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Olhar para o céu em devoção é um ato do mais puro e intocável niilismo. Mesmo pela mera dedicação perante as estrelas, procura incessante de mundos ou fantasias obscuras, é tudo niilismo. Este tecer de transcendências só parece ter um valor real para a raça humana. Porque perante a indiferença cósmica só mesmo o niilista sonha. E sobrevive.
Aprender, repito, aprender, porque nem sempre se consegue ultrapassar o mero estágio da distância e do vazio, a aceitar que tudo o que somos é um pó de estrela e que a nossa vitalidade é tão ilusória quanto curta, requer o pragmatismo do niilista. O Nada como meta. A destruição dos valores mais queridos.
Conseguir olhar para outro enquanto se vitaliza a necessidade de prolongar a duração humana, pode bem representar a revolta sentida perante a tirania cósmica que nos coloca como casualidades no meio da escuridão e espaço eterno.
Revolta inútil, claro. Carl Sagan afirmava ser esse o nosso destino final. Encontrar as estrelas. Onde pertencemos e de onde realmente nascemos. E merecidamente para onde retornaremos.
Uma das maiores provas da ineficácia humana mora na incapacidade de associação e dedução. Muitas vezes de factos simples e por de mais tão óbvios que se torna dolorosa a visão dessa incapacidade. Esta tendência para o ineficaz instala-se sorrateira, brindando a vitima com falsas noções de verdade e certeza.
Nada é mais intensamente debilitante e cruel para o próprio do que o ato premeditado de linchamento público. É idiota porque arrogante e presunçoso. Revela um limite intelectual agreste e mesmo que por um qualquer motivo retivesse em si uma ínfima parcela de verdade, é uma dura prova de retardamento moral - insiste em bases de vitimização, falta de noções morais e muita, fraca, interiorização de orgulho pessoal. Amor próprio.
O linchar público é uma manobra profusamente cobarde. Uma copiosa imbecilidade que assenta no desespero. Uma necessidade de amesquinhar perante uma fraqueza pessoal. Um ataque suicida quando todas as reservas e forças se esgotaram. É recorrer a uma manobra cobarde e pífia quando, após displicentes cretinices, a lâmina se posiciona na garganta. Cobarde porque se esconde no manto da vitima.
Tentar o linchamento pessoal por meio de palavras que são, irremediavelmente as mesmas de sempre, demonstra que o seu autor não evoluiu muito para lá dos portões dourados da infância, onde uma contrariedade era sanada com um grito ou uma falsa lágrima. Creio que, genuinamente, simples criaturas como as que recorrem a este método, necessitam desesperadamente de carinho. E afago. E compreensão.
Mas, no topo do mais caricato, revelador do estado anímico desta estirpe estranhamente cobarde, assenta com alicerces gigantes, a mais sórdida ignorância. Uma tentativa de linchamento público pessoal tem um efeito de ricochete! Acaba sempre e inevitavelmente por corporizar o encosto do cano da arma à cabeça. Porque se volta sempre contra o seu emissário. Um gesto cobarde como este tem o dom de atrair defesa para o lado de quem está a ser visado! Em vez de afastar, une! Confere força e muito mais poder de fogo. Porque nem todos conseguem conviver com esta tática de vitimas fracas e desmioladas. Habituadas a receber pontapés sem que para isso respondam: tornando-se mais fortes. Rijas e capazes de aprender.
O suposto linchar acaba por terminar ( uma vez mais, inevitavelmente ...) com um latir surdo e parco. Estupidamente, a força foi transferida e sem proveito.