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A letargia das tardes desvanecendo-se naquele quase sono profundo recorda-me sempre, implacável e nostálgica, o sabor dos bolinhos de canela polvilhados a gosto com açúcar mascavo - bruto e escuro, entre dedos sábios e de outros tempos. O tilintar melódico da chávena negra com um colar dourado adornando a escuridão, adormecendo os sentidos, enquanto a colher metálica se apressa a misturar mais açúcar castanho com a urgência do mais negro e forte café. De grão moído na hora e de um aroma proibido. Só a sabedoria ancestral da canela parecia rivalizar com o liquido negro.
Eram tardes de pertencer. Absorvendo a gosto o principio da noite. As cores do entardecer tardio e os silêncios quebrados por cantos e assobios das aves. Das vozes que enchiam a sala, aniquilando qualquer eco mais traiçoeiro. Já nessas tardes, entre canela e café, eu explorava e observava calmamente. Como um condenado que entre tragos de liquido negro e precioso, na preciosidade de um pequeno bolo castanho, sabe da inevitabilidade das tardes que não se repetem. Únicas. Nunca mais.