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O gordo sentou-se no banco de ferro (que estalou ruidosamente), em frente à enorme janela de vidro transparente.

Do lugar que ocupava, podia observar a enorme pista do aeroporto, com pelo menos, 3  enormes aviões ali estacionados.

Sabia, desde logo, das dificuldades em deslocar-se. Andar alguns passos, mesmo em linha direita, era o que era. Imagine-se só, subir a escada de ferro para entrar no avião!

E depois, e isto era o pior, era ao sentar-se. Nas frequentes viagens que fazia, tinha sempre de comprar 2  lugares! Sim, porque como hipópotamo que era, nunca podia levar companhia! Aliás, qual companhia? A solidão era um refúgio e uma maldição. De gordo, diga-se.

 

Sabia, estranhamente tolerante, dos olhares e dos sussurros. Dos que torciam o nariz pelo cheiro a suor que regularmente habitava o seu corpo.

Desejava perder peso. Mil dietas fizera. Sacrifícios? Foram sem conta! Para quê?...

Mas o que  mais custava era a solidão. Estar só a todas as horas. Acordar e ser cada vez mais difícil erguer-se pelo seu esforço. Jantar. Almoçar. Só.

As horas passadas sentado a olhar para o quadrado chamado televisão. As viagens frequentes á cozinha...

 

Absorto, baloiçando o pés acima do solo, o gordo entrelaça os dedos largos. Uma grossa pinga de suor quente e salgado, escorre pela testa saliente. Os olhos castanhos estão perdidos para longe. Esquecido, subitamente, de tudo. O sol através do vido largo, trespassa o pensamento.

Por vezes, lançado num labirinto sem fim, o gordo perde-se. Mais uma razão para pôr defeitos!

Mas agora é diferente. Agora sente uma estranha alergia à vida. Desespero que se torna razão. Razão que se torna lógica. Cristalina.

 

Salta do banco com um ruido vago. Enquanto caminha em direcção ao amontoado de gente que junta na porta de acesso ao cais de embarque.

A mão direita, áspera e húmida, vai para dentro do bolso do casaco.

Nos olhos a lógica cristalina. Na mão direita, gorda e vermelha, uma pistola.

 







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