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Eu sei que Asgard espera. Que brilha. Por entre os dias claros de fadiga. Nas noites de saudade distante. Sei que aguarda. Nas canções escutadas ao raiar da aurora. No brilho da chama que aquece em noites de nevão. Vive. Nos ruídos nocturnos das marés geladas que não trazem outras noticias que não sejam as que o teu segredar já me revelou.

 

Assim cresce a falta. Sempre corrompida pela distância. Por  Asgard brilham os meus olhos. Assim cubra a tinta o meu rosto que se envergonha deste mundo. Eu não pertenço a esta era. Estou de passagem, apenas necessária para que nos encontremos e assim seguir viagem juntos.

 

E não existe deus que possa demover-me. Já que tudo se encerra em ti. Toda esta espera antecipando a partida. A fome do teu beijo e riso alegre. Os braços que me sustentam perante a queda anunciada. Sei que Asgard espera. Senão, como poderia a tua voz ser tamanho bálsamo? Mas não quero iludir-me. Por muito que assim tentes, quero que a morte chegue primeiro à minha porta. Quero entrar antes de ti pelos portões sagrados. E esperar a tua vinda.

 

Compreendi porque deixei todos os outros para trás. Aceitei os sacrifícios que faço e que todos os dias me assassinam mais um pouco. Que deixei crescer o meu egoísmo ao extremo de atravessar todos os que me afastam do teu toque. Não interessam. Porque não existe em mim espaço para mais nada nem ninguém.

 

São patológicas, certas existências. Transparentes, no seu respirar ofegante e nervoso. Sempre a inalar outros. Sempre a vasculhar os cantos. E sempre, mas sempre a comer migalhas. Talvez porque se reconheçam condenadas a um resto de vida parcimonioso onde, desde sempre, a traição foi a sua companhia. Em estado latente e parasítico, adormecendo, por vezes, no calor de palavras que apenas lêem. Não as aceitam porque não as vivem.

 

Existe quem por estes sinta piedade. Se calhar, não. Creio que empatia. Talvez até existam raras criaturas de solidariedade militante, que confundam esta militância com amor e com certas existências  decidam casar. Ou juntar os trapos! Como tanto gostam de proferir em nome da tradição. E porque de piedade se trata, decidem compartilhar a semente existencial e procriar. Creio que parecem achar que tal provento traz harmonia. E não. Não traz qualquer harmonia. Porque acabam por se fartar: os solidários militantes, que testemunham o erro colossal das suas vidas e a incapacidade de sentir mais uma pinga que seja, de pena por certas existências. E a existência patológica? Fica. Em desilusão. Umas vezes regressa, outras foge. Mas sempre condenada à merda. Suja e degradante. Anónima e diminuta. Como aliás, o seu tamanho assim o dita

 

 

 

 

 

 

 

 

Por mais que seja negado, todas as ocupações a que nos dedicamos, por mais inocentes que pareçam ou até, por mais altruístas que as sonhemos, não deixam de ser passatempos para aturamos os outros e suportarmos a vida. É estritamente necessária uma dose colossal de entusiasmo para criar a capacidade de ilusão necessária que assim consiga alimentar alguma motivação de vida. Para que a existência prossiga o seu curso.

 

Creio que isto é particularmente agudo, no esforço feito por certas criaturas de bom porte, para se alhearem do vazio angustiante que é a sua realidade nua e crua. E no fim, quando todas as contas e rosário são desfiados, noto sempre que as expectativas que lançaram e voltarão a lançar, ficam sempre acima dos resultados reais. Inevitavelmente.

 

A super valorização que reina entre " criaturas de bom porte ", cuja moral sempre me deu imensa vontade de rir, acaba em si, por ter apenas um único objectivo: penosa auto preservação!

 

E esta é uma das mais fortes características da raça humana. Que insiste na necessidade de vida a qualquer custo. Uma força que se cimenta em auto-enganos. Mesmo que nem todos partilhem da ideia do quanto toda esta patranha é um engano, no mínimo, deveria haver o reconhecimento sincero da estranheza de tudo isto.






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