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A luz que clarifica a mente é fugaz - tão breve como aquele precioso momento em que os olhos se cruzam e a certeza, essa eterna fugitiva, entra de rompante! Sem aviso. Sem presságios de sorte ou azar. Chega. Apenas isso.

Pode ser uma mensagem ou uma acção. 

Ou então uma presença na hora exacta em que a mente se desprende de tudo. No preciso instante em que anos de vida se conseguem comprimir nos minutos em que, tudo conjugado, se consegue criar a alquimia suprema, ainda que isso signifique, aceitar que chega, o fim é necessário.

E está em frente aos olhos. Subitamente radiosa. Intensamente gigante. Impassivelmente pura. Cega. 

O muro deixa de existir para este clarão. Fica desfeito em segundos e com este pulverizar a nossa verdade passa a ser a sua.

Existem iluminados que abrem os braços a esta epifania como Amor. E são tantos! Todos eles cobertos de certezas.

Eu não. E creio que deveria lamentar. Mas eu não. 

Eu nunca acreditei neste luzir como Amor. Não. 

Porque sempre me consumiram paixões que quero raras - porque me esgotam e me atiram para águas sem fundo. Não é Amor. Não pode ser.  

É demasiado lancinante quando um corpo se une a outro. E sempre acreditei, serem estes os momentos raros e preciosos onde consigo tocar algo que se aproxima perigosamente de uma intensa e estranha chama divina, que se esconde dentro de mim.

Como pode uma presença eclipsar todas as fibras de defesa mental ainda me custa conceber. Como podem os dias frios respirar um calor tão intenso que se torna patético aos meus olhos, ainda hoje quero uma resposta.

Talvez eu esteja errado e sem retorno possível. Talvez afinal este seja um outro Amor. O meu. Que gosto de afogar na minha paixão quase obscenamente carnívora. O meu. Que alimenta as minhas esperanças.

Enquanto recolho a semente de tantos orgulhos dobro o joelho e baixo a cabeça.

Vale a pena. Por esta luz que aclara a mente. Mesmo que fugaz tantas vezes, respira-se em união.

 

 

 

 

 

Eu ...

Norte ...

 

Gosto, nos meus caminhos, de preservar a capacidade de observar outras atmosferas que não me pertencem. É demasiado fácil para mim erguer os olhos para a frente e esquecer-me de outras latitudes. Erros que cometi antes, quando decidi aceitar decisões sem proferir uma palavra, porque, miseravelmente, achei ser mais sóbria a distância. E a neutralidade depressa se confunde na espessura da indiferença - fico sempre naquele crivo das criaturas que padecem do travo amargo dos que, afinal, nada, rigorosamente nada ganharam.

Mas ficaram pequenas faíscas que apenas servem para me atormentar certos dias pelo corte exímio da Navalha de Ockham, reconheço que certas perdas são irreparáveis ao ponto de provocar sabor a remorso. Aprender é demasiado doloroso para mim e a tentação de permanecer em doce ignorância ajuda a carregar certas verdades.

Por isso banho-me em ti, nas tuas palavras e atmosferas, como panaceia para me assegurar que não estou realmente só neste oceano. E porque não são necessárias explicações, nem sequer menções de honra, caminho ao teu lado, sentindo-me em casa.

Mesmo sendo um fantasma para ti, ando contigo.

Por aqui bate muitas vezes um vento agreste e esta minha paixão pelo frio nada tem de inocente, sabes. É que o gelo é um mestre e senhor no sono dos dolorosos, porque cala os verbos e fecha os olhos ao que nos rodeia; mas não tolera o esquecimento e se não fores hábil nas tuas paixões, se permitires, mesmo que brevemente, que esta aragem fria te beije sem que fujas, nunca mais deixarás de conhecer os cantos mais escuros, aqueles onde habitam as sombras daqueles que saíram e não voltaram, da solidão de quem não consegue encontrar o caminho de casa.

Isto não é um lamento aos ventos. Antes o saborear da tua arte menos sombria e escura. É antes o teu olhar e a tua melodia que respira cintilante.

Mesmo fantasma, ainda ando ao teu lado.

 

 

 

 

E depois!?...

Eu gosto da tua escuridão. 

Desse rir despreocupado que  afirma que tudo irá ficar bem. Que não devo escutar o som dos trovões que se aproximam. Que no final do dia todos os estilhaços espalhados voltarão a ficar unidos. Vale a pena estar vivo!

Mesmo sabendo que a reconfortante luz a transpirar no fim do túnel, como se  fosse uma doce recompensa, mais não seja do que o farol de um comboio a alta velocidade, consigo sentir-me bem ... Por momentos.

Este é o perigo de quem deixa o pensamento vaguear por outras estradas e abismos mais iluminados; perder a visão da porta de saída quando estamos nos últimos degraus.

Por breves instantes mergulhar nas tuas ilusões e palavras.

Num pequeno inspirar, aspirar a tua suave escuridão com os seus clarões de luz.

