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Jim Harrison
... E é realmente disto que se trata, não é? Das vozes interiores e da nossa capacidade de escuta, com a clareza astuta dos que vergam aos seus ecos e decidem viver por elas. Quem leu Jim Harrison sabe disso: não aprende a escutar essas vozes, porque estão em nós, em muitos, dormentes, apagadas, por um medo infantil de loucura, e que tudo se revele num caos sem fuga, mas antes, reconhece caminhos, onde talvez nem todos sejam para a lenda, talvez sejam apenas o contentamento por uma certa loucura.
Não sei.
Harrison teve essa virtude em mim.
Quando falo comigo, certamente deixo as minhas vozes graduarem as sombras, ocupando espaços. Tudo não passa de um ensaio metódico de reconhecimento dos caminhos que sempre ali estiveram, eu apenas estava cego para o recordar. E nunca é um processo finito. Eu nunca fico sossegado. Eu nunca aceito a satisfação do que escuto. Talvez seja a isto que Harrison chama loucura, esta incapacidade de ouvir e conseguir a química da lenda. Talvez a solução não se encontre nas palavras dos seus poemas ou da sua prosa. Talvez sejam antes luzes de inspiração para uma libertação que me deixa amedrontado pelo temor de não regressar. É algo em êxtase e em libertação. Algo maldito nas nossas vozes que não tem Deus nem necessidade de purificação ou danação.
Algumas vozes são a nossa profecia e caminho para o abismo. Outras são o consolo de quem saltou para um buraco escuro e fundo e regressou lacerado e ensanguentado, sabendo que não havia alternativa.
Não havia outra saída.
Fleuma,