Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



" Auf der Schwelle ... "

Alguns afirmam que a morte representa o final, determinado pelo fim físico. A falha dos órgãos vitais é um pacto máximo com a realidade: no coração que não bate escreve-se o fim absoluto.

Discordo.

Sei que não é uma verdade absoluta. As verdades absolutas são muitas vezes casulos de merda que a cultura humana se encarrega de transformar em potentados de nada.

A morte começa demasiadas vezes muito antes do coração ceder. Em pequenos passos de esquecimento e deriva como um barco abandonado. A verdadeira morte tem a mestria de impor o esquecimento na mente humana para que o corpo se torne numa ridícula concha vazia. Talvez ainda exista respiração ou raros momentos estampados numa claridade racional mas serão preciosos porque deixarão de ser definitivos.

E isto é a morte despida em absoluto êxtase! Esquecimento completo onde deixa de existir a capacidade de sorrir, de odiar, amar e principalmente de sonhar. Encerra-se o reconhecimento dos detalhes da expressão de quem viveu e sonhou connosco por décadas. O coração bate numa concha solitária que vai perdendo a esplendor dos verbos, do palmilhar terrenos, até que finalmente se deixe de lembrar porque raio bate aquele órgão que justifica a respiração.

Esquecimento demente não é um poema ao fim da vida. Apenas mais um discurso fúnebre pejado de imperfeições e detalhes de humor cínico. Ingrato. Nojento!

Mas gosto de encontrar consolação naquele sorriso firme de homem intenso, que matutava na ideia de Multiverso com a mesma intensidade com que retirava as bolachas do forno preenchendo cada recanto da cozinha com o cheiro divino da canela e do cacau em pó.

E talvez num desses seus Universos não exista quem se esqueça do que foi antes de morrer. 

Onde as horas sejam passadas em longas conversas pela noite dentro. Onde nunca falte o café mais negro nem as bolachas de canela e cacau.

Molhadas: sempre afogadas no liquído negro e deixando que se desfaçam no palato.

 

 

 

Tags:

 

"Im Labyrinth der Dunkelheit ..."

 

É estranha, a sensação que parece alimentar o retiro da cumplicidade. Como nos olhos muitas vezes se reconhece a ténue linha que separa a emoção da descoberta de semelhanças. Apetece romper essa frágil linha com um longo sorriso e uma discreta vénia. Talvez essa cumplicidade seja revelada naquele estalar de dedos de alguém de outros tempos, quando  dentro de si se acendiam a luzes do entendimento. Sim. Creio que algo tão colossal como a descoberta da existência de cúmplices pode esconder-se naquele sonoro estalar de dedos. 

Perfeitamente.

A cumplicidade é a química das químicas. O ingrediente que define portentos. O toque final que justifica o abraço, o beijo infernal e aquele meio sorriso que irremediavelmente me fascina os sentidos.

Onde o pensamento descansa as cumplicidades não são apenas as suas. São a companhia para caminhos onde gosta de se perder e saber não estar só. É afinal, a hábil mentora daqueles traços que tornam embriagadas apenas aquelas, muito raras criaturas, que mesmo em águas profundas não se esquecem da graciosidade de quem bebe para esquecer continuando a dançar virtuoso.

 

Tags:

"Alles wird in Flammen stehen ..."

 

Reconheço a saudade da sua escrita. Aparece, por vezes, de mansinho como uma fugaz chispa num qualquer canto da consciência. Creio ser algum pedaço de amargura pessoal, pois gosto de me afastar dos locais e das pessoas que em alguns momentos, significaram algo para mim. Que, ainda por breves instantes gratificantes, partilharam pensamentos escritos comigo.

É minha a culpa. Por pensar sempre que o silêncio se revela a maior das homenagens e a distância a melhor das fábulas de encantar - como se em certos momentos precisos como um relógio de Deus, a minha existência fosse a de outra criatura que me fala aos olhos e dos seus punhos as palavras fossem pernoitar onde procuro alimento raro.

