Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



 

Tags:

... Todos os dias a batalha é a mesma. Luto incessantemente para limitar os compromissos que me prendem ao que me rodeia. Assim disponho de mais tempo para ansiar a partida para outros braços. Não conviver com muita gente ajuda a manter-me no caminho certo. E depois, eu nunca fui realmente uma criatura de muitas companhias. Nem sequer compreendo essa possibilidade ou satisfação. Para mim é possível afastar a depressão dos dias que passam, escondendo-me no sono. Magoando-me nos sonhos. Acordo mais velho. Mais esfarrapado. Apenas isso ...

Tags:

E quando termina a tempestade, quase sempre ( e infelizmente...) não existe a noção, a verdadeira percepção da forma como foi ultrapassada. Por vezes, ainda mais dolorosa, é a falta de conhecimento da forma como foi possível sobreviver a essa tempestade. E a meio da noite, enquanto o corpo se revira na cama desfeita, em plena solidão, nem sequer é possível saber se o dilúvio passou, de facto. Por mais apoio que exista, entre abraços ou beijos sempre pródigos em esperança, a lâmina da verdade está ali, bem junto à garganta: seja como for, nunca será a mesma coisa. Não é possível, após a torrente, ser a mesma pessoa. Quem entra na tempestade nunca sai igual. Nunca.

Por alguma razão que ainda desconheço tenho mais facilidade em lidar com as sombras. Talvez como aquela minha fixação com os lápis de cor preta. Mesmo que em seu redor existam muitas outras cores, eu tenho a tendência natural para procurar o lápis negro. E são estranhas, as pessoas vistas entre sombras. Naquela meia-luz onde pensam (tranquilamente, imaginam) que não é possível serem vistas em pormenor. Por vezes, são categoricamente feias. Disformes porque não se sentem bem consigo próprias. Onde a aparência se desvanece a revelação é dolorosamente cruel. Na sombra, desnudam-se e nada consegue alterar o facto de que dançam descompassadas. Numa canção que não deveria ser a sua. Outras há que  apenas nas sombras mais profundamente escuras  se revelam de uma beleza atroz e sem comparação. São de uma raridade absurda e tudo, rigorosamente tudo o que emana delas é música que deve ser escutada e dançada. Cegamente. Este dom raramente se revela em plena luz. Flui na escuridão, como os gatos a coberto da noite. Acaba sempre por ser revelador e é na sombra que se consegue ver para além das cicatrizes e das dores.

Tags:

Existe uma norma para os viajantes como eu. Não está escrita em papel ou em paredes de rua. Quando se viaja o destino poucas vezes é comum ao da grande maioria que se atropela nos aeroportos, nas praias ou nos churrascos de férias. E a companhia deve ser pouca. Escassa ou nenhuma. Para mim, apenas uma pessoa serve. Se assim não fôr, mesmo conhecendo quem me deseje uma boa viagem, prefiro ir só. Até porque sei que vá para onde fôr, encontro quem me acene e muitas vezes me receba de braços abertos.

Tags:

Uma paixão que eu tenho ( já desde muito, muito cedo ...), que ultrapassa até, em larga escala, o imenso amor que eu tenho por viajar, chama-se mergulho. Há muito que aprendi a nadar. A água nunca me fez confusão e sempre me pareceu um passo lógico e normal, aprender tudo o que se relacionasse com o mergulho de profundidade. Tenho, de uma maneira que muitos classificam esfomeada, mergulhado em muitos sítios. Exige planificação e logística. Paciência e muita poupança financeira. Mas é um facto: vivo para mergulhar e observar. Algumas viagens são para sempre. As vezes  que em grupo ( porque só é absolutamente incomportável!) mergulhei no mar vermelho ou consegui nadar lado a lado entre golfinhos, em águas cristalinas ou de penumbra etérea, ficarão na minha alma para sempre. Nada se compara a isso. Nada possui tal silêncio, factor de medo e risco, como nadar entre corais ou nas águas geladas do norte. Porém, o sonho que acalento de forma quase secreta e conspiratória, poderá realizar-se muito em breve. Não consigo, ainda, vislumbrar a possibilidade. É doloroso para o coração, contar as semanas que faltam. Mas têm sido quatro longos anos de trabalho e planos frustrados. Cada mergulho feito noutras águas que não sejam as que desejo, é apenas um medicamento que tira as dores, não cura a doença. Mas recebi a noticia que tudo está finalmente (!) pronto! Vou poder nadar entre tubarões. Mesmo que tenha, por razões de segurança, de estar dentro de uma jaula de ferro maciço. Mas, estar a escassa distância  de criaturas com um cumprimento de 8 metros, poder observar em toda a sua plenitude, terá de ser suficiente para um pecador como eu. Talvez até consiga nadar junto a algum deles... quem sabe? Isto não representa felicidade, para mim. Representa o que eu sou. É mais, muito mais do que felicidade. É pura e inalterada liberdade e pacificação pessoal.

