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" Baby, it´s a violent world ..."

 

(999)

 

Enquanto observo reprimo a respiração. Quando olho os papéis, esforço-me na vã tentativa de concentração. Apenas cedo após palavras de tranquilidade e acenos de aceitação. Aceito. Respiro. Deixo assim que mais uma vez o meu espírito se recline na câmara do seu riso suave, quase feito de fumo. Reconheço, nestas horas, ser incapaz  de pressentir se sente medo e antecipação; sequer se a consciência de um passado recente de dor não transfigura as suas palavras, enquanto me observa descontraída. Aparentemente.

 

O que faz com que eu regresse em linha recta? Talvez a semelhança nos olhos verdes e o peso da sensação de não querer falhar; talvez porque uma parte dos corredores escuros do meu medo sejam feitos por ela. Gosto de aninhar no meu peito os batimentos de partilha do seu amor por gatos que sempre vamos considerando quimeras biológicas, enquanto vou desejando que tenha as suas sete vidas intactas.

 

Necessito das suas gargalhadas e da sua capacidade de me expor, mas também me fascinam os Invernos dos  dias em que podemos reflectir algo familiar - uma racionalidade sombria pontuada por uma troca de olhares de cumplicidade e protecção. Espíritos que por vezes se tornam inquietos - talvez por já terem provado do cautério de muitos medos.

 

 

 

 

 

 

Por vezes é necessário ser displicente, deixar de lado aquele zelo sempre critico e aceitar de maneira tolerante a capacidade papalva de quem sempre vai falando sem nada realmente de valioso; não é difícil encontrar exemplos quase tocantes dos que escrevem apenas com o mero desejo de preencher espaços vazios, ainda que seja apenas escrita raquítica e disforme de conteúdo.

 

Nada mais simplório do que atirar piadolas indirectas numa perfeita sintonia com a sensação de conhecer o esmagamento passado, quando a ideia brilhante orbitava na ilusão do cão-come-cão, e quando nunca sequer se conseguiu arreganhar a dentadura! Quanto mais comer outro cão. A piada atirada ao vento não tem direcção. Principalmente se arremessada por alguém perfeitamente inferior em qualquer dos níveis ou sub-nível da arte do argumento racional ou proveitoso. 

 

Não.

 

A simplicidade moral é um espelho distorcido da preguiça mental. Atirar citações de outros, estes sim brilhantes, teria o seu artificio se a ignorante criatura não tivesse o dom de conspurcar cultura. Assumir que se joga na mesma liga significa correr o risco de estar a um mesmo nível - implica evolução mental muito distante da calhandreira das revistas do dia ou dos conceitos manhosos do " vocé é légal, né!",  culto e sempre magnifico.

 

Mesmo que pessoalmente pretenda afastamento da malta outrora derrotada sem apelo ou clemência, por vezes chega o cheiro da decadente falta de progressão pessoal, que sempre se tenta compensar com a meditação à la guru personalizado  - como se fosse possível meditar muito além dos poucos conhecimentos retidos num cérebro raso!

 

E então piora! Pela miserável tendência de formar juízos sobre outras palavras que não são entendidas por nítida incapacidade de raciocínio e cultura de beco sem saída! Torna-se estranhamente embaraçosa a sodomia mental de quem se acha engraçado - cómico, até! - nestas piadolas, sonhando ironia onde moram as águas do pacóvio. Neste mundo poucas são as criaturas realmente felizes na sua capacidade cómica de me fazer rir. E mais tenebrosa se torna esta incapacidade quando alguém se imagina engraçado, atirando idiotices sobre o que não entende, enquanto se acha dono da vontade  de rir.

 

Tenebrosa e imbecil falta de graça. Muito mais difícil de entender nos que, logo, logo, suportam esta ilusão com palavras de incentivo. Trata-se de dar a corda a quem se vai enforcar. Apenas isso.

 

 

 

A ideia está presente, imbuída no discurso suave e de dedos atentos, sondando. Maioria absoluta. É perfeitamente visível a necessidade de ser muito mais num parlamento, onde se consiga reinar em sossego - assim não sejam necessárias purgas de esquerda, que da direita  nem um lamento; nem uma aragem.

 

A piedade de quem vota por estes dias desconfia dos que preferem ditar leis sem recorrer a consensos. Mas eu não desconfio. Eu não gosto de maiorias. Principalmente se assentes em ideologias amorfas, onde a cabeça política se inclina para a esquerda ou para um centro de direita - como se revela apanágio nomear.

 

Desconfio de tudo o que se assemelha a controlo maioritário, de permissão e domínio absoluto. Odeio absolutismos monárquicos ou republicanos; maiorias absolutas necessárias e sustentadas na ideia da necessidade de fazer melhor e bem. Estas são as maiorias que florescem no fascínio e comodismo de quem vota e aceita o deslumbramento das máquinas de propaganda. São o Nacional - Socialismo de Auschwitz, a ditadura do Proletariado dos Gulags ou  a bênção do povo da revolução chinesa.

 

As maiorias absolutas raramente são pedidas, nestes dias; surgem dos votos forjados na cumplicidade de quem apenas observa o que lhe interessa; e principalmente na leviandade dos que se remetem aos desígnios da abstenção por mera e absoluta preguiça.

