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" E o fogo primordial? ..."
É algo que se nota em tudo o que me rodeia. Estranhamente, tenho tendência para ficar apático há constatação de um facto insofismável: demasiada gente parece ter esquecido esse fogo. Não vou reflectir sobre a forma como uma imensa maioria decidiu abafar esse sentimento, trocando-o por coisas absurdas e sem fundamento. Não me interessa e nem quero saber. Mas o que mais me custa e o que mais me consome é que a geração que me precedeu,a dos nossos pais, foi a maior culpada por esta perda de fogo primordial. Por esta incapacidade de prosseguir com os sonhos, por mais desfasados que sejam. De alguma forma, resolveram dedicar uma vida inteira a lutar para possuir uma casa. Escravizaram uma mísera possibilidade de liberdade por casamentos e por obrigações para com filhos que deviam ser criados a qualquer preço. Mesmo que tenha significado o sufoco de um certo fogo que nunca chegou a arder. Dirás que estou a ser, uma vez mais, demasiado cínico e frio. Mas o que realmente importa é o facto de que os nossos pais, a geração anterior, fez mais do que ver-nos crescer. Obrigou a que muitos tivessem os mesmos sonhos, iguais aos seus. E eis-nos nesta era moderna! Incapazes de passar além do facebook, do portátil ou do telemóvel. Assumir a responsabilidade por sonhar e lutar por isso é uma inspiração que poucos têm. Triste, mas verdade. Sempre lutei por este fogo. Não porque seja um qualquer iluminado. Não porque não tenha os mesmos defeitos dos outros. Mas porque sempre pensei que esse não seria o meu caminho. Não é algo que se possa falar ou exprimir por palavras solenes. Antes se trata de um sentimento opressivo. Não caminhar, falar ou ansiar como tantos outros. Olha, este fogo primordial é mais do que qualquer outra coisa passível de ser explicada. Reconheço-o como aquela mistura de pó das estrelas e de sujidade que todos temos. E basta olhar para as pessoas, para a forma como falam e para os sonhos que transmitem para perceber que não existe fogo primordial. Apenas vazio e eco. Infelizmente, também será isso que irão transmitir à próxima geração.
" Qual é a "Tua" verdade? ..."
Por vezes, é aqui que reside a inconsistência da minha vida. Muita gente já me afirmou que as alterações deveriam começar a partir de mim mesmo. Existe necessidade de encontrar balanço na minha vida. Apaziguar-me a mim e acima de qualquer outra coisa, apaziguar-me com os outros. Abrir os braços e deixar que as muralhas construídas durante dias a fio, caiam e outros possam entrar. Mas sabes, este é um mundo de faz de conta. Este frio não nasce connosco. Adquire-se de forma lenta e muito, muito dolorosa. Por razões que ainda nestes dias não entendo, existe um processo em mim que leva a tudo o que faço ou planeio fazer. Admito os meus excessos como métodos de compensar a falta de família, o vazio da desilusão e das traições, por mim executadas e por outros imitadas. Reconheço-o. Satisfazer a falta de vontade de viver rodeado por quem não me interessa, leva-me a estranhos métodos de loucura, sabes? Mas o mais estranho é que para poder sobreviver eu não acho possível ser mentalmente são. Não consigo respirar, manter-me à tona se não vislumbrar a miséria e a falta de felicidade que tanto parece iludir outras pessoas. Provavelmente eu não irei terminar os meus dias em bons ventos. Não com o martírio a que habituei o meu corpo e a minha consciência. Mas a verdade é que não consigo encontrar outra condição para ultrapassar os dias de saudade, de fúria e ódio, senão no apoio sistemático da frustração e raiva. Mandar outros à merda tornou-se numa mantra de encantamento. Ficar indiferente aos anseios dos outros é uma arma que aprendi a dominar. Restam apenas uns poucos que são como pó de estrelas. Que andam como eu e caminham como eu. Mas são tão poucos. Desesperantemente poucos. E eu parto e fico em cacos. Tal como eles. Perco o discurso, da mesma maneira. Sabes, creio que não existe outro caminho a seguir. Ou se calhar eu não conheço o suficiente de mim próprio. Mais uma razão para desesperar.