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Gostaria de lembrar que não existem realidades palpáveis de felicidade e honesta realização.

Recordo que tapamos com uma capa de ouro viçoso, alegando compreenção e tolerância, um dia-a-dia banal e sintomático. Em pequenas doses letais, envenenamos a nossa miserável vida.

O meu egoísmo representa um sistema de entrega pessoal. Para tantos, sou um elemento que não merece respirar. São incapazes de perceber como subsisto sem a sua ajuda, como pude chegar onde cheguei e porque me atrevo a ansiar pelo que anseio.

Para quem afirma, estóicamente batendo no peito, que o ódio não leva a bons caminhos, eu sou uma prova contrária. Deveríamos oferecer menos flores de paz e deixar mais vezes fluir a raiva. Sei que seríamos bem mais felizes.

 

A mente não funciona por padrões impostos. Eu não sou um boneco a quem se ensina a amar perdoando. Porque não espero o perdão da maioria. Apenas a quem devo um pedido para perdoar.

Uma vez mais, eu nunca funcionei em conjunto. Nada do que tenho se assemelha ao muito que vejo e ao valor que muitos dão ao que possuem.

O que considero valioso guardo-o para mim. O resto, o lixo e a demasia, deixo-o para quem dele se alimenta.

É asfixiante, o ar premonitório que certas acções trazem consigo. Algo semelhante aos gestos esbatidos que observamos através de um vidro manchado pelo vapor da nossa respiração. Mesmo não conseguindo vislumbrar  de forma clara o que se passa no outro lado, pressentimos algo. Como que possuindo um terceiro olho que tudo vê. Sentimos e quase, quase vemos ...

Há quem lhe chame dom. Outros apostam no místico. Chamo-lhe instinto. Um arrepio que percorre a consciência e que permanece quieto. Em observação.

 

Certas acções trazem consigo a passagem para aquele desespero mordaz, serenamente mordaz. Não adianta tentar fugir. Nem sequer pontapear. Apenas evitar a asfixia lenta.




Objectivo atingido: ver em concerto ( Amesterdão) uma das minhas absolutas referências de extremismo musical. A banda Immolation


Confirmação de um facto: Monstros sagrados e absolutos em concerto. Inesquecível!


Duplo objectivo atingido: estar frente a frente com os membros da banda em amena cavaqueira de troca de ideias. Por entre latas de cerveja, pude confirmar uma verdade por outros transmitida: Ross Dolan, o vocalista, um gigante de tamanho e inteligência, animal de palco cujos cabelos ultrapassam as nádegas em cumprimento e densidade (!), ateu convicto, anti religião por todos os poros, é de uma generosidade e desprendimento absolutamente surreais!

E como bebem estes senhores!!











Sometimes, when I look deep in your eyes, I swear I can see your soul


Agente do meu próprio tormento ..

 

Por vezes a dôr representa  tudo o que realmente tenho. E tantas e tantas vezes até é bom. Chega a ser uma boa dôr ... o abuso dado e recebido. Tudo o que alguma vez perdi e nunca recuperei. Querem perceber? Talvez seja melhor que se sentem e sosseguem. Melhor ainda, se acenderem esse cigarro que tanto anseiam. Ou assoprem naquele charro, ópio para a transcêndencia mental. Porta aberta para a libertação. Sei disso tudo, mas eu prefiro meia garrafa de jack Daniels, enquanto vejo como é importante a dôr que se esfumaça bem em frente dos meus olhos.

 

E não estou a fazer sentido? E por acaso, alguma coisa faz sentido nesta existência?

Sinto-me vivo. Isso devia ser o suficiente. Mesmo que já tenha perdido toda a inocência de outros anos. Que a aparente tranquilidade seja isso mesmo: ficar submisso e não ceder ao pecado da mudança. 

 

Mais vale agarrar esta verdade. O meu coração ainda bate. Enquanto esvazio mais um copo, recordo como é ridículo brindar à vida. Como, perante tamanho fracasso, ainda é possivel respirar.

Reconheço-te, como em muitas outras vezes, debaixo de tantos e tantos sussurros, as minhas fraquezas. Só a ti me atrevo a fazê-lo. Apenas a ti e perante a tua presença.

Mas, esquece-as! Quero antes falar-te das ânsias que me consomem. Pretendo falar de algo que também já conheces, como se  da tua própria respiração se tratasse.

 

Por cada momento que te olho, seja em plena  escuridão da noite ou seja no mais intenso brilho do sol, nunca me pareces próxima. Quase sempre, sinto que estás mais longe do que perto. Por isso, decido aproximar-me cada vez mais. Mesmo que estejas a centimetros do meu toque.

A tua sedução reside num estranho caldo  de bruxaria. Entrego-me a ti. Voluntáriamente. Livre. Aos teus braços que envolvem o meu pescoço. Ás tuas pernas de seda, que dominam a minha cintura. Como um virtuoso opiáceo, é nos teus olhos que percebo em que homem me tornei; é na tua boca que residem os segredos da tua imensa sabedoria.

