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Contrariamente ao que à primeira vista pareça eu sou muito mais uma criatura virada para a indiferença do que ao pessimismo. Ele está lá, claro. Um charco pessimista e descrente, repleto de mosquitos e ossos secos pelo sol. Mas é em muitas ocasiões, possivelmente demasiadas, a indiferença que me acontece mais vezes. Que mais vezes me despe de sentimentos que provavelmente seriam antecâmara para estar mais acompanhado. Ou se calhar ser mais amado, preferido e compreendido. Porém, eu não cometo o erro de assumir certos factos. Eu não assumo que o cosmos que me rodeia se importa comigo ou qualquer outra pessoa. Só posso ficar indiferente, já que nada realmente importa: nem a saúde pessoal, a sobrevivência das espécies ou qualquer convicção. Mas acaba por ser um fogo estranho, um respirar que me fascina de maneira quase mórbida. Obsessiva. Aprendi que maior habilidade da mente humana é também a sua qualidade mais piedosa. A incapacidade de juntar tudo o que nos faz mover. As dores ou as alegrias. A escuridão e a luz. Esta incapacidade cria uma maravilhosa ilha de ignorância. Triste, claro. Porque o que rodeia essa ilha é infinito e escuro e eu sei que não fomos criados para viajar para longe.

Por vezes, quando eu penso que tudo está esquecido e devidamente encaixado num sótão escuro, regressam. Eu sempre achei ser uma virtude a capacidade de adaptação. Mesmo a muito custo. Ainda que nos custe ódio precioso e paciência que nada mas mesmo nada tem de santa. Porém, regressam. Talvez por incapacidade genética de procurar um rumo ou então, pela infeliz inutilidade de poderem caminhar sós, regressam. Se calhar, porque essa é realmente a sua verdadeira e única condição humana: os seus limites há muito atingidos levaram a lugar nenhum. Por entre paredes, em absoluta miséria pessoal, decidem regressar. E provocar. Sim, não passa de uma ligeira picada que apenas irrita, mas ainda conseguem voltar a ser recordadas. E odiadas, porque se trata de um ódio de estimação que nunca morrerá. E ironizadas, porque se sabe os seus motivos e as suas desculpas para voltar a tocar  solos malditos  que nunca serão os seus. Acaba por ser revelador, o consumar dos seus regressos e as certezas absolutas confirmadas. As fraquezas de espírito corroem a alma. A cobardia da falta de amor próprio é algo que sempre me enojou, mas o que realmente mais mais náuseas me provoca é a incapacidade de evolução! É o regredir quando se deve avançar. É o insistir nas mesmas coisas todos os dias da sua existência inútil.

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Nem no sono mais profundo eu consigo afastar a sensação de afogamento. Existe algo de incomparavelmente triste na falta de descanso que persiste, mesmo num estado de dormência que eu sempre pensei ser sono descansado. É forte, esta vontade e esta saudade maquina para que eu fracasse e não descanse. As últimas semanas foram passadas numa espécie de transe, onde as horas de estudo, coroadas por café e gin, ficaram estranhamente pregadas em mim juntamente com a imagem de um rosto que sempre me vai empurrando para a frente. A minha resistência está muito debilitada. A vontade de abandonar tudo e partir para onde cada fibra do meu corpo assim comanda, está tão,tão solidamente plantada que se torna numa dor física. Mas eu ainda consigo ver a ironia das coisas. Sempre. O quanto doloroso é querer agarrar-me a um sentimento de pertença e ao mesmo tempo necessitar de respirar. Eu sei que é criminoso desejar e querer ser desejado. Só pode ser crime, por que me deixa confuso. Esta vontade de ser dependente, deixar sair tudo e não precisar que regresse nada! É criminosa, a solidão consentida. O acenar da cabeça ao facto de não conseguir explicar a impotência e continuar a respirar. Viver ...

 When age fell upon the world, and wonder went out of the minds of men; when grey cities reared to smoky skies tall towers grim and ugly, in whose shadow none might dream of the sun or of spring’s flowering meads; when learning stripped earth of her mantle of beauty, and poets sang no more save of twisted phantoms seen with bleared and inward-looking eyes; when these things had come to pass, and childish hopes had gone away forever, there was a man who travelled out of life on a quest into the spaces whither the world’s dreams had fled.
     Of the name and abode of this man but little is written, for they were of the waking world only; yet it is said that both were obscure. It is enough to know that he dwelt in a city of high walls where sterile twilight reigned, and that he toiled all day among shadow and turmoil, coming home at evening to a room whose one window opened not on the fields and groves but on a dim court where other windows stared in dull despair. From that casement one might see only walls and windows, except sometimes when one leaned far out and peered aloft at the small stars that passed. And because mere walls and windows must soon drive to madness a man who dreams and reads much, the dweller in that room used night after night to lean out and peer aloft to glimpse some fragment of things beyond the waking world and the greyness of tall cities. After years he began to call the slow-sailing stars by name, and to follow them in fancy when they glided regretfully out of sight; till at length his vision opened to many secret vistas whose existence no common eye suspects. And one night a mighty gulf was bridged, and the dream-haunted skies swelled down to the lonely watcher’s window to merge with the close air of his room and make him a part of their fabulous wonder.
     There came to that room wild streams of violet midnight glittering with dust of gold; vortices of dust and fire, swirling out of the ultimate spaces and heavy with perfumes from beyond the worlds. Opiate oceans poured there, litten by suns that the eye may never behold and having in their whirlpools strange dolphins and sea-nymphs of unrememberable deeps. Noiseless infinity eddied around the dreamer and wafted him away without even touching the body that leaned stiffly from the lonely window; and for days not counted in men’s calendars the tides of far spheres bare him gently to join the dreams for which he longed; the dreams that men have lost. And in the course of many cycles they tenderly left him sleeping on a green sunrise shore; a green shore fragrant with lotus-blossoms and starred by red camalotes.

H.P. LOVECRAFT

 

Por momentos a existência dos dias que passam deveria deixar impressa uma recordação. Não importaria que fosse uma má memória. Ou que nos fizesse rir a olhos vistos. Bastava que provocasse movimento. Respiração arquejante, antes de um qualquer espasmo moribundo. Pouco importava. Apenas aquele preciso momento onde se sente dentro de nós, na profundidade da pele arrepiada, as portas a fecharem para o mundo. Deitados no chão, deveria ser uma recordação que representaria  tudo. Tudo! E a revelação de ser certo que finalmente estava ao alcance. Ali: a um passo. Num esticar de braço. Depois? E depois? Cada um seria e faria como assim desejasse. Talvez por meio de mangas de mágico de circo. Talvez assumir que estava encontrado o fim da estrada. Ou então, encolhendo os ombros cansados, decidir que tentar alcançar o que fosse era perda de tempo. Talvez, eu ficasse parado. Apenas para ver a dança à luz das velas. Em plena escuridão e sem certezas de voltar a abrir as portas ao mundo.






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