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Torna-se sintomático, em mim, esta vontade. Desde sempre. Sempre. Nunca me senti realmente á vontade com a falta de noção, que muitas pessoas têm, de que ter qualidades, não é propriamente a mesma coisa que ser virtuoso. Confundem-se as perspectivas. Atribuem-se qualidades a tudo e a todos. Até a um mero e disforme calhau da calçada.
Agarramos nas qualidades, que pensamos possuir, e nunca duvidamos delas. Mal ou bem, os outros podem ter as suas qualificações, mas as nossas serão sempre melhores. E mais, se querem uma demonstração dessa nossa percepção das coisas, nunca o fazemos com suavidade. Com moderação. Não. Vem em enxurrada. Varre tudo! Porque só afogando os outros poderemos reinar. Bizarro prazer. Diga-se.
Pessoalmente, acho que as qualidades demonstradas de forma excessiva, gratuíta ou em torrente, apenas servem para desprestígio pessoal. Fica sempre um sabor amargo no que demonstram. Algo diferente. Como se o esforço para demonstrar tanta virtude e "boa onda", fosse apenas uma capa. Para esconder exactamente o contrário do que aparentam ser. E porque razão haverá necessidade de tão veementemente defendermos as nossas qualidades? Não nos incrimina, este facto, de tentarmos esconder as nossas fraquezas exagerando as nossas virtudes?
Alguém me afirmou, que quanto mais valorizamos as nossas qualidades, menos valor temos. Como criaturas idiotas e imperfeitas que somos!
Se calhar, reside aqui, em apenas uma palavra, o cancro que deixa a humanidade em estado podre. Ostentação. Porque acaba por ser esta ostentação que governa a nossa consciência. Veja-se: julgam-se sábios, não passam de idiotas; afirmam-se humildes e caridosos, mas não passam de criaturas orgulhosas, girando na sua própria órbita; são ferozes guerreiros, dispostos a defender morais e pessoas, mas bem no fundo, são reles covardes!
Poderia permanecer aqui uma eternidade. Mas tudo se resume ao que um ateu brilhante afirmou : " Basta acrescentarmos um sinal negativo a todos os valores que se ostentam para chegarmos àquilo que realmente são."