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(999)

 

 

 

 

 " You were seeking strength, justice, splendour! You were seeking love!
Here is the pit, here is your pit! Its name is SILENCE… ", DSO

 

 

A violência é o ensino mais básico do ser humano. A meu ver. Pessoalmente. 

 

Desde os primórdios daquele primeiro rasgão na pele - sintoma logo vestido de lama escura e da qual deveria ter fugido. Lição não aprendida, a juntar a outros rasgos. Não apreendidos.

 

Nada se lhe compara em tácticas de ensino. Nem o mais bondoso dos corações ofusca este santuário dourado, encimado pelos ramos distorcidos da nossa capacidade mais escura, subterrânea e arquejante de destilar violência contra outros. E principalmente, usar o escalpelo deste ensino em mim próprio.

 

Os olhos são furtados e jamais devolvidos. Permanece um arrepio que viaja alegre do pescoço e escorrega pelas costas. Um beijo de amante voraz que nos matará neste arrepiar. Dobrada em nós tem a pele rija e o coração cintilante de certezas e sobressaltos.

 

E no entanto, a sua marca modifica a alma; nos pequenos socalcos da vitória de mais uma travessia; em suaves bancos acima da torrente dos seus braços e pernas agarrados a nós. Altera. Seja pelo rasgar nervoso da pele. Seja pela luz que irradia na mais densa escuridão.

 

O maior ensino da violência reside numa suprema ironia: habita em nós e faz parte de tudo o que somos. Devora e afoga, pricipescamente, qualquer ideal ou noção, muitas vezes com o odor divino das flores em primavera. Mas é também salvação e luz. Tão necessária como o respirar, é o caos primordial necessário que apenas é negado pelas ilusões de quem sabe estar enganado mas não o reconhece.

 

Eu ...

 

(999)

 

A ideia de conhecimento pessoal, voltado para dentro e com a extrema necessidade que nasce de aceitar o que transparece, longe de tudo e toda a atenção que não a nossa, revela acima de qualquer nota, a sombra do mais perfeito egoísmo. Engenhoso egoísmo que semeia a virtude de algo apenas nosso e nunca revelado, mesmo quando na troca de confissões intimas. Mesmo perante o olhar persistente do psiquiatra.

 

Alguém me afirmou que conhecer o que "habita" em nós é como pernoitar numa casa entre montanhas e durante uma tempestade de neve. Quem já testemunhou a fúria assassina da nevasca do Norte entende a incapacidade de responder sobre o que habita em nós. Podemos fechar  janelas e criar calor para aquecer. Existirão sempre frestas de imprevisibilidade e escuridão. E espaços que apenas eu conheço e tenho acesso.

 

E gosto dos meus recantos escuros e frios. E dos teus. Do que consigo transportar em mim enquanto bebo das tuas palavras. De ínfimas possibilidades. Assombros. Promessas cumpridas.

 

Conhecer.

 

Não gosto do que canto. É grotesco. Não existe realmente luz nele. Antes a tua canção. Infinitamente mais respirável. Mesmo que sonhadora, é respiração. Desgraçadamente necessária.

 

 

 

Virtude, onde estás virtude?...

 

 

Adoro criaturas pacificas. Pacificadas com tudo e com todos. Com Deus. Com o nosso planeta azul. Com o astro-sol e noites de lua gorda. Habituadas e em paz com a sua pacificação.

 

O estado puro de paz que parece consumir criaturas pacificas acende aquele pequeno, minúsculo, candeeiro da consciência. Aquela lamparina intermitente que serve para afastar os enxames que insistem no fustigar das pobres almas tão em paz consigo próprias.

 

Seria lógico que outros não fossem portadores de tanto ódio e desprezo. Porque a razão e a lógica devem ser, por vezes, observadas sem os óculos aninhados na ponta do nariz caduco. A lógica e a razão floreadas na ideologia preconceituosa, placidamente disfarçada de crença em Deus e valores de preservação da vida humana. Sagrada vida. Não aceitação e muito menos permissão de morte escolhida com dignidade.

 

A criatura em paz consigo própria rejeita quem atropela o "seu" preservar e manutenção de agonias em camas sujas. Não questiona a "sua" opulência humanista mesmo quando são os outros a medir forças com os restos de existência indigna e piedosa. Porque são os outros. E não eles.

 

A criatura pacifica, virtuosamente protectora do direito à vida até ao mais ínfimo estertor, mesmo que em agonia e inutilidade, sente na face os pingos de uma morte aceite e escolhida por outros como uma ofensa ao terror de Deus. Que deveria ser o único a dar ou tirar. Senão o que poderia acontecer? Talvez o ateísmo branco da baleia de Ahab? Onde Deus se retirou para que o espaço fique vazio.

 

Então se o sagrado não importa importam as ideologias políticas de manutenção existencial. Desculpas e desespero de causa vestidas de dramatismo pacifico e irmão. A tirania da ética que dita as virtudes da escolha. Mas da maioria. Não do individuo.

 

Abençoados sejam.






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