Tags:

Creio que sou um dos poucos seres humanos que ostenta em todos os dias de existência o orgulho pleno e arrogante de alguém emocionalmente instável. E sinceramente, não poderia estar mais orgulhoso e nem sequer poderia estar mais desinteressado no que outros possam deduzir disso. Mas, continua a ser uma revelação para mim, algo quase grotescamente cómico, que tanta gente continue a imaginar ser algo realmente espantoso. E obviamente, não são rigorosamente nada. É não ter talento rigorosamente nenhum. Nem sequer escondido num qualquer sótão cerebral. Nada! Na minha instabilidade, consigo ver perfeitamente que não têm um plano B de fuga para superar os azares e a falta de jeito. Não dispõem de habilidades de sobrevivência e vejo, consternado, quando deitam anos de vida para o lixo. Absolutamente nada de proveitoso. Este é um peso colossal de derrota e inutilidade existencial. Cerebralmente, mesmo que se julguem brilhantes, são mais austeramente atrasados dos que os que padecem de  doenças para as quais não pediram permissão e que ainda assim todos os dias me demonstram ser possível ultrapassar as sentenças de morte que o nascimento cedo lhes destinou. Mas, se formos friamente racionais, é melhor o destino de certos: uma morte rápida. Porque para uma grande maioria que presume ser espantosa, a doença de que padecem mata de forma mais demorada. É como ter nas mãos a decisão de uma morte rápida e misericordiosa ou lenta e dolorosa.

Tags:




Arquivo

  1. 2024
  2. JAN
  3. FEV
  4. MAR
  5. ABR
  6. MAI
  7. JUN
  8. JUL
  9. AGO
  10. SET
  11. OUT
  12. NOV
  13. DEZ
  14. 2023
  15. JAN
  16. FEV
  17. MAR
  18. ABR
  19. MAI
  20. JUN
  21. JUL
  22. AGO
  23. SET
  24. OUT
  25. NOV
  26. DEZ
  27. 2022
  28. JAN
  29. FEV
  30. MAR
  31. ABR
  32. MAI
  33. JUN
  34. JUL
  35. AGO
  36. SET
  37. OUT
  38. NOV
  39. DEZ
  40. 2021
  41. JAN
  42. FEV
  43. MAR
  44. ABR
  45. MAI
  46. JUN
  47. JUL
  48. AGO
  49. SET
  50. OUT
  51. NOV
  52. DEZ
  53. 2020
  54. JAN
  55. FEV
  56. MAR
  57. ABR
  58. MAI
  59. JUN
  60. JUL
  61. AGO
  62. SET
  63. OUT
  64. NOV
  65. DEZ
  66. 2019
  67. JAN
  68. FEV
  69. MAR
  70. ABR
  71. MAI
  72. JUN
  73. JUL
  74. AGO
  75. SET
  76. OUT
  77. NOV
  78. DEZ
  79. 2018
  80. JAN
  81. FEV
  82. MAR
  83. ABR
  84. MAI
  85. JUN
  86. JUL
  87. AGO
  88. SET
  89. OUT
  90. NOV
  91. DEZ
  92. 2017
  93. JAN
  94. FEV
  95. MAR
  96. ABR
  97. MAI
  98. JUN
  99. JUL
  100. AGO
  101. SET
  102. OUT
  103. NOV
  104. DEZ
  105. 2016
  106. JAN
  107. FEV
  108. MAR
  109. ABR
  110. MAI
  111. JUN
  112. JUL
  113. AGO
  114. SET
  115. OUT
  116. NOV
  117. DEZ
  118. 2015
  119. JAN
  120. FEV
  121. MAR
  122. ABR
  123. MAI
  124. JUN
  125. JUL
  126. AGO
  127. SET
  128. OUT
  129. NOV
  130. DEZ
  131. 2014
  132. JAN
  133. FEV
  134. MAR
  135. ABR
  136. MAI
  137. JUN
  138. JUL
  139. AGO
  140. SET
  141. OUT
  142. NOV
  143. DEZ
  144. 2013
  145. JAN
  146. FEV
  147. MAR
  148. ABR
  149. MAI
  150. JUN
  151. JUL
  152. AGO
  153. SET
  154. OUT
  155. NOV
  156. DEZ
  157. 2012
  158. JAN
  159. FEV
  160. MAR
  161. ABR
  162. MAI
  163. JUN
  164. JUL
  165. AGO
  166. SET
  167. OUT
  168. NOV
  169. DEZ
  170. 2011
  171. JAN
  172. FEV
  173. MAR
  174. ABR
  175. MAI
  176. JUN
  177. JUL
  178. AGO
  179. SET
  180. OUT
  181. NOV
  182. DEZ


topo | Blogs

Layout - Gaffe