O afastamento e a noção da preciosidade deste silêncio são algures o beijo de Judas, porque se perdem noções e companhias de batalhas, muitas delas escritas a fogo fátuo. Por vezes impacientes e extremas.

Esta é uma saudade diferente. Cinza, como quem visita um local abandonado. De quem bebeu nas palavras e cerrou os olhos esticando a mão para ser guiado por outras temperaturas, muitas vezes menos sombrias do que a minha fraca arte de sentir. 

É a saudade com sabor a malte e abandono, ainda assim. Pelas palavras escritas onde a alegria era rasgada, nua ficava uma estranha e sombria fragilidade ajoelhada com o peso de uma qualquer mágoa que eu desconhecia.

Demasiado humana. Uma luz vermelha entre muitas palavras.

 

 

Tags:




Arquivo

  1. 2024
  2. JAN
  3. FEV
  4. MAR
  5. ABR
  6. MAI
  7. JUN
  8. JUL
  9. AGO
  10. SET
  11. OUT
  12. NOV
  13. DEZ
  14. 2023
  15. JAN
  16. FEV
  17. MAR
  18. ABR
  19. MAI
  20. JUN
  21. JUL
  22. AGO
  23. SET
  24. OUT
  25. NOV
  26. DEZ
  27. 2022
  28. JAN
  29. FEV
  30. MAR
  31. ABR
  32. MAI
  33. JUN
  34. JUL
  35. AGO
  36. SET
  37. OUT
  38. NOV
  39. DEZ
  40. 2021
  41. JAN
  42. FEV
  43. MAR
  44. ABR
  45. MAI
  46. JUN
  47. JUL
  48. AGO
  49. SET
  50. OUT
  51. NOV
  52. DEZ
  53. 2020
  54. JAN
  55. FEV
  56. MAR
  57. ABR
  58. MAI
  59. JUN
  60. JUL
  61. AGO
  62. SET
  63. OUT
  64. NOV
  65. DEZ
  66. 2019
  67. JAN
  68. FEV
  69. MAR
  70. ABR
  71. MAI
  72. JUN
  73. JUL
  74. AGO
  75. SET
  76. OUT
  77. NOV
  78. DEZ
  79. 2018
  80. JAN
  81. FEV
  82. MAR
  83. ABR
  84. MAI
  85. JUN
  86. JUL
  87. AGO
  88. SET
  89. OUT
  90. NOV
  91. DEZ
  92. 2017
  93. JAN
  94. FEV
  95. MAR
  96. ABR
  97. MAI
  98. JUN
  99. JUL
  100. AGO
  101. SET
  102. OUT
  103. NOV
  104. DEZ
  105. 2016
  106. JAN
  107. FEV
  108. MAR
  109. ABR
  110. MAI
  111. JUN
  112. JUL
  113. AGO
  114. SET
  115. OUT
  116. NOV
  117. DEZ
  118. 2015
  119. JAN
  120. FEV
  121. MAR
  122. ABR
  123. MAI
  124. JUN
  125. JUL
  126. AGO
  127. SET
  128. OUT
  129. NOV
  130. DEZ
  131. 2014
  132. JAN
  133. FEV
  134. MAR
  135. ABR
  136. MAI
  137. JUN
  138. JUL
  139. AGO
  140. SET
  141. OUT
  142. NOV
  143. DEZ
  144. 2013
  145. JAN
  146. FEV
  147. MAR
  148. ABR
  149. MAI
  150. JUN
  151. JUL
  152. AGO
  153. SET
  154. OUT
  155. NOV
  156. DEZ
  157. 2012
  158. JAN
  159. FEV
  160. MAR
  161. ABR
  162. MAI
  163. JUN
  164. JUL
  165. AGO
  166. SET
  167. OUT
  168. NOV
  169. DEZ
  170. 2011
  171. JAN
  172. FEV
  173. MAR
  174. ABR
  175. MAI
  176. JUN
  177. JUL
  178. AGO
  179. SET
  180. OUT
  181. NOV
  182. DEZ


topo | Blogs

Layout - Gaffe