 

Sou tão imensamente imperfeito! Tão enormemente ansioso.

E tu sabe-lo. Assim o queres.

A minha respiração nunca é terna ou harmoniosa quando me aproximo de ti. Cavalga e vibra. Tu? Colocas as mãos que curam, no meu peito e invocas o meu sossego. O teu dedo indicador traz a tua  saliva aos meus lábios e deixas que me liberte. Acho que amar é assim, animalesco e ao mesmo tempo de entrega. Só assim consigo justificar a ânsia com que percorro a tuas costas ondulantes com a ponta da língua para terminar com um suspiro no teu pescoço e uma dentada na orelha. Executas aquele bailado que me torna ainda mais demente ...

 

Só consigo parar por exaustão e mesmo assim, por entre a meia luz, não deixo de te olhar ( o olhar pardo, como lhe chamas ...) e ansiar por cada gota de suor que te escorre pela pele. Por cada arfar teu, cada doce suspiro teu, eu sei que fácilmente me levarás para qualquer lugar que queiras. Mais, que na tua beleza frágil, me esmagas sem esforço e rápidamente me tornarias louco. Se fosse essa a tua vontade.

Todos os dias se apresentam como proposições para odiar a humanidade. Por cada minuto que passa, obtenho razões para confirmar a loucura mental que habita no cérebro humano.

Agora, passados anos de existência, esta é uma experiência maquinal. Fria como o aço nas mãos. Assim como a vontade de desaparecer, fechando a porta atrás de mim.

A sublevação, fascinante insurreição que me agita, transforma-se tantas vezes em absoluto crispar de emoções.  Seja pelos que vejo a  desferir um pontapé no cão rafeiro, que ainda assim late submissão, seja pelo  rancor implacável pelos que são diametralmente opostos ao que se julga apto e certo. E como odeio esta palavra!

 

Temo pelos que não se estimam. Receio que caiam onde eu caí. Mas se eu me ergui vezes sem conta, tremo ao pensar nos que eu realmente  estimo e não resistem. E não aceitam o que são e devem fazer.

Que  esta puta  de vida sejam 2, 3 dias é algo que pouco me importa. Que a persistência da maligna crença numa possivel eternidade leve tantos e tantas a crucificar cada acto de respiração em expiação e adoração, já há muito tempo que deixei enterrado numa qualquer campa como morte sem apelo. O que personifica o meu crescente ódio à humanidade, tal como ela se aplica, é a falta de descernimento na aplicação de uma valor tão rico e potente como a honestidade. Todos se dizem honestos e abertamente humildes. A maioria, a gigantesca maioria, é apenas uma massa pusilânime de mentiras.

 

Tudo se torna claro. Tudo se abrevia, quando certos estados  da alma se revelam. E não me admiro pelos que se suicidam. Não sinto a assombrosa velocidade com que certas criaturas preferem a morte a uma vida de indiferença, como algo patológicamente condenável. Tamanha falta de honestidade entre criaturas imperfeitas, confere ao ar que respiramos um factor de desespero e impossibilidade insustentável.

A solidão é uma arma, uma via para aligeirar  este desprezo. Mas também pode ser uma faca de dois gumes afiados. Conheço quem se deleite com a solidão e mesmo assim não conheça a honestidade. Porque nem consigo próprios conseguem ser honestos.

É a mais estranha das soberanias, essa rapidez de destruição. Para voltar a reconstruir.

O consumir, uma irmandade que sangra e sofre, obtendo disso, o prazer. E torna-se imparável. Provoca os sentidos ... (esses) quase mortos. Agora despertos.

Não existe harmonia em mim. Nunca entendi a pacificação interior de que falam os poetas do armísticio amoroso. Não me invoca qualquer paz interior se não fôr amar e ser amado em demente posse. Mas é um anseio meu, esta procura de um canal de ligação entre a corrente e a lua. Vem de muito antes, como exlamava o filósofo - " vem do útero até à sepultura!"

 

Alguém já tentou sangrar sem dor? Creio que se torna passivel de loucura. Um estágio que pavimenta o caminho para a mais intensa observação. A verdadeira beleza reside nisto: na dor. Que nos torna realmente humanos. Não o amar algo. É o sofrimento.

Até a melancolia se torna numa espécie de fogo aceso no céu. Uma reverência feita em nome de algo que considero precioso nestes dias, onde cada vez menos existem preciosidades.

 

É bom que me sinta assim, brutalmente crú. Consigo vislumbrar uma beleza que muitas vezes permanece oculta.

Dias bons ...

 

4.30 da manhã, sentados junto à enorme janela de vidro a  ver rair os primeiros traços de luz. Na mesa, entre nós, café negro quente e forte. E o pão torrado, coberto de manteiga, velho de 3 dias, pronto para saciar a fome física.

Por imensas razões que só eu realmente entendo, existe algo em ti que me transfigura. Tento,  de forma sistemática, colocar por palavras essa transfiguração. O que me ocorre? Uma comparação: a ligeireza da brisa.

 

Tal é a forma como consigo rir e  exprimentar ao teu lado.

 

 

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