Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A felicidade residia, tão só, em manter-se vivo.
Era apenas o simples gesto de inalar o ar (mesmo que muito poluído!) e deita-lo fora. Reflexo de um acto normal a qualquer ser que vive.
Poder sentar-se na cadeira almofadada, esbranquiçada e gasta por anos e anos de uso, ali, junto aquela janela aberta por onde entravam
manifestos dos dias que passavam, ora em raios brilhantes e cristalinos, ora em gordas tonalidades cinza.
Permanecer neste mundo à parte olhando o céu opaco. As mãos de dedos finos e ossudos, envolvendo a bengala à frente do corpo.
Ombros levantados, afogando o pescoço doente. Cabelo desnivelado e tão branco que gelava o olhar!
Nos olhos sonhadores e fixativos para um horizonte intransponível, a revelação única: não voltar a acordar.
Ali, na cadeira junto ao parapeito de pedra da janela escancarada para o lado de fora, muitas foram as vezes que o vi estender o braço para o lado . Para quê? Não sei.
A verdade é que esticava os dedos de uma mão, enquanto segurava a bengala com outra, como que atendendo ao chamamento de alguem.
Como se uma mãe chamasse pela sua cria e esta atendesse.
Perdi-o de vista. Apenas alguns dias. E fugiu-me.
Voltei ao local, à sala quadrada, já o não vi.
Só a cadeira escura e gasta lá está. A janela com o seu parapeito de pedra, fechada.