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Lembras-te? ...
" ... é tarde de mais,"
" ... chegou ao fim, já não aguenta,"
" ... acabou,"
Afinal, quem terá rido por último? ...
Disse-te ... não, afirmei-te com toda a sinceridade, que estaria ao pé de ti. Sempre. Fosse pelo que fosse. Tivesses razão ( e muitas foram as vezes que não a tiveste) ou não. Lembro-me dos teus primeiros passos, pela solidão. As vezes que te ajudei a erguer do chão. Engraçado! Um mendigo tentando ajudar outro ...
Merda, até me lembro da nossa primeira bebedeira! Tão borrascas que estávamos! Nunca mais voltei a rir como nesse dia.
Quando coloquei a gaze em volta do pulso que golpeaste, desejei bater-te. Pelo desperdício humano. Porque tantos merdas respiram e tu querias seguir por outro caminho.
No teu choro, estive lá. Juntos, a um canto. Disse-te que comigo, não morrerias. E tu sorrias e repetias, sempre, que pelo menos só nunca estarias. Por onde eu ia, tantas vezes seguias ao meu lado. Os olhos abertos, uma vontade imensa de aprender. Reconheço, sentia-me menos só. Menos inútil. Até desapareceres ... E, estranhamente, fiquei alegre por ver que finalmente tinhas asas para voar. Afinal, criaturas como nós, nascem para isso, para fugir a uma falsa segurança.
Ver-te de novo não estava nos meus horizontes, já o sabes. Sou pouco amigo de esperar certas coisas. Mas que tenhas sequer pensado em ver-me, deixa-me intrigado. Segundo oiço, não sou a melhor companhia. Mas voltámos a estar cara a cara. Anos depois. Vi as marcas no teu corpo. O sorriso no rosto e a solidão nos olhos. Olha a porra da consternação! Há coisas que nunca mudam, não é? E o que fazer, quando me dizes que sabes o que é realmente solidão, desde o teu desaparecimento. E que tens tido os teus dias mais solitários, desde que me largaste a mão e começaste a viver rodeada de muita gente.
Compulsão que domina, pensamentos transbordando ânsia
Libertação sexual, em mim, tão profundamente desejada
Vem, toma nos teus olhos a minha mais preciosa possessão,
Sem objecção, com ela podes dominar-me,
Encher de luz, uma alma vazia,
Prazer corpóreo, demente dependência, esta
Poder subverter este rasgo de dor, apenas por tuas mãos,
Pelo teu abraço, paixão que me alimenta,
No teu suave calor, pernoitar
Recordações, recordam amor
Recordações que nunca morrerão
A tua excitação é doce,
Na minha pele, que treme em prazer,
Em sujeição, trémula para além da imaginação
Primitivo, instintivo, paixão pela carne
Terno erotismo, vagueando pelas minhas costas,
Até que de novo, desçam as sombras do cansaço.
O caminho feito na neve espessa. As minhas botas, pesadas, afundavam-se em neve até aos joelhos.
O brilho do gelo, sob um céu prata-chumbo, tão intenso e estonteante, fazia com que retirar os meus eternos companheiros, os óculos densamente escuros, se tornasse um de pura insanidade. Cegaria, sem dúvida.
Caminhavamos num deserto de neve, recordo-me perfeitamente. Avistávamos apenas, ao longe, árvores secas. Que depois confirmávamos estarem hirtas e geladas, com ramos que se partiam ao mais pequeno toque. E o frio! Tanto e tão cruel! Caminhar num vale tão claro e puro; e ao mesmo tempo tão tiranicamente gelado. A cabeça, tapada por um grosso gorro negro, que me cobria até ao pescoço. Apenas dois buracos, ao nível dos olhos, também cobertos pelos óculos escuros. Ainda um imenso e felpudo capuz, preso a um pesado casaco que me chegava quase aos pés! Camisolas, muitas! Pesadas e quentes. Três pares de luvas de pele, ainda assim, tanto frio!
Não havia vento, pelo menos naquela zona. E, lembro-me tão realisticamente, ao chegarmos ao sopé que nos daria passagem para o local que ansiávamos, o animal imenso que passou, largos metros à nossa frente: um veado. Plácidamente se deslocou para a frente, até à floresta gelada, ao longe. Com tal visão, tu emitiste um AH!... que só eu escutei. Eu, por baixo do gorro, só consegui cerrar os dentes num sorriso de espanto!