Sem sombras.

 

 

Pior do que um vulgar símio num planeta de macacos é sobreviver 38 anos e vir resvalar num vulgar e reles imitador.

Porque nada se revela mais deprimente do que o macaco de imitação que jamais conseguirá superar o seu Pai.

Nada, mas mesmo nada consegue ser mais hilariante para quem, como eu, tem fraco humor, do que o símio revelado cretino, ardentemente necessitado de fama, e principalmente, nada é mais passível do meu desprezo, do que o macaco ignorante que se transforma num estupidamente ignorante!

Que não se confundam outros macacos deste planeta: Um idiota confuso em ideologias irá sempre conduzir a ditaduras que se iniciam na perseguição selectiva de uns, mas irão sempre e inevitavelmente, terminar no amordaçar de TODOS!

O perigo de certos primatas de imitação, cretinos de inefável falta de ciência, é exactamente sonharem com a noção de esmagamento do individualismo em nome da merda das "pessoas de bem"!

NÃO!

VÃO À MERDA!

 

Por vezes consigo pressentir-lhe o cheiro entre as correntes de ar que habitam entre nós. Mas depressa se evaporam as últimas réstias e sabores da minha boca. Porque se tratam apenas de reflexos de promessas feitas e nunca cumpridas. São como aquele toque final no truque que o mágico, uma vez mais, falhou.

Ficam apenas as intenções. As falsas noções de segurança e salvação.

Nunca  saberei o que dizer a quem promete e não cumpre. Entre a piedosa mentira e o conforto da desilusão e abandono nos últimos instantes da tempestade, creio que a distância se mede facilmente: Em metros de solidão.

E eu já reparei que a expressão mais dolorosa de olhar para uma promessa de companhia nos dias em que tudo está cego, surdo e mudo, se revela afinal, um fogo fátuo que pode muito bem aniquilar ou então, fomentar a semente do Orgulho.

Abana-se a cabeça diante deste Orgulho - monstro que vocifera impiedades, veneno que eleva a arrogância e a presunção!

Mas as longas conversas polvilhadas com a promessa solene de um ombro de apoio, trazem sempre consigo aquele travo insalubre da mentira. Reconhecer este sabor pode levar anos e por isso vai corroendo a alma e assassinando lentamente.

Enquanto vamos ficando mais sós. Reconhecendo o mundo como o que realmente é...

Ermo.

 

 

(999)

....

"É preciso ter o Caos dentro de si para gerar uma estrela dançante."

Friedrich Nietzsche

 

Existe um elemento vital nessa beleza que a torna quase etérea aos meus olhos. Seria melhor para mim aceitar este facto e sentir toda a alegria do olhar e da presença.

Mas não. 

Porque sou como um pesado Urso olhando pelas franjas da minha falta de jeito a sinuosa Pantera que parece caminhar sem chão, leve e quase arrogantemente displicente. Como se eu fosse uma rocha incapaz de algo que não seja força. Força para me mexer. Esforço para me levantar e erguer o queixo. Forçar à força.

Por vezes fico cristalizado na minha própria decadência. Rendido ao instinto primário de quem olha impotente, incapaz de outro gesto de salvação que me ajude a dispersar a magia de certos momentos, que sei perfeitamente serem únicos e nunca mais reproduzidos. 

É parte fundamental do olhar não deixar que se esqueçam gestos que parecem pertencer unicamente ao cardápio de certas criaturas talvez não humanas; como se tais gestos fossem propositadamente expostos aos meus olhos cansados para despertar em mim a frustração. 

Os meus sentidos descrevem, sem alarido, a esquemática dessa beleza, quando ela se inclina com a velocidade do vento e apanha o copo de vidro em pleno ar, antes deste se desfazer no chão, colocando-o, quase sem interesse, de novo em cima da mesa, enquanto com a outra mão suavemente puxa o cabelo longo e denso para trás de uma orelha.

Neste momento raro e único, nos gestos felinos e estranhamente silenciosos, se humilha a força. No sorriso rasgado de quem sabe dos seus caminhos, na mais perfeita noção do medo masculino: A confirmação do equilíbrio mecânico do corpo quase imponentemente belo aos meus sentidos, com a inteligência que transpira daqueles olhos intensamente femininos, que transforma tantas vezes a criatura que é o masculino. Fraco e desajeitado. Inábil.

Permaneço tantas horas neste absurdo estado de embriaguez enquanto vou solicitando mais e mais reservas da minha rendição, sento-me ao seu lado enquanto dorme. Vigilante na sombra da noite que vai longa. Sinto que respira suave porque afasto com mãos grandes, tentando ser leve como ela, os cabelos da sua face delicada, vou enchendo a minha insónia com a atenção e o medo, enquanto guardo aquele sono que não é meu mas que desejo proteger.

Do quê? Pouco me interessa naquela escuridão.

É como guardar o mais precioso e belo que tenho. É como se afinal tudo faça sentido e também exista algo de belo na ideia  da força como protecção na fragilidade da Pantera.

