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Algures, alguém pensa em ti. Alguém, algures te chama anjo e usa belas cores do arco-iris para pintar a tua imagem e beleza.
Para esse alguém tu resides na beleza impossivel e apenas podes viver na mente.
Sim, alguém sonha com o teu suspirar quando sentes um toque. Como se fecham os teus lábios e os teus maxilares se contraem à chegada do prazer.
Deixa que sejam estes os pensamentos. Sei que irão salvar uma vida. Deixa, deixa que te chame em silencio e tu respondas.
Cristalina. Pura. Salvação e escuridão. No pensamento de ti.
Salvação tão poderosa no teu rir. E tu nem imaginas a que ponto consegues cauterizar as feridas que alastram e matam.
Há muito que me sinto preparado para tudo. E qual é o segredo? Eu nada espero da maioria, apenas ser atirado abaixo e afastado. Fico um pouco mais só, contando apenas com cada vez menos gente.
Reconheço, é uma merda que dói. Dói como tudo. Mas dói cada vez menos. Porque aprendi a tomar consciência do que sou. Quem sou.
A pergunta surge com tanta frequência que chega a ser visceral: "acreditas no destino?". A resposta é pessoal e nunca deixa as pessoas satisfeitas. Levantam as sobrancelhas e permanecem incrédulas.
Eu não acredito no destino. Creio em várias camadas de ódio, paranóia e abandono. Todas elas sobrepostas sobre as nossas costas. O chamado destino acaba por não ser mais do que a nossa tolerância a essas mesmas camadas.
Quando foi a última vez que quiseste dizer tudo o que sentes por outra pessoa? Deixar sair tudo, numa enchente avassaladora. A ponto de te desgastar até ao amâgo?
Quando foi a última vez que olhaste alguém nos olhos e sentiste ser ali que reside o teu abrigo contra a monção? Poderes finalmente entregar-te de corpo e coração.
Quando foi a última vez que sentiste que tinhas de te expressar sem regras ou temores? Expressar-te a um ponto de loucura absoluta. Tentar exprimir, nem que para isso tenhas que cortar um braço? Ou romper um choro?
E chegar à conclusão do quanto isso é inútil. Que apenas serve para de esmagares nas rochas.
O que mais me custa é chegar à conclusão que tudo o que tenho feito é tentar sobreviver. Sistemáticamente.
Nada mais se trata do que tentar aguentar mais um dia, andando ás voltas. Encontro inspiração em borrões existênciais, tantas vezes pertencendo a uns poucos. Muito poucos.
Trabalho para respirar e acaba por ser tudo o que sei fazer. Tentar. E se calhar, continuando a movimentar-me poderá dar-me mais uma chance. Quem sabe? ...
Trata-se de encontrar uma razão para continuar a respirar. E preciso dessa razão de forma desesperada. Sistemáticamente.
Se a vida é um constante aprender, então tudo isto não passa de uma macabra ironia. Porque creio que tudo o que eu possa ter possivelmente aprendido desde que nasci não me serve rigorosamente para nada! Tudo aquilo que antes acreditei serve apenas para soletrar inutilidade.
Por um lapso de tempo, por mais curto que seja, pensem na dor. Sempre achei que a dor é pessoal. Não é um património colectivo de poetas ou escritores rançosos de presunção.
A dor pertence ao interior pessoal. É propriedade exclusiva e pessoal. Por estranho que pareça, é a única emoção que é realmente propriedade nossa. Mais estranho ainda, eu gosto da minha dor.
Eu não quero viver a minha vida de forma prazenteira. Recuso-me a viver apenas a respirar e a procriar. E por fim morrer.
Eu não quero desvanecer-me deste mundo com a pele suave e uma expressão de paz na minha face. Eu espero, eu quero desaparecer deste mundo ainda mais idiota e intolerante do que sou. Quero que as minhas últimas palavras permaneçam como insultos e profanidades. Acima de tudo, quero amaldiçoar o sol que desponta em todos os cantos e becos do mundo.
Eu quero ser visto pelas pessoas como "aquele louco insensato que nem uma moeda na caixa merece".
Quero demonstrar a toda a gente como se faz. Eis como é possivel, foder metade de uma vida e passar a outra metade a lidar com isso!