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Eu ...

 

(999)

"O momento em que pensamos ter compreendido tudo dá-nos ar de assassinos."
 
Emil Cioran, Silogismos da Amargura
 
 
 
Nos meus dias habitam os ventos da transformação. Mais do que nunca nestes últimos meses. Um misto de revelações e destruição de castelos de cartas. Um alterar de olhares e pensamentos. Uma reprodução fiel da inutilidade do pensamento de tanta gente: " Tudo o que nos rodeia irá provocar uma transformação".
 
Não consigo aceitar esta ideia, porque apenas sinto este transformar pela mão de um número infinitamente reduzido de pessoas; não se trata de uma transformação urdida na cumplicidade da maioria das criaturas que me rodeia. Ou sequer no Estado que aparenta governar os meus hábitos. Não. Apenas uma mão cheia que fomenta uma transfiguração.
 
E tudo parece estar diferente. São ouvidos que me escutam. São vozes que entram no meu coração assustado com tamanha audácia! São relâmpagos nas noites mais escuras. Desejos finalmente cumpridos onde a minha fragilidade se desvanece como pó no deserto.
 
Tenho o meu próprio catecismo de punição. E afinal, quem não tem? Mas o meu insiste em regressar ao cinismo mais doloroso; ao patamar da solidão e da inebriante alegria de decidir por mim e para mim.
 
O fogo austero do egoísta.
 
Mas já não tenho fome apenas deste fogo. Quero o inefável prazer do beijo mais ardente que alguma vez senti. A virtude de abrir o peito aos que me abraçam nas dores de um corpo que se esforça por fortalecer. No êxtase e portento que assombra as  minhas noites em companhia partilhada com sons e ritmos. 
 
Nestes últimos meses de transformação obsessiva aprendi uma fórmula de encantamento alquimista ...
 
" Aceitar a palavra "amo-te", principalmente enquanto rastejo e sangro."
 
" A minha transformação não vem de coisas. Vem de pessoas. Companheiras de sombras, risos raros e cumplicidades silenciosas."
 
" Por vezes é necessário calar o cinismo mais áspero. Aceitar outras presenças. Ouvir outros pensamentos. São como abrigos contra a tempestade".





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