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Antes seja desta maneira:
não existe neste mundo um Mal ou um Bom absoluto. Não são conceitos, sentimentos, acções fixas e imutáveis. Não são entidades e no entanto trocam de lugar constantemente.
Um Bom pode transformar-se num Mal numa questão de segundos. O contrário tambem acontece. Esta é a forma como eu vejo o mundo. Para muitos, demasiado redutor e muito extrema. Mas eu tenho conseguido sobreviver, se calhar é o melhor caminho. O que devo seguir. Manter, obstinadamente, um equílibrio entre Bem e Mal.
Eu acho que as coisas são mais lógicas e compreensíveis na escuridão. Mas por vezes (isto eu sei bem), quanto mais tempo eu permaneço no escuro, mais dificil se torna regressar ao mundo acima. Onde está a luz.
Eu sou uma prova irrefutável de que a paixão nada tem a ver com a excitação eufórica. Tem muito mais a ver com a paciência e a persistência.
Sou uma demonstração que ter paixão não é sentir-me bem, mas é uma arte de resistência infindável.
Eu demonstro a mim próprio, todos os dias, que a paixão não traz brilho e fulgor angelical. Significa sofrimento.
" To rub salt into the heavens wounds
and spit in the face of love
to smash these walls of houses holy
and rape the word of god!!"
Torna-se dolorosa, esta pergunta, " és minha?", que desponta após uma e outra facada de solidão. Não me é próprio porque não me foi ensinado que sim, é possivel associar outra pessoa à minha vida. Que mesmo na escuridão a beleza é vísivel pelo toque.
Isto é algo que raramente disfrutei e por isso sou tão cinicamente egoísta e pretendo conservar num altar meu. Apenas meu. Mesmo que o próprio ar que respiro, a mesma água que bebo me pareçam agulhas afiadas. Mesmo que não encontre consolo nas páginas de um livro que se transformam em lâminas afiadas e prontas a matar. Percebo, no entanto que não me interessa escolher outro caminho. Que esta corrente me pode levar a qualquer sitio: a um local que nunca pensei existir. Se calhar, onde o perigo corre livre e onde acabarei de forma violenta e fatal. Em última consequência, pela capacidade de poder olhar uns olhos tão negros, pelo cheiro de uma pele suave e por um beijo de uns lábios tão obssessivamente carnudos, que repetidamente me afirmam que posso ser feliz, esta ilusão pode ser minha e merecida. Deixar-me arrastar pela corrente, arder em morte lenta, eu assumo como um pequeno preço, pela capacidade de perguntar olhos nos olhos, "és minha?".
Algures, foi contruída a vedação que envolve aquele vazio fatal. Entretanto, foi necessário construir uma pessoa mais calorosa e tocada pelos raios solares. Mas, retiradas as camadas de um ego traído e ornamentado de falsa esperança, é perfeitamente possivel ver, espantar!, aquele abismo de nada absoluto. E com ele, uma sede implacável!
Talvez tente esquecer, afasta-lo, mas esse nada absoluto regressa para visitas periódicas, nas tardes escuras de chuva ou nas auroras - após um pesadelo. E afinal, tudo se tornaria mais claro e a salvação mais real com uma mão que acarícia; ou um beijo de paixão cúmplice.
Se calhar, deveria deixar de lado as coisas que agradam e em que sou bom. Talvez fosse melhor falar sobre o que não agrada e em que sou mau. Por exemplo, eu não sei cozinhar e arrumo as minhas coisas de forma predestinadamente caótica. Será muito mais rápido se disser que tenho por hábito perder tudo o que não me interessa ou desperta a atenção, que me sinto acompanhado no meio do caos. Amo de forma obstinada a música que desperta em mim a escuridão da alma. Sou desajeitado e mal consigo expor o que sinto, por vezes digo o que não quero e sei como é fácil notar a dor nas outras pessoas. O meu sentido de orientação arrasta-me mais para abismos do que estradas seguras. A minha paixão por viajar raramente é compreendida, creio que julgam que quero fugir. E eu insisto.
Quando fico furioso tenho têndencia a partir coisas: pratos, canetas e relógios de alarme. Tantas e tantas vezes me arrependo destas iras! Mas não consigo controlar-me. E todo o meu dinheiro serve para viajar. Sentir e exprimentar.
Sou combativo muitas vezes sem qualquer razão. Apenas porque sou assim. E tenho muito poucos amigos com quem goste de partilhar a minha existência.
Na verdade, eu sempre fui atraído pelo inqualificável. A minha dificuldade nunca foi a de aceitar a beleza exterior. Nunca foi realmente importante quantificar nada. O que sempre procurei é muito mais profundo, ao ponto de se converter em algo absoluto. O melhor exemplo que posso dar reside no meu fascínio ( talvez como umas poucas criaturas) secreto por chuvas fortes e tempestades. Por falhas de electricidade que lançam a escuridão e terramotos. É a minha paixão pelo indefinido e muitas vezes indecifrável. O que se descobre após uma longa noite de álcool. Ou meramente pelo fumo de um cigarro. Se calhar é o que se chama magnetismo.