Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
- " É apenas um beijo," - disse-me. Um beijo normal, todo feito de lábios e pele, e ainda um pouco de língua. Mas mesmo assim não evita uma observação atenta, tão instintiva em si, de um traço de sorriso muito difuso que corre no meu rosto, com uma afirmação convicta da certeza da existência de um outro brilho nos meus olhos, diferente do normal.
E depois desse beijo, apenas um beijo, disse-me, observa, com precisão astuta, apenas possível em raras criaturas, o meu esforço para me erguer, desajeitado, embaraçado, e a minha insolência de novo presente, como um Homem de ombros firmes e queixo erguido, de novo recordando a Arte do Orgulho de quem deve caminhar direito, e acaba por descobrir ainda melhores processos para a professar melhor do que qualquer outra pessoa.
Adivinha em mim como vibram os pensamentos, porque aspiro o seu perfume, onde foram abertas portas e como voltarão a ser encerradas. Bebe, sedenta, os meus silêncios, em tragos insatisfeitos, não imaginando que aquele beijo não é apenas um beijo para mim. Tem sempre um sabor intenso a desconhecimento, como caminhar na chuva gelada e eu nada saber disso. Mesmo que saiba da sua capacidade em obrigar a minha alma a dançar no Caos mais absoluto, não imagina como é pequeno o peito para conter o meu êxtase mais predador.
Abro os meus olhos em frente aos seus. Os meus, cientes da dimensão dos seus, que são Cósmicos.
De novo desejado. Abrigado. Falsamente indiferente.
" He will endure or be forgotten"
“Existem tantas noites quanto dias, e cada uma dura o mesmo que o dia seguinte. Mesmo a vida mais feliz não pode ser medida sem alguns momentos de escuridão, e a palavra feliz perderia todo o sentido se não fosse equilibrada pela tristeza”. - Carl Jung
Hoje, genuinamente tenho saudades. De verdade que hoje esta nostalgia, esta falta, se escreve dolorosamente em mim. Gostaria tanto de sentir o sossego das palavras certas que me garantem o caminho mais certo, entre as promessas que não desfaço e a ânsia de mais um dia que passou. Mesmo que sejam um castigo, estes labirintos em que insisto, teimo, caminhar, a maior punição chama-se saudade. Cinicamente. Saudades e nostalgias.
Mas é estranho, por vezes gostaria de saber até onde conseguiriam chegar as minhas lágrimas, que sempre me afirmaram serem senhoras de muito consolo. E não consigo verter uma que seja! Não são nada. Nada! Nem sequer um raio na noite, por mais pequeno que fosse.
Mais estranho, são demasiadas as vezes em que nestas saudades e nestas recordações, mesmo tracejadas dolorosamente, encontro uma profunda expressão do meu Amor por algo; mesmo pela minha mais áspera incerteza, entre o aperto desta emoção, é mais fácil para mim dizer que te amo. Bizarro e estúpido, mas todos somos animais de odes singulares. Um monstro não é igual a outro. Isso e apenas isso.
Sei ainda de odores e sabores, de olhos e sons únicos, não iguais a outros. Também aqui somos bestas diferentes. Também aqui poderia escrever-te o meu Amor.
Isso e apenas isso.
JOHAN BARRIOS
Por vezes, nestes últimos tempos, ainda que cada vez mais raramente, ainda consigo deixar que um certo espanto consiga atraiçoar-me os dias. Não deveria acontecer, sei disso. Mas porque sou uma criatura pouco inteligente, às vezes olho para baixo e o espanto surge.
Veja-se o caso deste local de desvairos: espanto-me, sem apelo, na necessidade de continuar a ser fustigado por comentários onde, pura e simplesmente, rudemente, me são afirmadas imediatas necessidades de encerramento deste blog. Talvez tenham razão. Mas mesmo que essa possível razão exista, abre, desde logo, um sério problema para mim: eu não gosto de imposições! Muito menos tolero ser forçado a algo sem que eu possa decidir também. Possivelmente, um defeito meu. Ou se calhar não. Talvez me irritem as criaturas que, na sua própria tristeza, pretendem qualquer influência por estes lados.
Porém, até acabo por transformar alguns comentários e outras mensagens, em tubos de ensaio de estudo humano; parcas migalhas de pobreza travestida em moral, e principalmente, a arrogância imbecilóide que se outorga a si mesma a ilusão de me conhecer.
Apenas alguns exemplos ...
" ... não tens sentido de humor, és seco e sem graça...",
Em meu abono, se não for muito incómodo, gostaria de afirmar apenas que não consigo evitar o riso quando leio isto. Mesmo sem gargalhadas, devia contar como um pouco de humor ... Não? E não sei se tenho graça, embora haja quem já várias vezes me garantiu que até sou gracioso e capaz de gracejar com muita leviandade. Pode ser porque gostam de mim e não querem magoar-me? Já agora, seco só se for porque tenho pouca ou nenhuma massa gorda em excesso, o que me dá um ar meio bárbaro, aspecto que sei ser pouco apreciado por certas elites. Lamento.
