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Algo me diz que não é bem como me foi tantas vezes  afirmado ao ponto da mentalização. Talvez eu não seja realmente  um doente  incapaz, com uma estranha debilidade mental que me  torna impossivel  lidar com os outros. Tirando, é sempre assim, uma pequena minoria, que não chegaria para encher uma casa. Mas, quanto mais conheço as pessoas mais versado fico na capacidade de pressentir que é nos  ditos normais que noto maior doença mental. São normais porque aceitaram de braços abertos a sua miserável existência, porque calaram a voz muito cedo e nunca desenvolveram sintomas "neuróticos". Como os meus.

 

Mas não creio na normalidade, pelo menos no sentido mais comum. E recuso-me a fazer como fazem outros, ajustar-me a algo que me parece tão anormal. Se isto, para os que sempre me rotularam como neurótico e depressivo, fôr a medida para a minha doença mental, então nada quero fazer para o evitar.

Existirá algo que eu possa ter como meu? Um sentimento? Um momento? Alguma coisa? Quando será que eu vou achar que algo me pertence e que não é apenas uma triste memória? Existirá algo que precise da minha protecção? Uma verdade em segredo que eu possa guardar a sete chaves?

Existirá algum momento em que eu possa estar num qualquer lugar e sentir que pertenço? Que por rasgos eu possa olhar ao redor e sentir que aquele local é meu? Existe algo por aqui, que eu possa ver, consiga respirar e tentar permanecer vivo, pela mera noção de que precisa que eu ali esteja? Existe algo que eu possa realmente chamar meu e nada consiga roubar-mo? Existe algo, alguém?

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"Rejoice, for tonight it is a world that we bury!
Have you beheld the darkness sitting upon the earth
Overshadowing the wind rose, lost in the smoke?
Thus many went astray at once
The others wandered hazardously through endless mazes
The rays of the sun whisper of a newborn fright
And very few horrors in the world could match in terror
The cruelty of that frozen caress and its fragrant secret in blossom

 

Let the rivers of paradise recede to their spring
May their sear beds expel desperate drops of anguish
May these bitter waters quench our thirst
Until the last second of the last hour, forevermore!"  (DSO)

 

 

E alguma vez eu falei da sua beleza? Pois, eu estava errado. Porque afinal, beleza é algo demasiado dócil e de fácil noção. Creio que evoca as expressões das capas de revistas. Uma beleza amorosa e simetricamente harmoniosa. Nada disto simboliza, de facto, a expressão desta mulher. Portanto, talvez eu deva reduzir-me ao que realmente sou e deixar de tentar sequer fazer-lhe sombra com uma palavra que seja.

Ainda assim, creio que devo dizer-lhe que me rasga a alma quando a observo dormindo. Algo vil e escuro toma conta dos meus sentimentos, como se estivesse morto e nunca mais pudesse sentir-lhe a respiração. Deveria mostrar-lhe como muitas vezes tudo o que eu destruo em mim, ela o reconstrói mais forte.

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É como se uma velha parte nossa despertasse no interior, aterrorizada e inútil na nossa existência e ainda assim intacta de habilidades destructivas. O que fica no presente, nosso e único, a criatura que somos encolhe-se e mira em desespero. Em tristeza. E por vezes, a pessoa que somos, deveríamos ser, mais eléctrica e vagarosa caminhante cheia de certezas, descansa e recua em lágrimas. Resta a parte mais dura e indigesta.

É sempre da mesma maneira, nós cortamos uma coisa que está viva e imensamente bela, para termos a certeza de que está viva e imensamente bela; mas sem qualquer aviso e antes que possamos pensar de novo, não é nem bela nem está viva. E ficamos paralizados, com o sangue nas mãos e as lágrimas nos olhos cerrados. Fica a dôr da culpa e o lamento pelo que foi cometido.

Já alguma vez estiveram apaixonados? Uma coisa terrivel, não é? Uma odiosa vulnerabilidade toma conta de tudo. Abre o peito, rasga cada fibra do corpo e parece ser propositado para que outros esmaguem a nossa alma.

Vejo que a armadura foi forjada, tudo bloqueado e sem aparentes falhas. A resistência está garantida. Então, eis que tudo se esfuma porque uma estúpida pessoa, nada diferente de outras estúpidas criaturas, vagueia na nossa estúpida existência. Oferecemos uma pedaço de nós, que pensamos ser um pequeno nada e que nem sequer nos foi pedido! Mas fizeram qualquer coisa idiota um certo dia, numa determinada hora: como beijar-nos ou fazer-nos sentir a beleza de uma gargalhada. E a vida deixa de ser nossa. A paixão domina, corrói por dentro ao ponto de nos destroçar e deixar no escuro. Tudo o que acontece pode magoar. Magoar a mente, a imaginação. Destroça a alma pedaço a pedaço. Odeio a paixão. E não consigo fugir-lhe ...

Tenho feito uma pequena lista de coisas que a escola não nos ensina. Não nos ensina a apaixonar por outra pessoa. Não nos ensina a melhor forma de sermos famosos. Não existem lições para ser pobre ou rico.

A escola não nos ensina a voltar as costas a quem já nada nos diz e pouco nos importa. Seria importante que a escola nos ensinasse a pressentir a nossa presença na alma dos outros, como sentem a nossa falta e choram na escuridão.

A escola nunca nos ensina que palavras devemos usar para consolar os que se encontram próximos dos braços da morte.

De facto, a escola não nos ensina nada de realmente valioso que valha a pena aprender.

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