Por fim, chegaramos. Não era muito longe da nossa residência provisória, seria apenas o gelo que tornava o caminho tão duro.
Ficámos especados. Ali. Debaixo de um frio glaciar. A ver as ondas do mar a chegarem à praia. Bizarro. A água friada cor do chumbo, mas não gelada. A areia gelada e branca. E entre onde estávamos e o mar sinistramente calmo, uma fina e ténue linha de terra húmida e castanha, separava o gelo da água. Como uma fronteira entre diferentes universos.
Perdi a noção do tempo que lá permanecemos. Apenas o facto de que essa visão ficará cravada na minha consciência até ao fim dos meus dias.
E também ficou a vontade de lá voltar. Coisa que farei. Em breve ...
Escutei tantas e tantas vezes, dos teus lábios, esta frase, porventura premonitiva - "Amanhã poderá ser o dia. Um belo dia para morrer."
Nunca acreditaste na vida eterna. Deus e os seus arcanjos, pouco consolo te deram. Talvez porque assim te fizeste. Assim te forjaste. Num negativismo implacável. E talvez, porque acabou por ser a tua escolha. Impossívelmente cruel.
Essa manhã de sol, calor e suor, foi o teu dia mais belo. Um amanhã belo. Para morrer. Pôr fim ao que já nada te fazia viver. Vida? Lembro-me do teu sorriso. Vida? E diz o filosófo, que quanto mais se olha para o abismo, mais o abismo nos devora. Mesmo que se seja brilhante. Mesmo vertendo loucura genial em enxurrada, onde, por meus desígnios eu me afogava, escapar, nunca foi a tua decisão.
Por isso, muito por isso, passei a odiar as manhãs de sol. O calor. A luz que cega. Porque, idiota que era, achava que ninguém deveria morrer de manhã! Muito menos com luz solar! Nunca te pedi perdão, por pensar assim. Deveria sabe-lo. Poderia evitar tais pensamentos. Tu sempre foste senhor. De ti. Mestre do teu destino. Que jamais aceitou a sua condição. E quando se torna um fardo insustentável, tal condição, deixa de ser aceitável.
Então, a suposta eternidade, seria o teu inferno. Não poder escolher o dia da morte. Em absoluta e tranquila solidão.
Faz hoje anos. Cinco anos. Que achaste a manhã bela. Para morrer. Em paz.
Diz-me a verdade, há quanto tempo não nos olhávamos
Assim...
Olhos nos olhos?
Há quanto tempo não faziamos desta solidão
Isto...
Cura e vontade de sonhar, de novo?
De tudo o que nos consumia
A fogo lento...
E que depois não passou de visão torpe
E pudemos rir, face com face, nariz com nariz
Ansiando sempre ...
Por novos dias, novos começos,
Da nossa impúdica vontade, rasgando a roupa
Dormindo assim, pelo chão ...
Do teu ofuscante sorriso, da minha sombra
que por segundos se desvanece, por ti
Porque me carregas de riqueza, a alma.
Há quanto tempo, diz-me tu
Não nos sentávamos assim, trepidantes
De orgulho e segredos? ...
Anelantes e em total comunhão,
Bastando apenas que existamos?
E pelo tempo passou, mas fica esta chama
Este respeito ....
Como dois mestres se respeitam, e não passam um sem o outro
Escarnecendo do mundano, da rotina odiada
Somos ainda, abrigo um do outro...
E se o mundo não gosta,
De nós não se lembra,
Que se vá!
E volte se necessitar de memórias, as nossas
Memórias!
Desconheço-me. Não sei do que sou realmente capaz.
Algo desperta em mim onde muitas vezes deveria apenas repousar. Dormir. Sonhar.
Acontece-me. Por tudo tentar saber. Impossivel tarefa. Abissal tarefa! Mas, não sou perfeito. Creio sempre, que o homem é assim: Procura e encontra. Será? Tenho que acreditar.
Este simples acto de respirar. É pura riqueza! Isto é que se aproxima do divino. Respirar.