 

Não me interessam imposições decretadas por maiorias principalmente porque eu não aceito decisões sem discussão. Mesmo remoendo exasperado nas tácticas de camuflagem de uma ala esquerda atrofiada por falhanços ideológicos; ainda que perfeitamente fascinado como a capacidade cómica de um centro - direita ( outra vez... só estas palavras me causam rir!), mesmo sabendo que nem todas as maiorias absolutas são ditaduras, reconheço nelas o cunho da imposição de uma generalidade sobre o individuo. Reconheço-lhe o odor da imposição pela força de um direito que não deveria existir. Na Democracia possuir uma maioria absoluta significa a força do quero, posso e mando. Uma doutrina onde sempre e invariavelmente apenas um comanda e todos os outros obedecem.

 

Hallowed Be Thy Name ...

 

 

Reconheço a minha ignorância e negligente desinteresse em figuras públicas, menores ou maiores. Não me interessam personagens construidas em nome de novelas, festas sociais ou atribuição de estátuas por talentos que, manifestamente, não entendo. Não quero forçar a minha já restrita paciência no facebook ou instagram com toda a sua imbecilidade "likes" ou comentários pacóvios de quem raramente entende o que comenta além de banalidades de exposição pública.

 

Por isto não sabia do que se falava. Porque razão a comoção agitava as águas frouxas da sociedade. E tudo seria bom e tudo se revelaria óptimo, se em cada hora, em cada minuto que entro num ginásio ou pego num peso, não surgissem olhares vesgos e assopro pífio. Parece que a nova  revelação se chama anabolizantes. Creio que a criatura humana continua a padecer da patologia da generalização - somos todos iguais. Ou então, apenas alguns.

 

Segundo informação, alguém que não conheço, decidiu forjar um corpo. Decidiu que seria importante para a sua vida profissional dependente de "likes" e elogios alheios, aumentar o seu volume corporal e calibrar a estética para os suspiros femininos e masculinos.

 

Alguém decidiu por si. Não me interessam as pressões mediáticas ou sequer  o estado de condição cretina dos seus seguidores. Será necessário respeitar isso. Não aceito contemplações moralistas estupidamente ignorantes.

 

Aparentemente esta é uma sociedade que se anseia tolerante - tolerância na orientação sexual, contra a intolerância racial. Apenas alguns exemplos de aceitação propagada com a força das redes sociais. Tudo bem. Assim seja.

 

Mas a hipocrisia mora na próxima esquina. É asquerosa e feia. Escondida debaixo da iniquidade ideológica que depende da escolha colectiva e por isso  deve ser defendida. Deve ser berrada a plenos pulmões.

 

Portanto, uma escolha pessoal, mesmo que para babugen alheia,  deve ser respeitada ou tolerada mas apenas secretamente.Tolerância sim! Mas apenas para certas escolhas. E então se isso significar o proverbial tiro no pé, martelam-se as massas com exemplos estúpidos e conselhos a seguir.

 

A grande maioria dos seres humanos vive da observação assente no trono do " faz o que eu digo e não o que eu faço"; sonha com os seus ídolos de barro mas não estende a mão para os ajudar na sua queda. Esta grande manada procria na inveja e na procrastinação perante criaturas decididas a criar uma personagem mediante qualquer meio. Não respeita nada, de facto. A sua suposta tolerância é ditada por um qualquer drone. Não aceita decisões pessoais que pura e simplesmente não trazem contributo para as suas frágeis existências - para além dos sonhos.

 

Sei por experiência pessoal o que significa para uma grande maioria possuir uns braços enormes. Sei dos pensamentos de muitos quando observam dorsais como asas, pernas como rochas e ombros forjados no peso. O que pensam das mãos grandes. E nada disso me interessa. Sei das minhas fragilidades e do sofrimento anterior a tudo isto. Eu sei do poço - o abismo mental e destroço físico de quem se arrastava durante vinte longos minutos do quarto para a casa-de-banho, matutando na cadeira de rodas onde sabia ir sentar-se. Tarde ou cedo. Sei do meu esforço e dos gigantes que me retiraram desse poço imundo. E não foram anabolizantes. E se fosse? Decisão minha.

 

Os comentários e olhares de que vou sendo alvo revelam o que me rodeia. A ignorância das ovelhas que não entende que o meu corpo não se destina aos seus suspiros de admiração. Uma máquina alterada por minha decisão e força de vontade. Que pouco me interessam os seus pensamentos cavernosos sobre o meu tamanho excessivo.

 

Torna-se perfeitamente claro que a grande maioria das criaturas humanas deste planeta não gosta de si: são seres com excesso de peso e em permanente estado depressivo compensado com comida e insultos; vivem curvados e em dores porque não entendem que o excesso dobra os ossos e as vértebras.

 

Regurgitam absurdos ignorantes e vão esquecendo os cinco quilos que trouxeram no corpo depois das férias. Sentam-se nos cantos como pombos e vão soltando arrulhos sobre a sua  falta de sorte e como o sujeito é assustador com tanto músculo - " provavelmente, anda na droga!", só isso justifica conseguir caminhar erecto e sem dores  quando o seu lugar era na cadeira de rodas.

 

A ignorância veste muitas vezes a burka da tolerância. Creio que a decisão pessoal, não prejudicando outros, deve ser respeitada. Comentários imbecis e depreciativos apenas justificam reflexos de incapacidade, falta de inteligência e acima de tudo, mentalidade de rebanho.

 

E por uma decisão pessoal que deve ser respeitada também se devem aceitar responsabilidades pelas suas próprias acções. Más decisões pagam-se caro. Porque nada nesta merda de mundo é oferecido sem retorno.

 

 

 

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