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Atmosferas são como pessoas. Reconheço uma intensa paixão por pessoas atmosféricas, que oscilam por ventos agrestes caminhando por labirintos gelados, e por fim, por fim, deliciosamente se tornam suavemente cálidas. Estas criaturas são pactos de um sangue atmosférico, cruelmente dotadas daquele vigor sanguíneo cuidadosamente calibrado para forçar a paixão mais bruta e crua. Nunca nos amam por pedaços. Nunca pretendem a nossa mudança. Conquistam a nossa totalidade. Absorvem a nossa sombra de braços abertos. Bebem de tempestades. Das nossas agitações e espasmos.
Amo-as.
Intensamente.
Em raiva.
Essas atmosferas são como um arrebatamento em delírio que respira em nós. Algumas, serão as que desejo ver nos últimos instantes de uma existência sombria, as mais belas e brilhantes, as mais violentas e lacerantes.
E nesses últimos instantes, antes desse Nada absoluto, em egoísmo, vou desejar guardar toda a beleza dessa brutalidade, toda a salvação desses braços que se abriram para mim.
(Fleuma)
Aquele preciso instante de lucidez que nos torna loucos.
Falou comigo com a violência sôfrega que o tempo memorizou em si, consagrando olhares e silêncios. Nos ouvidos embrutecidos soaram os caminhos dos riachos com que tantas e tantas vezes sonhei no passado!
Gosto de me ajoelhar junto a ela, reconhecer-lhe a pele perfumada, deitar o meu tronco nas suas pernas enquanto os seus dedos longos e suaves varrem o meu cabelo.
Gosto.
Silencia os meus torpores noturnos enquanto lhe ofereço a minha quase desconhecida tranquilidade, um brotar animalesco de quem se abriga de tormentas procurando permanecer ali, imutável, inerte, sem mover um músculo. Algures, entre o gelo e o calor fogoso do seu corpo, entre o lobo e o corvo, a sua canção consome o meu ódio, as minhas fraquezas, sossegando os meus dias.
(Fleuma)
Gosto de ruminar sobre a luz das estrelas com ele.
Estranho.
Pressinto sempre que sabe muito mais do que eu.
(Fleuma)
Qual é realmente a possibilidade, num dado instante, da eternidade? Ainda que por um momento de loucura? Mesmo para o descrente em vidas eternas? Ainda que sentada num último ponto de luz que insiste em desaparecer deixando apenas uma ínfima memória.
Memória.
É isso.
São os teus passos que deixam aquele sentimento de um legado perdido agora recuperado. São as tuas palavras que me recordam as cinzas de lugares perdidos.
Isso mesmo. Eternidade.
Creio que transforma o vácuo dos que já não estão comigo. Acho que esse "para sempre" é uma panaceia que tenta encher o espaço criado, como se isso fosse realmente possível. E vou vampirizando tudo o que é deixado no caminho - sempre descrente - querendo sempre mais.
Hoje escutei essa melodia distante vinda de ti.
Acordei de um sono sem memórias e foi como se tivesse regressado da Morte. Senti-me imenso! Vivo! Alinhado com o que vibra dentro de ti. Salvo. Protegido.
Estarei a ficar louco?
(Fleuma)