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Norte...

Eu estou vivo, sabes? E talvez isso signifique, afinal, que exista em mim um potencial infinito. Vou ficando apaixonado pela ideia de poder fazer tudo e sonhar com tudo. Talvez pelo segredar, quase erótico, da palavra mudança: e que a  distância não signifique uma nova corrente fechada no meu pescoço.

Gosto disso. Gosto. Inexplicavelmente. Como o calor de um corpo nu que me aquece no regresso da solidão. E sinto-me extraordinário! Capaz de ouvir os ecos das margens que cantam, celebrando, aqueles pensamentos que me apaixonam sem noção. É quase uma serena justificação para este gostar. Como se fosse possível, nos meus limites, justificar porque gosto disso. Inexplicável.

Creio que seria necessária toda a minha prudência enquanto fosse desfiando alguns segredos, sussurrados em conspiração ao teu ouvido e escutar silencioso, talvez porque não acredite no amor que mora no mundo dos Sonhos; talvez faça mais sentido para mim que esse amor seja um escravo do Desejo, e sei como os Desejos conseguem ser cruéis.

Pouco importa.

É nas distâncias que me sinto realmente vivo. É quando caminho para longe que, siderado, consigo justificar o fogo mais intenso dentro de mim, a vontade quase caótica de possessão física, carnal, de outro corpo, num ritual pessoal de animalidade inconsciente. É doloroso o desejo por fragmentos do prazer de outro. É aceitar a sina de quem tenta a distância apenas para justificar a necessidade do regresso.

E como explicar isto? Querer o teu olhar em mim, enquanto afastas a pele do animal, longe dos sentidos de monstro, talvez tu conseguisses passar a tua língua quente na minha memória, nas minhas Sombras, e sentir outras cores. 

... Talvez.

 

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Lembras-te, nas raras vezes em que a minha ousadia se atreveu a romper o silêncio? Quando tudo o que escrevia eram sombras, escuridão e abismos, tu, quase branda, nesse teu acreditar num mundo melhor, aceitavas os meus trejeitos lúgubres, talvez porque, no fundo, me achavas estranho e perdido em algo, e incapaz de me submeter a essa racionalidade que insistes ser a tua maior força.

É estranho, para mim, agora, provar o ácido do teu pessimismo, sentir-te entre as tuas sombras e medos. É estranho porque te desconheço forças para caminhares orgulhosa nestes dias onde a Ordem é o Caos organizado. Mais estranho, porque nada sei das tuas lâminas de sobrevivência, mas pressinto o teu espanto perante um mundo feito de horrores sombrios, buracos sem sol e bestas cegas.

Poderia romper o silêncio porque sei que sempre tive razão. 

Mas não. Não é isso que eu quero.

Também não quero testemunhar-te incrédula. Muito menos escutar a tristeza a escorrer pelas agruras da tua dúvida, enquanto se vão esmagando os tronos dourados da paz e da consciência.

Para isso estou cá eu. Sobrevivente da explosão. Pregador da Queda. Incapaz de confiar no mundo.

Não.

De ti, quero o pequeno, longínquo e frágil raio de luz, que vampirizo para caminhar entre sombras. Quero que sejas diferente, mesmo que sintas ser uma idiotice plena a confiança nos outros; mesmo perante a evidência da minha razão e cinismo, quero que me arrastes por outros labirintos. Quero a tua companhia e que sintas o sabor da textura das minhas escarpas, da persistência da tua preocupação contra a minha lógica. 

Ofereço-te um catecismo de um perdão que me esqueci. Perdido. Um poema amargo sobre as cinzas deste mundo. Um fim sem fanfarra.

Oferece-me a tua esperança. Mesmo que seja uma bofetada no meu rosto orgulhoso. Um fragmento a cintilar junto ao abismo.

É isso. 

Um rasgo apenas. Uma fenda. Uma saída. Mesmo que tenha o sabor da ilusão e do sonho.

 

 

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