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A minha escuridão é como esta cadeira de baloiço em que me sento regularmente. Range perante o peso da minha alma. Abana e conforta, como um primeiro assombro de uma primeira paixão.
É merecida, esta cadeira. Mereço-a. Mais do que qualquer outra coisa, mereço-a.
Pelos erros que são meus e continuam a ser. Não se torna díficil aceitar os meus erros. Mas entendê-los? É como tentar encher o meu vazio com luzes e cores. É tentar patinar em gelo fino e estaladiço. Não são para compreender. Mais vale rir. Mesmo que seja apenas meio rir. Deve chegar.
Esta é uma escuridão desejada e antecipada. Sentir o silêncio, sempre fascinado pelo que pode vir depois.
Encontro os meus caminhos nesta falta de luz. No pouco que resta de calor humano, não deixo que definhe. Esta vontade de solidão e vontade de me perder.
Afinal é tão simples! Como o baloiçar da cadeira em que gosto me agitar. Semelhante ao primeiro "charro", onde a alma vagueou e transgrediu. Igual à primeira bebedeira, encharcado em glória baça, sentidos em chama. Alerta como um lobo em caça.
Mas esta escuridão, amada e adorada, tem sido cúmplice. Companhia dos cortes e golpes. Do sangue que escorre. Da tomada de consciência da dôr e da sua necessidade para que me sinta eu. Vivo.
As marcas ficam. São registos em bruto da vondade. São também vida, creio. Sendo possivel observar até onde chega a minha insignificância, não são raras as vezes em que me pergunto até onde poderei chegar. Onde se poderá encontrar o fim.
E fico nú. Exposto e em escuridão. Gostaria que pudesse ser diferente. Agradar a todos. Amar de coração aberto. Mas em vez disso, ponho dúvidas e afasto-me. Contra a vontade de uma mãe que me fez nascer dizendo que eu teria sempre algo bom dentro de mim. Não consigo entender o quê. A não ser que tenho raiva e ódio a mais. Que cometo erros como respiro. E não me arrependo de nada. Antes pelo contrário: anseio por mais.