E tu? Não te percebo! Porque insistes em me acudir. Em permanecer a meu lado. Chorar por mim. Agarrar-me. Prender-me à terra.
Eu sou tão escuro. Odeio-me tanto. E tu fazes com que me ame? Como o consegues? Companheira de mil batalhas. Poderia alguma vez ser vassalo, não o seria de ninguém mais. Apenas teu.
Perdoa a minha insolência, mas não resisti ao que escreveste. E por isso decidi aqui transcrever, neste local que em breve deixará de o ser.
"Runa de Inverno :
Absurda e tenaz, essa tua condição
Permitir que o Inverno seja a tua Veste
Deixar que o Frio seja senhor,
Onde deverias reinar cálido!"
Não te agradeço. Não é preciso. Acabei de me ver reflectido.
Paz ...
Aqui chegaste, finalmente! Onde me posso rejubilar. Num oceano de sensação.
Tenho os sentidos distorcidos. Pejados de lágrimas dolorosas. Franquezas de que tenho feito vida. Fazes-me bem. Carregas o meu fardo. Penoso.
Amas-me desmedida. Tornas-me homem. Sentidos em chamas. E porque sou assim. Animal de sentidos. Sempre. Sempre a ver-te. Querer tocar-te. Em penosa possessão. Poder sorrir, em extâse. És a minha droga mental. A minha ebulição de sentimentos confusos. Por ti e contigo, tudo permanece. Bem. Adorável.
Porque sinto. Porque na morte tudo termina. Porque só vejo vida na sensação. Nas pontas dos dedos. Nos olhos derramando lágrimas. Nos lábios que sorvem, ansiando. Nos cheiros hipnóticos ...
E vejo cores. Como nunca vi! Longe da minha existência fugaz. Em negro vestida. Vejo-te despida e desgarrado, morro. Arrastando-me para ti.
Existem outras palavras. Verbos que me ensinas, sussurrante, ao ouvido. Para além da maldição do Nada. Tu, a mim nunca renegaste! Companheira exausta. Candeia das noites de breu. Amante terna. De encantamentos forjada.
Só por ti vale a pena viver. Perdi a fé em tudo. Mas em ti encontro santuário. Na tua serena compaixão. Que me esmaga a loucura de ser grotesco.
Em estado de ansiedade, tomas-me. Sou teu. Ainda mais do que meu...
Só tu consegues amarrar-me nos teus braços.
E só tu consegues soltar-me.
Até regressar... A ti.
Perturba-me, como consegues, com um toque destruir todos os muros que ergui,
Como com um simples sorriso, transpões o que de mais brilhante detenho,
Como, por apenas minutos que sejam, me libertas das amarras.
Amarras que lentamente teci. Amarras que se tornam areia, nos teus dedos.
Na noite, sem palavras, longe do tormento de vida
Os teus suspiros são os meus.
Corpos que se fundem e unificam. Doce tormento, terna paixão
Anseio pelo teu fulgor. Que apague a minha sede!
Nos teus lábios, vivos, animais de encantamento
Vive uma feiticeira, estranha sina, esta
Que me queima a pele, em lábios de promessa obscura... meus.
Toque sinuoso de língua, domínio sobre a minha frágil alma.
Nos teus dedos, que dançam e instigam
Mora o meu corpo, rendido
Mulher, sagaz criatura que nunca compreendi
Por ti conheço outras palavras, paixão sera?
Como me sinto longe, no teu cheiro perfumado
Em membros agitados, no amanhecer aliado meu
Pele tocando pele, inspirando prazer
Expirando paz, em convulsão.
Faz-me arder em febre, senhora do meu corpo
Dominas o que sou, porque o queres
Porque sabes que o quero, finalmente derrotado
Em silêncio, te pressinto, que se aproxima
E onde não havia palavras, apenas gestos
Não havia gemidos, mas ânsia por ti
Gritei, como tu
E os teus dedos, antes seda pura,
Cravaram-se nos meus ombros, de onde se soltou o peso do mundo
Por momentos, fugi desta casca que é o meu corpo
E o que vi, quase me trespassava o coração.
Ficamos inertes,
Tu triunfante, artesã incomparável
Eu ... mais forte, sóbrio
Sentindo que por me deixar conquistar,
Caminho mais sagaz... sem medos.