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Uma vez, apenas uma vez na vida, não se olhe para a escuridão como nefasta e maligna.
Na noite escura como breu não se caminha de olhos fechados e mãos estendidas e trémulas.
A luz, irmã sensível e iluminadora de caminhos, queima e derrete a fina membrana que cobre a alma. Pelo escuro caminham os que já há tanto tempo apaziguaram a sua alma!
A serpente que rasteja, nobre em intenções e maculada pelo prejuízo dos santos, apenas faz companhía ao gato negro. Astuto e maravilhoso ser que vê para além da visão. Que na noite escura caminha silencioso. Ciente da sua estranha magia.
O amor torna-se pleno e sonhador na escuridão densa.
A luz, desperdiçada pelo dia e tão venerada pela clareza dos traços, mais não é que cegueira que provoca as rugas severas dos santos.
Caminhar por uma qualquer eira, no escuro agreste e húmido, sentindo apenas os paços de botas que pesam, é verdadeiramente, estar em união com a existência pessoal.
Residem nos traços negros da noite as notas que fazem vibrar a alma do sonhador. Onde caminham os pecadores deste mundo ingrato e servo?
Por onde regressam os que pensam, afastados da luz, que a verdadeira felicidade reside na noite? No escuro.
Poetas e filósofos assim amaram. Os que que anseiam pela pedra filosofal que trará o conhecimento eterno, alimentam a escuridão.
Tento apenas uma vez. Apenas uma vez na vida. Ver de olhos fechados. Com a alma.