" ... há escuridão e demasiado culto ao que é escuro. Deveria mudar o grafismo deste local..."
Presto culto ao que me interessa. Por isso, uma pontinha de orgulho pela sua ignorância. A imagem deste local foi recriada por uma pessoa que, por razões que ainda desconheço, conseguiu "entrar" na minha consciência por breves instantes, suficientes para tornar este local num espelho. Por isso, ficará enquanto eu ficar. Ou, mais uma vez, decidir o que quero mudar.
" escrita depressiva e incapaz de alegrias ..."
Se é esse o ponto, continuo sem entender porque regressam. Creio que pode ser um acto de reflexão, em que certas palavras são recortes na nossa própria banalidade e por isso somos incapazes de entender o que que aqui se escreve? Será muito complicado? Poderá ser esquecimento quanto ao facto deste ser um local pessoal e não deve satisfações a nenhuma outra criatura?
Uma vez mais repito-me: o afastamento pode ser uma arte de fuga. E não tem de, necessariamente, ser uma covardia. Partir para locais mais arejados, cheios de luzinhas e viagens que nunca se concretizaram, pode ser o bálsamo necessário para menos atrocidades que certos comentários e mensagens persistem em comungar.
“É a autoridade, não a verdade, que faz a lei.”
THOMAS HOBBES
///
O perigo reside na incapacidade de aceitação de toda e qualquer noção que se desvie da norma habitual, estabelecida, gravada, imposta, em nome de um bem comum. É como se, subitamente, todas as ideias de livre-pensamento, livre-arbítrio, fossem remetidas para um canto de condenação, enquanto se vão impondo trejeitos, gestos, pequenos esgares de quem governa, em nome de uma retórica de felicidade, protecção, e principalmente, bem-estar colectivo. Porque é disso mesmo que se trata: imposição pela incapacidade de reagir, pelo medo da Morte, e porque é desesperante ser forçado a sair de uma zona de conforto imaginária, deixar a rotina prevista dos dias, mais se torna necessário que sejam outros a agir por nós.
Na raça humana, nunca será possível a convivência sem Ideologias Autoritárias. Porque são a cola das sociedades, esta imposição forçada de limites, confinamentos e máscaras que nos retiram o reconhecimento. Temos uma necessidade ancestral, infantil, frágil, da protecção dos outros. Necessitamos de aprovação e conformidade. Por isso, qualquer expressão de individualidade, vontade de escolher, que se oponha, suscita uma reacção opressiva e tirana.
Não existe realmente, uma ilusão nesta incapacidade de agir sós. Pouco importa a mais grotesca distorção do conceito de Ciência que deve sistematizar o questionar de si mesma, quando esta, por estes dias, se tornou divina e inquestionável - mesmo que padeça das dores da contradição -, é impossível qualquer pensamento remissivo, porque esta "nova Ciência" caminha a passos largos para um estado de graça que a tornará dogmática e sacrossanta. Contra todas as virtudes da dúvida e do questionar mais básico.
Não deveria ser necessário insistir na ideia de liberdade pessoal, mesmo que essa nunca seja total. Nem sequer seria necessária a insistência na virtude pessoal de escolher o que queremos ou não dentro do nosso corpo, mas porque se trata de uma "democracia", a maioria consome a minoria, e porque essa "democracia" nada mais é do que uma forma benigna da ditadura mais cega, é absolutamente essencial manter acessa a virtude do individualismo, porque sabemos como se tornam fáceis as cerimónias de marcha a passo de ganso e saudação de braço levantado ou as revoluções vermelhas de aniquilação colectiva.
Somos todos culpados. Todos!
Porque somos incapazes de manter a nossa privacidade, porque temos uma fome tão intensa de protagonismo, depositamos nas tecnologias de comunicação a nossa confiança mais cega, por isso seguimos tudo o que está dito e escrito como um guia de sobrevivência, ao nível mais alto da imbecilidade. E talvez seja merecido. Afinal, Roland Barthes tinha razão: o Fascismo não consiste em impedir que as pessoas falem. Antes pelo contrário, consiste em forçar as pessoas a falar. E são as redes de comunicação com toda a extracção de informação pessoal, propaganda ideológica, e falta de privacidade, muito mais precisa do que a linguagem, que, sistematicamente, se revelam a base perfeita para doutrinas totalitárias.
É no som do Flautista de Hamelin que se justifica a "guerra de todos contra todos" de Hobbes e o nascimento dos extremismos.