Não sei. 

Mas sei que nesta beleza mora a resposta para esta necessidade quase sufocante que sinto de a proteger. Mesmo sacrificando os meus instintos mais básicos. Contra a minha natureza mais elementar.

 

 

 

A esperança é velhinha. Tão velhinha que prefere esconder-se dos olhos alheios, enquanto permanece silenciosa e surda para os dias que passam, como correntes de ar que prefere evitar. A esperança é velha e doente. Fraca e caprichosa.

Mas eu gosto de a procurar nos seus esconderijos. Gosto de pensar nela nos dias em que consigo ajeitar o tempo e descansar; nestes dias preciosos porque escasseiam em mim, sento-me nesta cadeira que abana sem ruído e pergunto-me por onde caminhará esta velha  decrépita. Para o descrente pouco impressionado a esperança é um prazer raro, secretamente obsceno e escondido nas sombras da alma. Como uma presa debaixo do peso austero do predador, apenas por breves instantes respira e regressa taciturna, e eu gosto de lhe abrir a porta.

Às vezes são chaves que abrem a fechadura forjadas em estranhas alquimias; por vezes palavras escritas por punhos de aparência frágil que  transformam Universos e onde ao longe, bem distante, brilha a centelha envelhecida de uma qualquer vaga esperança.

Ou então, no mero sacudir de sombras, rompendo o silêncio, invadindo os meus espaços com o estranho néctar da companhia. É neste labirinto que mais se torna dolorosa a esperança em mim, porque se afastam as horas sombrias que amo e surgem traços grossos de luz  que vão iluminando outros caminhos. Vou abanando a cadeira assustado - porque a esperança em excesso personifica um rasgo doloroso na minha armadura.

Sentado na cadeira de baloiço silenciosa, gosto de envolver com os dedos a chávena de café  densamente negro e a escaldar, enquanto escuto os passos esperançosos, em silêncio. Temo que qualquer som a faça abandonar-me para sempre. Receio não conseguir regressar à nostalgia de me sentar ao teu lado, junto ao mar, enquanto escutas o murmúrio das minhas notas retiradas do catecismo de sombras que tanto amo.

Nestes minutos raros e únicos no seu sabor sou um animal agachado que sente a leveza em cima dos ombros, ainda que sejam apenas breves momentos, deixo que sussurre ao meu ouvido as suas preces e feitiços.

 

 

A Morte em si nunca deveria ser temida. Um fim absoluto e sem retorno que não conseguimos vencer  porque se trata de uma inevitabilidade pragmática, cruelmente absoluta, implacável. É interessante, conseguir que o pensamento se unifique na órbita da inevitabilidade da Morte. E Estranho, que na Morte tudo se desfaça nos fumos amargos do Nada.

Talvez a Morte, ainda assim consiga trilhar as  estradas de mão dada com a eternidade, nessa maldita sina que nasce em nós, porque insistimos em recordar ideias, gestos e vozes; talvez a eternidade bata como batem os corações, pela incapacidade que temos de esquecer os que foram, e pelo sadismo pessoal de não deixar espaços vazios por preencher.

Temos medo do vácuo  da morte em nós. Creio.

A eternidade que inventamos desde a primeira golfada de ar é uma corrente de pensamentos entre cheiros e visões. E somos tão escravos dela! Somos tão indefesos às suas garras.

Porque é desta incapacidade para rasgar este acordo forçado com a eternidade imaginada pela mão da Morte, que nasce daquela criatura outrora resplandecente na sua teoria de felicidade em conjunto com uma outra, a  tragédia  de imaginarmos o para sempre. Como se justificam eternidades quando a outra criatura morre sem aviso? Como se justifica o mais profundo Vazio na alma, quando a  felicidade se esbate na orfandade? Onde  estão os poetas, os bardos da eternidade, quando se entra na casa, antes rodopiante de sons e estalar de gargalhadas, se percorrem corredores, se abrem portas de quartos e tudo está silencioso? Quando  sabemos exactamente onde vão jorrar os primeiros raios de sol da manhã, como estão alinhados os livros preferidos, como está inclinada a cadeira para o café da tarde.

A eternidade é mais dolorosa do que a Morte. Quem se apaga deixa em seu lugar o sabor sorumbático da solidão mais extrema, que nos força ao desespero de caminhar nas mesmas rotinas, estranhamente, devorando a nossa quietude.

Talvez o pior não seja a Morte. Talvez a dor não sejam as  escarpas onde perdemos a Voz do Fadista. Talvez o maligno sobreviva antes no peito de quem fica e recorda. Na falta de esquecimento de expressões e contornos.

Pode ser que Sam Harris esteja certo porque todos nós iremos sofrer a perda de alguém demasiado importante na nossa existência. E se calhar, por causa desta nossa incapacidade de aprender como os erros, insistamos na ideia de uma outra vida para além desta. 

E por isso decidamos não viver.




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