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O que se torna realmente lamentável é a forma desastrosa e grotesca como a maioria trata a poesia. Porque será que todos se assumem poetas? Porque será que subitamente a poesia corre nas veias de toda a gente?


Nunca se devem lamentar os prazeres secretos que nos assomam tantas vezes. Pequenos trejeitos de personalidade que nos afastam de tudo. Tiques, paixões.

Eu, com todo o peso que a palavra possa ter, sinto uma genuína paixão pela escuridão. Por tudo o que carrega, por todas as noções de bem e mal que transporta, por este conceito e por esta falta de luz, nunca me senti cego. Nunca.

Consigo compreender quem  se sente atemorizado pela falta de luz, quando o breu é tão denso que não vemos um palmo à frente do nariz. A sensação de abandono e perdição deve ser esmagadora. Mas também me parece que advém em muito da necessidade que a maioria tem de se sentir protegida. A noite e a escuridão conseguem transformar-se em labirintos de desespero, sem dúvida.

Mas a solidão que evoca, o silêncio conseguido em horas altas da noite, não se podem comprar ou quantificar. Ultrapassa tudo o que possa reluzir nos dias mais solarengos.

Longe de qualquer conceito meramente supersticioso, mágico ou romancesco, a  escuridão é mais do que o negro ou falta de luz. É um prazer meu, que se transforma em iluminação para os dias difíceis ....

 

 

 

 

 

 

 

  «O ideal na minha opinião seria olhar a vida sem qualquer desejo, e não deixando pender a lingua como um cão.

Seria ser feliz na contemplação, pura, estranho às contendas e à avidez do egoísmo, ser, dos pés à cabeça, frio e pardo como a cinza, mas com olhos embriagados e lunares.

O que eu preferia, sugere a si próprio o espírito iludido, seria amar a terra com um amor lunar e só com os olhos aflorar a beleza.


Onde reside a inocência? Onde há vontade de engendrar? E aquele que criar o que o ultrapassa é, a meus olhos, aquele cujo querer é mais puro.

Onde reside a beleza? Onde todo o meu querer me obriga a a querer; onde quero amar e perecer para que uma determinada imagem se não mantenha unicamente uma imagem.

Amar e perecer; há eternidades que as duas palavras vão juntas. Querer amar, é aceitar mesmo a morte. Eis o que tenho a dizer-vos, ó poltrões!


Em verdade, tendes sempre na boca grandes frases; pretendeis fazer-nos acreditar que o vosso coração está cheio a transbordar, ó mentirosos!

Quanto a mim, contento-me com palavras humildes, desprezadas, tortas; de boa vontade apanho o que cai da mesa dos vossos banquetes.

Mas, mesmo com este pouco, ainda vos posso dizer a verdade hipócritas. Com as minhas espinhas, as minhas conchas e os meus espinhos, posso, ó hipócritas, picar-vos o nariz."


"Assim falava Zaratustra"


FRIEDRICH NIETZSCHE

A menina do papá tornou-se mulher. Por um acto de coragem, por uma chama subitamente grande. Imensa!

Quanto custa assumir uma paixão, menina do papá? Quanto te custará, no futuro, essa paixão por outra mulher? Diz-me.

Eu sei, sempre o soube. Lembras-te? Quem, tem realmente dado o ombro para as tuas lágrimas? Quem, tem escutado a tua penúria sentimental, decisões não acatadas e tristeza incontida? E mesmo em silêncio, quem tem falado contigo?

 

O mundo não é um lugar belo, menina. Já muitas vezes to disse. Acima de tudo, o mundo não entende o teu amor.

Por muito que tentes este mundo é um lamaçal filho-da-puta, que odeia tudo o que se assemelhe a uma réstia de diferença. Não compreende o teu amor, mesmo que afirme o contrário. Mesmo que se diga tolerante com as diferenças, acha que estás doente. Acha que padeces  de uma qualquer sinistra praga.

Eu já o sabia há muito. Já conhecia esse teu amor, mesmo antes do teu papá, menina. Bastava olhar-te nos olhos. Na forma como aceitavas uma solidão que não desejavas. E nunca me pediste para aceitar. Apenas compreender.

Quero dizer-te o que antes já o dissera: aceito e compreendo. Nada te concedo, antes pelo contrário, tu é que me deste. Confissões e tristezas. Palavras. Coragem. Uma palavra que cada vez é mais rara. Destemor.

 

Sou tudo o que diz o teu pai. E muito mais.

Cínico. Orgulhoso. Arrogante. Desprovido de moral cristã. Obsceno. Impaciente e sonhador.

Mas sou também vampiro de emoções. Vergo perante o teu acto de assumir um amor diferente. Nada paga o teu sorriso de alívio.

Ambos sabemos que nunca mais irás ser a mesma. O futuro será o que quiseres que seja.

Por mim, para que consigas ter uma pequena ideia do quanto me deixaste rico e sábio, o suave previlégio de poder ver a paixão e o amor de uma forma que não conheço. Pelos teus olhos e palavras.

