Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
A Morte em si nunca deveria ser temida. Um fim absoluto e sem retorno que não conseguimos vencer porque se trata de uma inevitabilidade pragmática, cruelmente absoluta, implacável. É interessante, conseguir que o pensamento se unifique na órbita da inevitabilidade da Morte. E Estranho, que na Morte tudo se desfaça nos fumos amargos do Nada.
Talvez a Morte, ainda assim consiga trilhar as estradas de mão dada com a eternidade, nessa maldita sina que nasce em nós, porque insistimos em recordar ideias, gestos e vozes; talvez a eternidade bata como batem os corações, pela incapacidade que temos de esquecer os que foram, e pelo sadismo pessoal de não deixar espaços vazios por preencher.
Temos medo do vácuo da morte em nós. Creio.
A eternidade que inventamos desde a primeira golfada de ar é uma corrente de pensamentos entre cheiros e visões. E somos tão escravos dela! Somos tão indefesos às suas garras.
Porque é desta incapacidade para rasgar este acordo forçado com a eternidade imaginada pela mão da Morte, que nasce daquela criatura outrora resplandecente na sua teoria de felicidade em conjunto com uma outra, a tragédia de imaginarmos o para sempre. Como se justificam eternidades quando a outra criatura morre sem aviso? Como se justifica o mais profundo Vazio na alma, quando a felicidade se esbate na orfandade? Onde estão os poetas, os bardos da eternidade, quando se entra na casa, antes rodopiante de sons e estalar de gargalhadas, se percorrem corredores, se abrem portas de quartos e tudo está silencioso? Quando sabemos exactamente onde vão jorrar os primeiros raios de sol da manhã, como estão alinhados os livros preferidos, como está inclinada a cadeira para o café da tarde.
A eternidade é mais dolorosa do que a Morte. Quem se apaga deixa em seu lugar o sabor sorumbático da solidão mais extrema, que nos força ao desespero de caminhar nas mesmas rotinas, estranhamente, devorando a nossa quietude.
Talvez o pior não seja a Morte. Talvez a dor não sejam as escarpas onde perdemos a Voz do Fadista. Talvez o maligno sobreviva antes no peito de quem fica e recorda. Na falta de esquecimento de expressões e contornos.
Pode ser que Sam Harris esteja certo porque todos nós iremos sofrer a perda de alguém demasiado importante na nossa existência. E se calhar, por causa desta nossa incapacidade de aprender como os erros, insistamos na ideia de uma outra vida para além desta.
E por isso decidamos não viver.