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A felicidade residia, tão só, em manter-se vivo.

Era apenas o simples gesto de inalar o ar (mesmo que muito poluído!) e deita-lo fora. Reflexo de um acto normal a qualquer ser que vive.

Poder sentar-se na cadeira almofadada, esbranquiçada e gasta por anos  e anos de uso, ali, junto aquela janela aberta por onde entravam

manifestos dos dias que passavam, ora em raios brilhantes e cristalinos, ora em gordas tonalidades cinza.

 

Permanecer neste mundo à parte olhando o céu opaco. As mãos de dedos finos e ossudos, envolvendo a bengala à frente do corpo.

Ombros levantados, afogando o pescoço doente. Cabelo desnivelado e tão branco que gelava o olhar!

Nos olhos sonhadores e fixativos para um horizonte intransponível, a revelação única: não voltar a acordar.

 

Ali, na cadeira junto ao parapeito de pedra da janela escancarada para o lado de fora, muitas foram as vezes que o vi estender o braço para o lado . Para quê? Não sei.

A verdade é que esticava os dedos de uma mão, enquanto segurava a bengala com outra, como que atendendo ao chamamento de alguem.

Como se uma mãe chamasse pela sua cria e esta atendesse.

 

Perdi-o de vista. Apenas alguns dias. E fugiu-me.

Voltei ao local, à sala quadrada, já o não vi.

Só a cadeira escura e gasta lá está. A janela com o seu parapeito de pedra, fechada.

 







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