E um sorrir de cumplicidade e  satisfação por  cada momento em que penso nisto.

 

 

Claro que sei o que se diz, claro.

Diz-se que o ódio é uma emoção, uma semente para a destruição. Que os dias de agrura e sombra virão a terminar. Quando acabarem os corações de pedra. Se pusermos fim à discórdia dos espiritos.

Mas isso a mim não me interessa. A mim pouco ou nada me diz. Tem sido fácil sentir, quase saborear o ódio dos outros. Tão vasto e tão pouco produtivo. Quase me atrevo a dizer que a maior parte das criaturas existenciais se esqueceu porque deve odiar, quais os reais motivos para o fazerem. Tais são a ilusões e as incertezas. Tornam-se massas disformes de insultos e queixumes. Vivendo praticamente dos sinais destes dias, onde amor é confundido com submissão.

 

Mas tem uma química diferente, a emoção do ódio. Não o ódio indiscriminado e terrorista, pois ainda creio que existem os que não são merecedores do nosso ódio.

O ódio que embriaga é possivel senti-lo em relação a certas criaturas de consumada incapacidade para respeitar o espaço que é nosso. A proverbial ovelha que tenta vestir a pele do lobo. A incapaz, que tenta o caminho escarpado do condor e acaba por se despenhar, revelando toda a sua impotência para ferir.

Já não me rio das pessoas assim. E rir de algo tão profundamente incapaz será uma forma de lhes reconhecer vida. Respiração.

Antes este ódio, esta vontade que desapareçam.



Três pontos me ocorrem de todo o imenso universo de emoções que este álbum me desperta;


a) Rodrigo Leão é um virtuoso tão singular, tão obscenamente único que chega a ser doloroso ouvi-lo,


b) Este trabalho, muito mais do que os outros, está gravado de forma permanente na minha alma. Oiço-o com uma frequência obssessiva. Repito, sempre, as emoções passadas,


c) Lula Pena é uma das melhores vocalistas que tive o previlégio de escutar. Venero-a! A sua voz destroça-me, e por bizarro que possa parecer, tem o efeito de me acalmar. Dá-me esperança. Mesmo na tristeza.

Por alguma razão, existe quem escolha casar sem vestido branco, sem cerimónia ou padre. Há quem se case sem necessitar de flores. Antes prefere um punhado de sonhos. Antes se entrega a quem lhe roubará, seguramente esses sonhos.

Vejo como a cara se parece com a do pai. Como o corpo, que escurece com os primeiros raios de sul, se torna sinuoso e preparado para habitar a assombração que a ele fará carregar o semblante.

 

A dúvida, porque nada aceito como garantido, reside.

 

A qual dos dois faltará primeiro as forças?

O sentimento que persiste em mim é saber porque razão insisto em fugir. Não apenas de tudo e de todos, mas pior, muito pior, fujo muitas vezes de mim próprio. E com o tempo a passar, cada vez mais me sinto refém da ânsia de fugir. Gosto de estar só. Cada vez mais. A minha própria companhia alegra-me. Dá-me paciência.

Creio que existem coisas bem piores do que ter por companhia, apenas um pequeno número de pessoas passiveis de admirar aquela escuridão que atraí. Também levei anos a perceber porque me sinto melhor estando só do que acompanhado. Anos!

 

Simplesmente porque a vida é, na sua imensa totalidade e tirando os momentos de um abraço, um beijo intenso apaixonado, uma merda. Não sei como colocar a expressão de nojo que quase sempre povoa os  dias. Tão só como isso. A vida fode-nos a seu bel-prazer. Sou obrigado a viver rodeado de merda extremamente infecta. Dia após dia.

Não me considero uma pessoa particularmente interessante. Só quero o meu espaço, mesmo que se trate de um buraco obscuro e escuro. Não me sinto chama reluzente que possa conduzir a nada.

Mas o que mais me irrita é a minha incapacidade de encontrar grandeza na maior parte das pessoas. Tirando aquele pequeno círculo de criaturas que por muitas vezes demonstraram porque lhes devo prostração.

 

Só posso justifica-lo como uma partida cruel e sem graça da vida. Uma reles piada de uma cabra abjecta. De cada vez que penso que nada pode assemelhar-se a outras façanhas do passado, quando penso que os porcos deveriam ter um percurso de vida curto e útil, a vida volta a bater no fundo do poço. Como se a inteligência fosse rara. E a estupidez é tão grande! Pesa toneladas!!

Então, o que fica? O que permanece e que posso testemunhar  todos os meus dias? Porcos e porcas.

Incapazes de olhar para o céu e viverem uma vida diferente.

 

Porcos e porcas coxos, arrastando-se por corredores da mais mesquinha incapacidade de verem para além do chão por onde arrastam os pés. Respiram por um coração podre e cansado, que ainda assim perde tempo em parar de bater.

Mas talvez seja mesmo isso. Talvez esteja à espera de mais do que deveria. Se calhar a vida até tem a sua piada na forma como nos viola. Senão, como se justificaria tanta merda a respirar?

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