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"Dozer ..."

 

Nestes dias de caminho tão próximos de um niilismo que respira presságios é quase impossível encontrar essa pequena, ínfima!, luz de esperança que, teimosamente, alguns guardam no brilho dos seus olhos. Não sei que estranha alquimia encerram dentro de si. Não consigo entender de que são feitos os seus nervos, como pessimista que sou mesmo não adivinhando rotura em todos os universos, não entendo esse quase despercebido brilho de esperança. Talvez seja uma contradição que sempre parece esmorecer esta torrente amarga de desilusão com tanta vacuidade mental, imaginar esses pequenos focos de resistência no meio de tanto alvoroço e redução a Nada, e hesitar antes de voltar a olhar para o Abismo. Creio sinceramente que sim. Eu! Que sei das minhas paixões e procissões ao lado de sombras e abismos escuros, mas labirintos, onde por vezes e muito raramente, fico transfixo nestas criaturas que se encolhem no aperto do embaraço de quem se atreve a sentir esperança. Por isso me parecem leves e etéreas ao meu toque e olhar. 

E eu?

A minha esperança é outra e recuso que seja luminosa no brilho dos meus olhos. Mesmo recusando a ilusão dos que afirmam viver e sobreviver envoltos numa qualquer luz de esperança, preciso dos outros, daqueles que alimentam uma ténue confiança, escondidos como se isso fosse digno de piedade. Na minha esperança toda a sua luz é demasiadas vezes difusa, por isso gosto de a guardar para os dias de fome e desespero. Quero que seja apenas para aqueles momentos de profundeza sem irradiação.

(Fleuma)

 

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Ouroboros

(999)

Se formos atentos será fácil observar que o seu objectivo principal é continuar a viver. Manter a ilusão da necessidade de permanecer perto dos outros. Erguer-se da cama todos os dias numa espécie de ritual antigo, de outrora, antes da desilusão. Agora, neste esforço esticado e continuo, mantém a vida num compasso de espera entre os dias mais solitários, onde mais do que nunca se espelham as máculas de uma escuridão que não quer e não escolheu, mas que se estende pelo seu respirar cansado. Caminha todos os dias porque é apenas disso que ainda sabe com certeza. Mover-se. E o desespero ainda mora nessa ideia distorcida que procura uma motivação para manter a vida. Necessita disso desesperadamente porque nada do que aprendeu lhe serve de consolo nestes dias de hoje. Tudo o que antes foi uma certeza e uma crença é agora uma inutilidade obscena, um apêndice a mais e sem valor. 

Entregaria todo o seu passado neste instante pelo conhecimento de hoje, ditado pelo rigor da sabedoria desta amargura, dessas desilusões. Poder não sentir a companhia constante deste vazio. Não antecipar a necessidade de justificar mais um dia ao alvorecer com os pés fora da cama. Não girar os olhos pelo quarto e pelo resto da casa e sentir que lhe  falta o ar nos pulmões, porque o que resta parece tão pequeno...

É patético ser forçado a um poiso ermo que não quer e não desejou. Continuar a respirar. Em silêncio e solidão.

E saber disso.

(Fleuma)

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