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Sempre achei que o tão cantado e adorado acto de amar nada mais é do que uma banalidade repetida e pensada até há exaustão. Dizer que se ama alguém tornou-se numa arte extremamemente simples. É possivel segurar no amor das pessoas com ambas as mãos e transforma-lo em meras palavras e gestos já vistos.
Contrasta com a paixão. Em tudo. Até na simplicidade. A simplicidade da paixão é como observar um lobo na floresta. Podemos vê-lo e até pensar que conhecemos os seus gestos, mas na realidade, é preciso saber muito sobre eles para ter uma real noção do que são. Amar não é realmente sentir paixão. Por isso vejo tantas pessoas, quando confrontadas com uma verdadeira paixão, da mesma forma que as vejo perante um lobo: com um olhar estúpido na face!
Dias maus. Meus. Do resto do mundo, que nada em merda.
Não sei como tal se passou, mas eu costumava ter apenas pequenos maus dias. Tentava com muita força guarda-los em pequenas caixas na escuridão e a um canto afastado.
Mas, creio que num daqueles dias de maior desprezo pessoal, decidi retira-los das caixas e deixa-los voar. Sabem, eram apenas uns pequenos dias. Maus, mas mesmo assim, pequenos. Por azar ou porque assim deve ser, choveu em tormenta. Tanta chuva e tanto vento que os dias maus voltaram para mim. E as sementes desses dias foram-se espalhando e plantando.
O que eram apenas pequenos e maus dias cresceram em semanas. As semanas tornaram-se meses e deixei de ser capaz de os voltar a guardar em pequenas caixas e a um canto escuro.
Tentei estrangular esses tempos maus e não consegui. Tentei esmaga-los porque eram meus e eu deveria poder fazer com eles o que me desse na real gana! Em vão. Porque se torna díficil fugir ao sofrimento que me imponho todos os dias. Claro que sei da solução para tudo isto. É cristalino. Teria de ser capaz de me desmontar por completo e tentar a reconstrução com uma venda nos olhos. Cego para os velhos hábitos e velhos demónios.