nada. Apenas pretentem o impensável. Mudar o mundo. Tentar uma nova via. Que morram! Deixem que a situação se remedie com pobreza ... desde que não seja a vossa.

 

 

É fácil. Muito fácil. É só ficarem em casa, junto ao vosso computador. Junto ao vosso carrinho jeitoso. É canja. Sair para a rua e protestar pode levar-vos à prisão. Pode partir-vos a cara! A sério. Sejam racionais. E depois até podem indignar-se. Desde que isso não passe de meros arrufos de insolência. Até é radical e cool. Sempre mostram alguma actividade cerebral. Muito acima do gado que gostam de ser. E de se comportarem.

Fiquem em casa. sejam obedientes e o papá dará um mimo. A mãezinha compensará. Ah, e não queiram estudar! Nunca. É preferível ganhar dinheiro. E ser como os vossos ídolos. Lindos e ricos.

 

 

Devo dizer que eu não falo por falar. Tenho observado alguns destes protestos e em várias partes, fora de Portugal. Não condeno a polícia nem defendo quem protesta. Não digo a polícia seja toda igual. Mas quem se indigna não é meramente arruaceiro. Não o faz apenas para causar caos. São revoltados. Fartos  da corrupção e  da ganância. Fartos de ser governados por uma bando de incapazes. Pressinto que não haverá retorno. Sei que irá confirmar a teoria de F. Nietszche: para que se altere os estado das coisas é preciso que se lute. O caos é necessário para modificar a sociedade. E se esse dia chegar e eu ainda fôr vivo, sei de que lado estarei.

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