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Permanecer em plena floresta gelada. Rodeado por árvores secas e raquíticas. Nas últimas horas da noite mais gelada das últimas semanas. E em silêncio absoluto, sepulcral, escutar o uivo dos lobos. A chávena de café negro forte estremece na mão. O pescoço endurece e um arrepio incontrolável corre as costas. Até à nuca.
Uma mão aperta-me o ombro. Puxa-me para a realidade. Recuso negar a embriaguez do momento. Ali, naquele lugar, poderia perfeitamente ser o meu local de morte. Eu que sonho tão pouco. Eu que me apaixonei por uma terra onde não nasci. Mas que me pertence. Que sei ser parte de cada fibra do meu corpo. Quanto mais me aproximo dela mais se apossa de mim. Por isso, volto as costas ao que supostamente deveria ser meu para o que eu sei, será o meu verdadeiro porto de abrigo.
Eu pessoalmente,
sei em que me vou transformando. Contrariamente ao que antes me foi afirmado, não saber qual o meu verdadeiro desígnio, eu sei! Porque me forcei a transformar. Porque assim tenho decidido e mesmo que o final seja uma monstruosidade, sei que não pretendi outra coisa. Outro caminho.
E lamento,
que os meus olhos insistam em olhar ao longe. Lamento que o meu conceito de amor se resuma verdadeiramente a uma e apenas uma pessoa. Para isso, criei labirintos onde todos e tudo o resto se perde. Onde não existe espaço para mais nada. É loucura, eu sei. Mas não me importo que o resto morra. Afinal, a morte de todo o resto nem sequer será a minha maior perda. Pressinto, no entanto, que maior das perdas é muitas vezes o que morre dentro de cada um enquanto vivemos. Sinceramente. Nada consegue dissuadir-me disto.
Contrariamente ao que seria de esperar, pouco me importa se isto revela algo de anormal. Não, quando se aceita a transformação e a necessidade de que aconteça.